Adilson Dutra, mas podem me chamar de Penacho

  

Quando nasci, em 03 de janeiro de 1950, Miracema ainda não havia completado idade para ser uma debutante, tinha apenas quatorze anos de emancipada e cheguei para  o mundo na casa número 174, da Praça Ary Parreiras, centro nevrálgico da cidade, bem em frente da recém inaugurada Prefeitura, um pouco abaixo da Igreja de Santo Antônio,  próximo da Praça Dona Ermelinda e do Jardim da Cidade, um dos mais belos de todo o Norte Fluminense, como era designada a nossa região naqueles anos 1950. 

Dizem, os mais antigos e os jogadores de sinuca do Bar do Vicente, meu avô, que eu vim ao mundo em uma mesa de bilhar, trazido pela Dona Nair, a parteira oficial de Miracema, pois não havia um outro lugar na casa que pudesse fazer o parto decentemente, não tenho comprovação, mas se o povo diz é porque tem razões para tal. 

Meus pais,  Eusébio Dutra Neto, filho de Vicente e e Maria José Dutra, e Maria Picanço Dutra, a Lili, filha de Cornélio e Almerinda Freitas Picanço,


casados desde 1944 e, quando cheguei por aqui já tinha uma irmã me esperando, Eliane, nascida em 1946, e depois vieram Maria Tereza, em 1954, Maria Celeste, em 1960 e Patrícia, a caçula, que nasceu em 1966 e deu um trabalho danado aos médicos, foi a única dos cinco filhos de dona Lili a nascer no hospital. 

Fui um menino privilegiado, não nasci no luxo ou na riqueza, não me faltou nada, nem mesmo carinho e alimentação, apesar de doze pessoas vivendo em nossa casa a vida era boa e nossa morada tinha camas e quartos para todos nós. Papai e Mamãe dividiam um quarto de casal e vovô e vovó um outro, ambos em bom tamanho que até foram divididos quando da chegada das irmãs e da volta da nossa tia, de criação, Marley Serrano, para nosso convívio. 

Nossa rua era privilegiada, amigos que eram verdadeiros irmãos e quando a tarde caia era um verdadeiro parque de diversões, meninos jogando futebol, meninas nas calçadas, jogando "amarelinha" nossos pais sentados à calçada em prosas que não tinham fim e que seguiam no dia seguinte. 

Vendi pirulito, pastel, doce, fui engraxate e catador de garrafas, tudo isto incentivado por Vovó Maria (foto) para que sempre pudesse ter meu dinheiro para comprar meus discos e frequentar os cinemas, parques e circos. 

Uma infância bem vivida, intensa e cheia de ocupações, o Jardim de Infância Clarinda Damasceno foi minha primeira escola, bom tempo de inocência e de ótimo convívio com as professoras, que não eram "tias", eram mestras e tinham nosso respeito e admiração. Ali, no Clarinda Damasceno, fiquei sabendo que tinha uma "veia artística e musical", segundo a professora Maria do Carmo Alves da Cruz, nossa mestra e musicista. 

O primário foi no Grupo Escolar Prudente de Moraes, era uma boa caminhada até a Rua da Laje e tenho grandes recordações de minhas professoras, prefiro não citar nomes porque foram tantas que me dariam um "castigo" se esquecesse de uma delas, mas das duas diretoras que tive, Dona Mariquinha e dona Edyr, é impossível esquecer, cada uma com sua peculiaridade e uma certeza, eram mãos de ferro e me ajudaram a moldar uma vida


de equilíbrio e confiança. 

O futebol começou cedo, no Rink, na Praça das Mães e os amigos, os mesmos da Praça Ary Parreiras, formavam "peladas" incríveis e chamávamos a atenção de muitos amantes do então futebol de salão, mas não posso esquecer dos "rachas" bem disputados na Rua Paulino Padilha, que mesmo sendo um morro não impedia a bola rolar e quicar nos paralelepípedos e quase não éramos interrompidos, o trânsito de veículos era mínimo e assim as duas horas de suor e gols eram bem aproveitadas. 

O tempo passou e lá fui eu, fazendo o que gostava e vivendo intensamente uma vida decente e cheia de atividades, lá na minha Miracema eu sempre fui amado, respeitado e tinha amigos que posso chamar de irmãos. 

O futebol e a música faziam parte da vida do adolescente e depois do adulto, já não mais Penacho e sim o Adilson Dutra, que começava acumular funções na cidade. Daí surgiram os desejos de ser radialista, fui locutor de carros de som, com o amigo Calil Saluan, apresentador de eventos, como o do Festival da Canção da Cidade (foto com Elke Maravilha) e quando o Deputado Luiz Linhares resolveu criar a Rádio Princesinha lá estava eu pronto para assumir um novo rumo. 

Daí em diante, como disse acima, entrou em cena o Adilson Dutra, que resolveu assumir de verdade o lado jornalístico e o Banerj, que já fazia parte de minha vida, foi efetivamente o suporte que sempre precisei para realizar sonhos e ver meu sonho se concretizar e com a mudança para Campos dos Goytacazes, em 1985, a cortina se abriu e o mundo que sonhei e sempre desejei saiu da imaginação e entrou na realidade. Mas aí será outro capítulo desta história que já dura setenta e três anos. 

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