Papo de Pinga - Saudade dos bons tempos e da pinga do Saliba


Hoje, 91o dia de quarentena, resolvi conversar com os velhos amigos da terrinha,  todos distantes e também do mesmo grupo de risco deste velho escriba diante da pandemia, ou seja, já dobraram os sessenta e muitos já passaram, como eu, dos anos 60 e se tornaram setentões com muito orgulho. 

Grande papo com o Augusto Cardoso, médico ortopedista conceituado na nossa região, hoje cumprindo a quarentena lá na distante Santa Catarina.  Um tema nos levou a dar uma longa volta ao tempo, nos lembramos da Cachaça do Saliba, a famosa Saudade, que inspirou alguns poetas anônimos a se arriscarem em uma trova ou verso com o tema para ganhar alguns litros da ótima cachaça, engarrafada pelo bom libanês radicado em Miracema há logos anos. 

"Seu Saliba, que Saudade é esta que o senhor tem? Todo mundo prova dela, eu quero provar também". Recitou Augusto de lá e eu respondi de cá com uma trova do professor Osmar, nem sei se entrou naquele rótulo famoso da cachaça, mas que dizia: Saudade mata, é verdade,mas desta morte me esquivo, como morrer de Saudade, se é de Saudade que vivo?"

E nesta prosa eu disse para o amigo: - Me pego aqui, no sofá,  ouvindo o grande declamador, Pintinho, lá pelas bandas da Gráfica do Chiquinho,em frente ao Hotel Braga, dizendo estes versos entre outros, como o que o Augusto recitou: "Dizem que Saudade mata, com dor intermitente, mas a Saudade do Saliba prolonga a vida da gente".

E aí nossa memória nos traiu, coisas de quem chegou aos setenta ou que está quase lá. - Você lembra do Dedão, meu caro Adilson? Claro, me lembro muito bem. era um cara bacana e sempre com alegria desfilando sua robusta barriga, "escondida" em uma camisa sempre aberta sobre ela, já com um teor alcoólico acima do permitido, explicado sempre por ele: - Sou o provador oficial das pingas do Saliba...  e lá seguia o Dedão, entregando o líquido precioso, de bar em bar. 

E quem seria o outro "provador" ajudante do Dedão? Falhou a memória. Quem era o afrodescendente, o segundo na escala de trabalho do Saliba Felix? Eu, que  conhecia bem estes moços, meu avô comprava as cachaças do Saliba e me arrisquei: Era o Lula, que depois foi trabalhar no seu Lucas Damasceno, outro engarrafador da cidade.

Não. Não era o Lula. Quem seria, Dr. Augusto? Nada de vir a cabeça e o negócio foi chamar a filha do Saliba, a Marista, que também teve o chamado "branco". - Querido, disse ela, eu também tive um lapso na memória, mas vou pedir ajuda a Tanúscia, minha irmã. E nada de chegar a resposta e nós, a conversa se estendia, ficamos sem saber quem era o tal ajudante do Dedão. 

Desligamos e deixamos a solução para depois, porém, tem sempre um porém, o Carlinhos (Antonio Carlos Felix), o filho do velho e saudoso Saliba, nos salvou e mandou de lá: Era o Luca Preto, um cara simpático e cheio de marra. Pois é, o Luca e não o Lula, acertei,meu caro amigo, a primeira sílaba, sinal que a memória não é a do Pintinho Poeta mas também não está de tão ruim assim.

O Lula me remeteu ao Lucas Damasceno, engarrafador do Vinho Vênus, que chegava na sua fábrica em barris, e produzia também a melhor groselha do mundo, ninguém fabricou uma groselha melhor do que o seu Lucas Damasceno e eu, que já andei boa parte do mundo,não achei, nem mesmo na Europa de onde veio para conquistar o Brasil. 

E o guaraná do seu Lucas? Pode não ser o melhor, mas hoje, com estas fabriquetas de fundo de quintal, me dá uma saudade danada daquele refrigerante, hoje seria chamado de "baixa renda",  que era bem mais saboroso do que alguns famosos comprados pelo meu avô. E lá, sim, trabalhava o Lula Pimenta, meu amigo saudoso, músico de primeira, excelente violonista, e um lateral esquerdo botinudo. Rsss

E o tempo foi passando e nossas lembranças foram sendo afloradas e os amigos de infância foram desfilando em nossa mente: Veio o Felisberto (7 Cabeças), o Adão Carne Seca, meus companheiros de caixa de engraxate na calçada da Prefeitura, e o Teco, filho do Marino Silva, que tinha por costume batizar os filhos com nomes de políticos, creio que o Sérgio e este que citei, o Teco, registrado como Marcel, eram os únicos que fugiram a regra, e, segundo o Augusto o apelido Teco veio porque era exímio jogador de bola de gude.  

