Papo de Pinga - Saudade dos bons tempos e da pinga do Saliba
Grande papo com o Augusto Cardoso, médico ortopedista conceituado na nossa região, hoje cumprindo a quarentena lá na distante Santa Catarina. Um tema nos levou a dar uma longa volta ao tempo, nos lembramos da Cachaça do Saliba, a famosa Saudade, que inspirou alguns poetas anônimos a se arriscarem em uma trova ou verso com o tema para ganhar alguns litros da ótima cachaça, engarrafada pelo bom libanês radicado em Miracema há logos anos.
"Seu Saliba, que Saudade é esta que o senhor tem? Todo mundo prova dela, eu quero provar também". Recitou Augusto de lá e eu respondi de cá com uma trova do professor Osmar, nem sei se entrou naquele rótulo famoso da cachaça, mas que dizia: Saudade mata, é verdade,mas desta morte me esquivo, como morrer de Saudade, se é de Saudade que vivo?"
E nesta prosa eu disse para o amigo: - Me pego aqui, no sofá, ouvindo o grande declamador, Pintinho, lá pelas bandas da Gráfica do Chiquinho,em frente ao Hotel Braga, dizendo estes versos entre outros, como o que o Augusto recitou: "Dizem que Saudade mata, com dor intermitente, mas a Saudade do Saliba prolonga a vida da gente".
E aí nossa memória nos traiu, coisas de quem chegou aos setenta ou que está quase lá. - Você lembra do Dedão, meu caro Adilson? Claro, me lembro muito bem. era um cara bacana e sempre com alegria desfilando sua robusta barriga, "escondida" em uma camisa sempre aberta sobre ela, já com um teor alcoólico acima do permitido, explicado sempre por ele: - Sou o provador oficial das pingas do Saliba... e lá seguia o Dedão, entregando o líquido precioso, de bar em bar.
E quem seria o outro "provador" ajudante do Dedão? Falhou a memória. Quem era o afrodescendente, o segundo na escala de trabalho do Saliba Felix? Eu, que conhecia bem estes moços, meu avô comprava as cachaças do Saliba e me arrisquei: Era o Lula, que depois foi trabalhar no seu Lucas Damasceno, outro engarrafador da cidade.
Não. Não era o Lula. Quem seria, Dr. Augusto? Nada de vir a cabeça e o negócio foi chamar a filha do Saliba, a Marista, que também teve o chamado "branco". - Querido, disse ela, eu também tive um lapso na memória, mas vou pedir ajuda a Tanúscia, minha irmã. E nada de chegar a resposta e nós, a conversa se estendia, ficamos sem saber quem era o tal ajudante do Dedão.
Desligamos e deixamos a solução para depois, porém, tem sempre um porém, o Carlinhos (Antonio Carlos Felix), o filho do velho e saudoso Saliba, nos salvou e mandou de lá: Era o Luca Preto, um cara simpático e cheio de marra. Pois é, o Luca e não o Lula, acertei,meu caro amigo, a primeira sílaba, sinal que a memória não é a do Pintinho Poeta mas também não está de tão ruim assim.
O Lula me remeteu ao Lucas Damasceno, engarrafador do Vinho Vênus, que chegava na sua fábrica em barris, e produzia também a melhor groselha do mundo, ninguém fabricou uma groselha melhor do que o seu Lucas Damasceno e eu, que já andei boa parte do mundo,não achei, nem mesmo na Europa de onde veio para conquistar o Brasil.
E o guaraná do seu Lucas? Pode não ser o melhor, mas hoje, com estas fabriquetas de fundo de quintal, me dá uma saudade danada daquele refrigerante, hoje seria chamado de "baixa renda", que era bem mais saboroso do que alguns famosos comprados pelo meu avô. E lá, sim, trabalhava o Lula Pimenta, meu amigo saudoso, músico de primeira, excelente violonista, e um lateral esquerdo botinudo. Rsss
E o tempo foi passando e nossas lembranças foram sendo afloradas e os amigos de infância foram desfilando em nossa mente: Veio o Felisberto (7 Cabeças), o Adão Carne Seca, meus companheiros de caixa de engraxate na calçada da Prefeitura, e o Teco, filho do Marino Silva, que tinha por costume batizar os filhos com nomes de políticos, creio que o Sérgio e este que citei, o Teco, registrado como Marcel, eram os únicos que fugiram a regra, e, segundo o Augusto o apelido Teco veio porque era exímio jogador de bola de gude.
- Adilson, diz Augusto, você se lembra dos filhos do Sacristão? Rapaz, disse eu, eram tantos que não dá para colocar aqui, cito o João, meu amigo, para homenagear a todos os irmãos, que moravam na Rua Santo Antônio, bem atrás da Igreja Matriz de Miracema.
Pois é, doutor, a quarentena nos faz recordar e nos faz ganhar o tempo escrevendo e contando os bons momentos vividos na "Santa Terrinha". Obrigado Marista, nem foi preciso chamar a Nedymélia para refrescar nossa memória, hoje, infelizmente, não há mais a Cachaça Saudade para brindar por aqui e dizer "Vivamos a vida intensamente", para que possamos sempre nos lembrar de grandes momentos e de grandes amigos.
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