O toma lá...dá cá do Vicente Dutra

 

Os donos do quintal 
Algum tempo atrás, já vai prá la de cinco anos, estava eu em Nova Lima/MG, passando uns dias com a filha, neta e genro, com quem gosto muito de prosear enquanto bebemos uma cerveja gelada regada a um churrasco, feito por ele, na varanda de seu apartamento no Condomínio Cenário. 

A gente fala de tudo, até de futebol, assunto não dominado pelo Adalberto mas que se prepara sabendo que vou chegar para uma visita de alguns dias. No final de 2018 um tema era obrigatório em todas as conversas, tanto nossas, na varanda, como das reuniões de amigos do condomínio, haja festa e confraternização neste período do ano, e  o tema, claro era a política do toma lá... dá cá, empregada em âmbitos municipal, estadual e federal, em todos os setores, claro, me dá que eu te dou, era, ou é, o lema da política e dos políticos. 

Enquanto armávamos a mesa para um jogo de "buraco", víamos a chamada da Copa São Paulo de Futebol, que seria iniciada dias depois, e me lembrei de várias passagens, quando moleque e queria jogar futebol com os mais velhos, e usei bastantes vezes o tal de toma lá... dá cá. 

Meu avô era mestre destas artimanhas, eu, ainda moleque e mais novo do que a turma que batia um "racha" (pelada de rua) na José da Silva Bastos, os grandões, como Ló, Scilio, Hércules, Marcinho, Nivaldo e outros, me deixavam de fora e nem queriam que eu jogasse com eles, apesar de que aluns até insistiam com os "donos" do pedaço para eu jogar no time deles. 

Vovô Vicente Dutra, me vendo sempre sentado a observar, um dia me perguntou:
- Porque você não joga com eles? Joga melhor do que muitos aí. 
- Eles são grandes, vovô, eu não quero atrapalhar e se pedir levo uns coques. 
- Deixa comigo, você vai jogar todos os dias, quer ver?

E saiu para o quintal, trancou o portão de madeira grossa com um cadeado e soltou o cachorro da corente. - Aqui ninguém entra, tá combinado? Enquanto o Adilson não jogar não teremos devolução de bolas. 

Explico, a bola caia no quintal e na horta da vovó Maria de cinco em cinco minutos e a partir daquele momento estava proibida a entrada e então o racha da rua acabava logo que as duas bolas caiam por lá e não eram devolvidas. 

Passaram apenas alguns minutos e o Scilio me chamou no canto.  - Penacho, fica aqui no gol do nosso time. Eu disse que não e o Nivaldo logo arrumou uma vaga lá no time dele, que estava esperando o perdedor do primeiro jogo. 

A bola caiu no quintal e o vovô foi acionado pelo chefe da turma, o Ló, que foi lá e informou ao meu avô que eu jogaria a próxima partida. Vovô aceitou, desceu  e abriu o portão e eu, por este motivo e pelos gols que fazia, nunca mais deixei de jogar entre os grandões da Praça Ary Parreiras. 

E assim é na política, se você der alguma vantagem o eleitor vota, se o deputado recebe alguma vantagem também vota no que está pagando a tal propina e, como na Rua José d Silva Bastos, tudo é controlado por um mandão, no caso da rua o Seu Vicente Dutra e no caso dos governos aquele que está com a cadeira chamada PODER. Entenderam? 

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