- Adilson, diz Augusto, você se lembra dos filhos do Sacristão? Rapaz, disse eu, eram tantos que não dá para colocar aqui, cito o João, meu amigo, para homenagear a todos os irmãos, que moravam na Rua Santo Antônio, bem atrás da Igreja Matriz de Miracema. 

Pois é, doutor, a quarentena nos faz recordar e nos faz ganhar o tempo escrevendo e contando os bons momentos vividos na "Santa Terrinha". Obrigado Marista, nem foi preciso chamar a Nedymélia para refrescar nossa memória, hoje,  infelizmente, não há mais a Cachaça Saudade para brindar por aqui e dizer "Vivamos a vida intensamente", para que possamos sempre nos lembrar de grandes momentos e de grandes amigos. 

Comentários

Nedymelia disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Nedymelia disse…
AMEI O PAPO MEUS QUERIDOS!MAS SE TIVESSEM LIGADO PRA MIM, EU RESPONDERIA LOGO QUE FOI O LUCA PRETO. PAPAI DIZIA QUE ELE FOI UM HOMEM DE MUITO VALOR. E SEMPRE MUITO FIEL!COMO ME LEMBRO TB DO DEDÃO!DE TANTO PROVAR DA SAUDADE, FICAVA DAQUELE JEITO.PAPAI FICAVA BRAVO E QUERIA DISPENSA-LO, MAS APARECIA MINHA MÃE QUE DAVA UM JEITINHO.ELE TAMBÉM FOI UM BOM HOMEM. É VERDADE ADILSON. A GROSELHA DO SR. LUCAS DAMASCENO NÃO TINHA IGUAL!!! UM BEIJO PARA VC PRIMO AUGUSTO E OUTRO PARA VC MEU AMIGO ADILSON!
Adilson Dutra disse…
Obrigado, Nedy, fico feliz por vocês terem gostado.
Estreando no papo do dia me lembrei do Hamiltão,filho do Lucas Damaceno,um Baixinho invocado e encrenqueiro meu contemporâneo do Nossa Senhora das Graças,talvez por sua personalidade e estilo de vida tenha partido “desaparecido” tão precocemenente,mas vamos a história :o Hamiltão enloquecia,quando contávamos de sua visita à Fabrica de Guaraná ele pegou logo uma garrafa do famoso refri para se refrescar ,numa quente tarde de verão,quando seu Pai veio correndo e tomando a garrafa de sua mão,gritou enfático :NÃO BEBA ISTO NÃO,MEU FILHO,E VENENO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!kkkkkkkkkkkkkkkkkko O Hamiltão enlouquecia,me lembro que apesar de tamanho pequeno metia medo em todos com sujesta,no grito,todos tinham medo e queriam ser da sua tropa,até que um dia resolvi enfrentá-lo,como não poderia ser,dei nele uma surra,e nunca mais me perturbou,com a minha vinda para a Cidade Grande,cada um foi cuidar de sua vida e depois tive informaçõesvfevque ele se envolveu numa briga com um canivete e teria tido cosequenciad piores,HISTORIASVDE MIRACEMA
Adilson Dutra disse…
Boas lembranças nós temos da terrinha, amigo Carlinhos Felix, nós fomos uns privilegiados e tivemos infância e juventude ativas e vivemos intensamente e nossa geração deixou marcas positivas na cidade.Abraço, obrigado por participar e a ajudar o término legal desta crônica.
Lia Gouvea disse…
Carlinhos, meu irmão de leite...rss a história que conheço de Hamilton, escrita pelo irmão dele, foi outra. Procura saber, abraços.
Lia Gouvea disse…
Carlinhos, meu irmão de leite...rss a história que conheço de Hamilton, escrita pelo irmão dele, foi outra. Procura saber, abraços.
Lia Gouvea disse…
Carlinhos, meu irmão de leite...rss a história que conheço de Hamilton, escrita pelo irmão dele, foi outra. Procura saber, abraços.
Lia Gouvea disse…
Carlinhos, meu irmão de leite...rss a história que conheço de Hamilton, escrita pelo irmão dele, foi outra. Procura saber, abraços.

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