Dez anos sem Carlinhos Rego
Texto de Ademir Tadeu
Neste ano de 2016, completam-se dez anos
de sua morte, mais precisamente no próximo dia 4 de março. Quis o destino que
numa quarta-feira de cinzas um AVC provocasse a sua morte cerebral. Três dias
depois, aos 70 anos, veio a óbito.
Nascido em Miracema, em 3 de junho de
1935, começou aqui como locutor do serviço de auto-falante e fez reportagens
para o jornal estudantil “O Federado”. Em
1957, mudou-se para o Rio e começou a sua carreira no “Jornal Imprensa
Popular”.
Logo se transferiu para o jornal “Última Hora”, onde se destacou na
cobertura das escolas de samba. A sua paixão pelo carnaval floresceu e o
Império Serrano era a sua escola preferida, que dividia com o Vasco da Gama, o
coração do miracemense. Em 1994 lançou o livro “A dança do samba”. A obra é
considerada um clássico do tema.
José Carlos Rego era membro da ABI e do
Conselho Superior de Música Popular do Museu da Imagem e do Som. Foi um dos
fundadores e integrante permanente do júri do concurso “Estandarte de Ouro” do
jornal O Globo, que premia os melhores do carnaval, desde a sua instituição, em
1972.
Durante a vigília que precedeu o
sepultamento, seu filho, Rodrigo Ernesto de Andrade Rego, leu o perfil escrito
por ele, intitulado “Missão cumprida.”
“No dia 3 de junho de 1935 nascia na
cidade de Miracema um homem de muita ambição. Com muita coragem, inteligência e
força de vontade, veio para a cidade
grande, onde buscou, trilhou e conseguiu o seu espaço. Posicionou-se como jornalista
e passo a passo conseguiu ser reconhecido no seu ambiente de trabalho.
Desde
então, neste jornalista passou a rolar uma paixão que o acompanhou em toda a
sua vida: o samba. Passou a se dedicar a conhecer a música e estudá-la
profundamente. Durante estes anos, fez muitas amizades e conquistou a admiração
e o reconhecimento dentro do mundo do samba.
Compôs, criou, participou de um
grupo de compositores e por final eternizou na forma de um livro grande parte
dos seus conhecimentos. Em “Dança do samba, Exercício do prazer”. Reuniu
grandes nomes que, assim como ele, faziam e fazem do samba a sua vida.
Outra paixão que levou com muito orgulho
por toda a sua existência foi o prêmio Estandarte de Ouro, do jornal O Globo, que
desde a sua primeira edição tinha este jornalista no corpo de jurados. O carnaval era o ápice anual desta paixão, não
abria mão nunca de assistir pessoalmente aos desfiles das escolas de samba.
Mas, não por acaso, neste ano de 2006 não quis
participar da festa, para surpresa dos seus familiares. Sentia-se cansado, mas hoje nós vemos que ele
sabia que estava chegando a sua hora. Estava se preparando espiritualmente.
Agora falaremos um pouco do lado pessoal
deste jornalista. Pessoa amável e sempre com uma palavra de carinho, uma mão sempre
disposta a ajudar. Não tinha quem o
conhecesse e já no primeiro encontro não se admirasse. Por onde passou, ajudou muita gente, mas como
um bom espírita não fazia questão de se vangloriar destas ajudas.
Um excelente pai, que criou, educou e deu o caminho
certo para que seus filhos pudessem crescer e caminhar sozinhos. Viu e se orgulhou de presenciar seus filhos se
formarem; mais uma parte da missão estava sendo cumprida. Sua obra não poderia
terminar sem um grande presente de Deus. E ele veio no mês de janeiro, de forma
grandiosa e sublime: uma neta linda que a ele foi dado o prazer de dar o nome. Luanda,
assim como a capital angolana, que ele se encantou ao conhecer nos anos 80.
Depois disso tudo, ele foi, desencarnou,
foi para um mundo melhor do que este em que nós aqui ficamos. Foi encontrar
velhos amigos que ele tanto amava, como o seu grande parceiro Manuel da Paixão
Pires. Foi encontrar seus pais e familiares que o aguardavam de braços abertos.
Agora neste mundo nós não o vemos, mas ele nos vê e tenho a certeza de que está
feliz e olhando por todos nós.
Este homem, negro com orgulho, grande crítico
musical, jornalista, é meu pai, de quem me orgulho muito. Pai, que seguramente
está aqui entre nós, te digo poucas palavras: Obrigado! Até breve!”
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