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Mostrando postagens de agosto, 2025

Arrumando o ármario

  Se dar-te um beijo é pecado, eu quero morrer de amor... Assim dizia, em uma de suas belas trovas, o professor/poeta Osmar Barbosa, um dos grandes sábios que passaram pelo Colégio Miracemense nas décadas de 60 e 70, de onde saiu para brilhar na serra friburguense.  Se amar-te é perder a vida... Completava o poeta nesta mesma trova de amor, não se sabe a quem dedicada, e por mim e pela turma da Gráfica Normalista, liderada pelo meu tio Ary, inserida em um de seus livros, “Para as mãos do meu amor”, que hoje achei amarelado, empoeirado, mas ainda com páginas livres dos arranhões ou riscos de lápis ou caneta de um depredador qualquer.  Ao arrumar o armário da família, na garagem de meu prédio, além da bela surpresa de encontrar o livro de Osmar Barbosa (*), tive a felicidade de achar uma partitura de um dobrado, pena que eu não toque mais o meu piston, se não os moradores do Condomínio Itaparica, aqui em Campos, fechariam as janelas, desceriam à rua e me apedrejariam sem dó...

AO SOM DE CARTOLA, ELIS E OUTROS

Revendo textos - Esta é de outubro de 2005    Quatro horas da tarde. Lá fora o sol forte, aqui dentro o ar refrigerado ligado no limite e na vitrola o disco de João Gilberto, em volume médio, toca para motivar este velho escriba a falar sobre música e artistas. Ligo para meu amigo Motta, que está na internet –sua nova companheira- e me recuso, no momento, a entrar na grande rede. O telefone toca. Penso em não atender. Marina chama: É prá você. É o Solon. Bingo. Era o que precisava para traduzir certas canções de Cartola. Pensava até em ligar para o Nascimento, lá em Miracema, mas Solon chegou na hora.  Fala aí, amigo velho. – Amigo velho, não. Velho amigo. Fica mais poético e mais saudável. – O que manda? – Acho que preciso de alguém para conversar, estou só e os dedos estão cansados demais para dedilhar nas teclas do computador. – Eu até gostei de sua ligação. Tava pensando em fazer umas colocações sobre a música de Cartola e só mesmo quem viveu estes momentos pode divid...

Primeiro e único papo com Airton Moreira

Publicada em 07.11.2008  Parece que foi ontem, mas lá se foram quarenta anos, se a memória não pregar uma peça neste escriba sou capaz de jurar que foi no final dos anos 60, ali por volta de 1968, quando ainda servia o TG 217, lá na terrinha, que conheci um dos mais fantásticos conterrâneos meus.  Airton Moreira, treinador do Cruzeiro EC, de Belo Horizonte, o homem que montou aquela fabulosa máquina de jogar futebol e que desbancou o extraordinário Santos FC, de Pelé & Cia Ltda., com uma incrível goleada, no Mineirão, 6x2, e, em virada histórica, no Pacaembu, e faturou a Taça Brasil ao vencer por 3x2 após 0x2 no intervalo do jogo. Airton, mais simples e menos badalado do que os irmãos Zezé e Aymoré, ambos chegaram à seleção brasileira (Aymoré foi campeão no Chile, em 62), mas com uma bagagem também carregada de sucesso. Quem gosta de futebol não se esquece do timaço do Cruzeiro, que tinha Raul e sua famosa camisa amarela, Procópio, um xerife que também fez sucesso no Flumi...

Figurinhas - Velha paixão de guri

Conversando com meu guru, Ermenegildo Sollon, que esta semana está saudosista demais, entrei na onda e lembrei ao velho jornalista os grandes momentos da infância, quando, ele na década de 50 e eu na década de 60, corríamos de padaria em padaria atrás das balas que traziam figurinhas de jogadores de futebol. Meu avô, o velho Vicente Dutra, sempre me protegeu nesta hora e, com o apoio da Vó Maria, soltava sempre uma graninha para as balas recheadas de craques paulistas e cariocas. – Você teve sorte, eu tinha que ralar os joelhos nas calçadas engraxando sapatos dos freqüentadores da missa de domingo, na Igreja Matriz, diz o grande Solon.  Acredito que todos os garotos daquela época eram fissurados pelas figurinhas do Dida, do Pepe, do Zagalo, do Vavá, do Delém, Garrincha era carimbada, assim como a do Rei Pelé, mas tinham aquelas fáceis, como do Tomires, Pavão, Bellini, que eram disputadas no “jogo do bafo”, onde meninos de mão grandes levavam vantagem sobre os das mãos pequenas. As ...

