Quarentena - 80 dias confinados

Então tá nós estamos entrando no dia 80 de uma quarentena forçada, imposta pelo Covid-19,que já matou quase um milhão de pessoas pelo mundo, e nós, eu e minha Marina, receosos de que algo de ruim possa acontecer, ficamos isolados do mundo apenas nos divertindo de acordo com as nossas possibilidades. 

Ainda bem que temos um vasto cartel de opções, tipo filmes, séries e algo mais, no Netflix, Prime, Telecine, HBO etc e tal, mas e que não os tem, como suportar passar estes dias tensos? Gostaria de me solidarizar com esta turma, mas como fazer? Sair por ai a procura de algum necessitando de apoio? Impossível. Estamos em quarentena e qualquer saída pode ser fatal para quem, como nós, está incluído no tal grupo de risco. 

O que fiz nestes 80 dias de isolamento social? Companheiros! Foi muito duro, principalmente na primeira semana, de 13 a 20 de março, justamente quando retornamos de Belo Horizonte, onde fomos comemorar o aniversário, antecipado, de nossa primeira neta, Luna, e aí recebemos o comunicado de que deveríamos ficar em casa. - Vocês estão no grupo de risco, disse-me um médico amigo,que me ajudou a vencer um câncer na próstata,e por este motivo eu me tornei um alvo maior. - Não há o que fazer no momento, sem vacina o que indico é apenas o isolamento, me assustou o Dr Ronaldo. 

Pois é e de lá até hoje, salvo aquela primeira semana, complicada e cheia de “sintomas”, tive até um piripaque, aquele famoso “pitì” de quem não tem nada e se sente “doente” em qualquer parte do corpo sadio e cheio de saúde. Ah! Pânico? Sim, claro, o pânico é o pior, você se sente perdido, atordoado e, principalmente, indefeso de qualquer ataque do tal vírus. 

Ah! Sim, a última semana de maio foi a mais triste, quatro amigos partiram para o Oriente Eterno, e, sim senhoras e senhores, nenhum deles motivados pelo tal Covid-19, Dom Américo, meu ídolo da música e amigo pessoal, já estava abatido por uma série de complicações, Braizinho, meu amigo e um dos mais talentosos craques do futebol de Miracema,minha terra natal, também já estava debilitado, Beto, meu garçom favorito, se foi por um infarto fulminante, e Carlão, assassinado em frente a sua residência, todos deixam uma marca profunda da tristeza no coração. 

No mais vou levando a vida, ouvindo meus blues & Jazz, como no momento, assistindo meus filmes dos tempos do Cine 7 ou Cine XV, lá se vão anos e anos de lembranças, como Sayonara, Os Canhões de Navarone, Condessa de Hong Kong, Os Sete Samurais, faroestes inesquecíveis, como O Bom, o Mau e o Feio e algumas séries, como do detetive belga, obra inesquecível da talentosa Agatha Cristy, Hercole Poyrot, que degustei todas as temporadas, nove no total, em apenas uma semana. 

Vivenciamos um Dia das Mães diferente, a família reunida através do aplicativo do celular, cenas repetidas nos aniversários dos filhos, Ralph, Gisele e Leandro, da nora Viviane e da neta Luna, todos devidamente comemorados a distância mas com direito a parabéns, bolo e, até cerveja com um brinde a longa distância. 

E o nosso futebol de cada dia, como ficou? O seu pode ter tido vários vídeos tapes, mas o meu, claro que não houve tempo hábil para assisti-los,nem mesmo a vitória do meu Flamengo, na decisão da Libertadores ou a derrota humilhante da seleção do Brasil na Copa 2014,aquele famoso 7x1 contra a Alemanha, não é do meu gosto rever partidas de futebol, aliás,vamos ser justos, vi dois jogos da seleção, ainda em época romantica da CBD, as decisões das Copas do Mundo de 1958, contra a Suécia, no espetacular 5x2 da seleção de Pelé e Garrincha, e a grande vitória sobre a Tcheco-Eslováquia, no Chile, em 1962, com exibição de gala de Garrincha e Amarildo. Viu? Sou justo e explico: Estes jogos eu não vi sequer em tapes quando jogado, e assim para mim era inédito, só sabia o placar e os artilheiros das partidas. Valeu a pena conferir e saber porque dizem que aquele time era um dos melhores de todos os tempos. 

Oitenta dias em isolamento e me perguntariam: Sentiu no corpo e na alma algum problema? Eu, sem medo de errar, respondo sinceramente. Não engordei, minha rotina de exercícios físicos continuou a mesma, em casa em meu simulador de caminhada, a alimentação está sendo seguida da mesma forma do que temos no cotidiano, e, o que mudou foi apenas o lanche da noite, não compramos mais nada já que Marina voltou a fazer aqueles quitutes maravilhosos, bolos, broas, pastéis, rizzoles e pizzas, e, claro, tudo isto com minha preciosa ajuda na confeção e na limpeza da cozinha. 

Não temos empregada, a nossa Luciana nos deixou após 22 anos de trabalho na família, Marina a tem como membro efetivo da casa, mas foi para melhorar sua vida que nos deixou, agora é funcionária de uma escola e com isto eu assumi seu lugar e sou o “Zé” dela e me dedico de corpo e alma na função de auxiliar doméstico de minha esposa, que neste período de quarentena tem me feito muito bem. 

Outra coisa que me faz passar o tempo é o que faço neste momento, escrever crônicas e textos para o blog e para alimentar meus amigos neste período de confinamento, criei vários blogs de viagem, de esporte, de causos e casos e de fotos de viagens pelo mundo afora. Me divirto todos os dias descobrindo algumas fotos escondidas nos arquivos do Google e passo horas a fio a recordar os grandes momentos e a restaurar fotografias dando uma nova roupagem naquelas descoloridas pelo tempo por terem sido esquecidas no fundo do baú ou em algum álbum antigo guardado em algum lugar desconhecido até então. 

Foram 80 dias, aliás, são 80 dias passados enclausurado e que tiveram apenas quatro saídas de casa, todas para cumprir exigências da saúde, uma vacina contra a gripe e outras três, de hormônio, para ajudar a combater o câncer, que está em reta final de tratamento,e estas saídas foram devidamente protegidos, luvas, máscaras, boné e calça e camisa compridas para não dar “sopa ao vírus”. O celular é outra arma contra o ócio e que ajuda a passar o tempo, principalmente na ferramenta moderna, que eu e muitos chamamos pelo nome reduzido, zap, e até criei momentos para lives deliciosas, falando do esporte e das viagens, que eram diárias e agora estão reduzidas a três vezes por semana, melhor escassear um pouco antes de ficar chato e repetitivo, né mesmo?

Agora, com a volta do futebol em alguns países da Europa, as tardes ficarão menos tensas e um pouco mais divertidas, estarei sentado à minha poltrona favorita, novamente, desta vez para ver jogos ao vivo, sem repetições enjoadas com narração chata e abobalhada, e que me dão prazer, agora diariamente, de voltar a assistir um bom jogo de futebol, ao vivo e em cores, com craques que cumpriram o período de isolamento e voltaram a nos brindar com bons espetáculos pelos campeonatos nacionais de alguns países importantes da Europa.

Assim se passaram oitenta dias e, podem ter certeza,estou percebendo que chegaremos aos cem dias ou muito mais, e até lá já estarei com um livro a mais preparado para publicações e com uma coletânea de fotografias incrivelmente arquivada. 

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