O Falso Fantasma do TG 217

 Uma lenda que assustava os incrédulos por dezenas de anos, muitos confirmam ter visto e muitos zombaram dos contos assustadores dos atiradores do Tiro de Guerra 217, de Miracema, que juravam que havia um velho atirador, morto em serviço (se é que alguém um dia soube disto) que sempre "voltava" para atormentar os soldados do plantão.  Se de duas histórias, uma eu fui testemunha ocular, e outra, que deu origem a toda esta lenda. A primeira aconteceu no primeiro ano do Sargento Lecine no comando da tropa de Miracema, quando a guarda se assustou com os passos no salão de reuniões, acima do dormitório e da sala de armas, e com os passos vieram o som de um instrumento musical, tocando maviosamente sem cessar.  Os rapazes saíram às pressas e se reuniram em frente ao prédio da prefeitura e no dia seguinte o boato se espalhou pela tropa e tirar plantão, daí em diante, foi uma tremenda aventura.  A outra, comigo presente, foi um corre-corre que só terminou na Gruta da Igreja ...

Na calçada do Armazém

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  Chegou  sexta-feira e sexta-feira é dia de visitar o Armazém do Lenílson para papear com os velhos amigos, que por lá aparecem para "sextar", degustar uma boa cerveja e um excelente papo de bola, de viagem, de vida.  A política é proibida pela turma desde sempre.  E à noite foi reservada para um papo de viagem, Evaldo de Andrade, nosso velho companheiro e amigo do rádio campista, locutor de grande audiência na Planície Goitacá e região, queria saber um pouco das minhas andanças, e, como sou um contador de história inveterado, resolvi dividir o papo com o Marco Aurélio, que já rodou um pouco e hoje aposentou o volante e as poltronas dos aviões.  Evaldo, como todos da mesa, incluído aqui o proprietário, Lenilson, queria saber onde foi mais complicado conversar ou me fazer entender. Expliquei que hoje não vejo mais dificuldades de comunicação, os aplicativos para tradução simultânea são instalados e bem utilizados.  Mas, há algum tempo, na Hungria em 2013, f...

Ando meio desligado... E com saudade dos amigos

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Um dia, numa destas sextas-feiras no Armazém, onde a turma dos sete, que hoje é de um só (eu) tive um "pega prá capá" com o saudoso amigo Paulinho Máquinas, um dos maiores conhecedores de música, depois do outro componente do grupo, Luiz Canário (ambos já cantam juntos lá no céu), por dizer a eles que curtiu "Os Mutantes" e que a música deles me encantava e era pule de dez no meu arquivo do Spoty, que estava surgindo, e nos vídeos do YouTube.  O amigo contestou, e eu simplesmente cantei um dos versos:  "Eu nem vejo a hora de lhe dizer.  Aquilo tudo que eu decorei.  E, depois, o beijo que eu já sonhei.  Você vai sentir, mas... E foi aí que ele me interrompeu e cantou, com aquela voz rouca e baixinha que sempre impressionava a turma da mesa.  - "Por favor.  Não leve a mal.  Eu só quero.  Que você me queira.  Não leve a mal". E aí a conversa acabou, pedimos mais duas cervejas, o Canário deu uma gargalhada, o Vergalhão se levantou e nos deu ...

Eu e a música - Fechamento

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  Chegava os anos 1970 e o futebol estava virando coisa mais séria para mim e a música, apesar da alegria e do desejo de estar nos palcos, foi ficando para trás e o Festival da Canção de 1970 foi minha despedida desta arte que até hoje me empolga e me dá uma tremenda saudade quando vejo fotos e conto as histórias daquele tempo de ouro. O I Fecami, que é o Festival da Canção de Miracema, me deu um troféu, fui o melhor intérprete do evento, cantei músicas de Fernando Nascimento,, que me levou para este ramo, do Carlos Cerino, um compositor da velha guarda que se revelou neste Fecami, e de Flávio Macedo, da jovem guarda, meu vizinho e amigo de infância. Sucesso absoluto? Sei não, mas que foi bom foi.  No segundo festival voltei a cantar mas o meu grande prêmio foi ter conhecido Marina, que fazia parte do Back Vocal da música de minha tia, Marley, que pedia "Vento Traga João", e este vento me trouxe a menina que seria minha esposa cinco anos depois. E aí me despedi dos palcos da ...

A música e eu - Os conjuntos musicais

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  Minha última fase musical foi nos palcos dos salões de bailes e dos festivais da canção, tocando meu pistou ou realizando a nova descoberta, o cantor, ou crooner como diziam na época, e eu conto aqui um pouco desta gostava passagem de minha vida, que durou pouco mas o suficiente para ter o que contar para meus netos, quando eles estão por perto.  As serestas das ruas de Miracema, que acontecia bastante naquela metade dos anos 1960, a amizade com seresteiros como José Felicíssimo, Fernando Nascimento, os violonistas Saulo e Romildo, além do famoso Farofinha, me levavam ao jardim, onde já tocamos em algumas noites com o Luiz Matos no violão e a turma a tentar fazer um som, me fizeram conhecido como cantor e os convites apareceram para tocar piston e dar canja nos conjuntos da cidade, que eram apenas dois naquele período.  O Zé Viana, meu professor de piston, músico da Banda Sete, tinha um conjunto que tocava na Sociedade Operária, ali no entorno do Jardim, e fui crooner p...