Eu e a música, a música e eu, uma história de amor incompleta

Aqui, quando era apenas Corneteiro
Música sempre foi a minha grande paixão, desde criança pequena, lá em Miracema, tive este amor pelas notas musicais, e este amor pela arte me levou a aprender a juntar as notas e fazer meu instrumento, na época troquei a corneta, da qual era inseparável, por um piston e, com o professor Zeca Garcia, aprendi que música é coisa série e se não me dedicasse totalmente o aprendizado seria em vão. 

E foi assim,  enquanto me dediquei era bom músico, nunca fui um ótimo, como o amigo José Viana, nem excelente como o Bidica, um paduano amigo meu que considero o mais genial de todos os pistonistas que conheci nesta fase musical. Ele e Marconi Moledo, outro que não levou a sério, como eu, mas que era exímio enquanto tocou o instrumento. 

Ouvia Carmindinho tocar seu piano e dizia, prá mim mesmo: Será
O instrumento que me fez feliz - Piston 
que consigo seguir os passos do filho do seu Carmindo? Tentei, mas a professora Onidéia me tirou o piano do caminho depois de duas ou três aulas, necessitava atenção e dedicação e, segundo ela, e eu concordo, eu não tinha nem uma nem outra e a solução foi mesmo soprar meu piston na Banda Sete e, quem sabe, um dia tocar na Orquestra da Globo, como o Maestro Faustino Freitas, pai do inesquecível Sargento Lecine, que teve uma passagem marcante por Miracema. 

Cresci, na Praça Ary Parreiras, onde meu avô, e posteriormente meu
Aqui aprendi a ser um músico de verdade
pai, tinha um bar bem montado e famoso por seus pastéis, doces e quitutes preparados por minha avó, Maria, e pale minha mãe, também Maria, mas conhecida simplesmente por Lili, e vovô Vicente era apaixonado por rádio e música, talvez seja este o meu DNA, e com seu rádio e sua vitrola aprendi a ouvir coisas boas, até Vicente Celestino, o ídolo do meu avô, que também era Vicente, curti nos momentos em que estudava as lições e fazia o dever de casa do primário ou do ginasial. 

E com esta paixão pela música não poderia faltar uma decepção, mais um instrumento desejado cortado de minha "pauta", o violão. Meu pai, Zebinho Dutra, também era um "louco por banda de música", mas nunca tocou qualquer instrumento, era uma nulidade no assunto, mas tinha bom gosto musical e era um exímio dançarino, este DNA eu herdei, e foi ele, com sua experiência na boemia, que me fez não aprender tocar violão. Como? Perguntaria você. 

Eu gostava das noitadas,não bebia mas era um frequentador
Eu e Fernando, bela parceria 
assíduo dos bares e das calçadas do jardim onde amigos meus tocavam e cantavam, e ao me ver na roda destes rapazes, tentando aprender a arte de tocar um violão, com o Romildo, meu pai me pegou pelo braço e disse: "Você toca piston e gosta da noite,se aprender a tocar violão ficar no mundo da perdição". 

Pois é, não pude tocar piano e nem violão, e um dia, após um carnaval na Associação Atlética Miracema, no já distante ano de 1971, quando embolsei um belo cachê, e já trabalhava no Rio de Janeiro, entreguei a grana ao meu pai, uma parte, é claro, dei a ele meus dois pistons, foi ele quem os comprou, e jurei nunca mais soprar um piston, ou trompete, como queiram, tentar tocar um violão e só não prometi não tocar piano porque sempre foi meu sonho e por isto comprei um teclado e toco alguma coisa, "de ouvido", para satisfazer meu desejo. 

Primeiro Fecami e primeiro troféu
Cantei nos festivais da canção em várias cidades da região, ganhei três prêmios de melhor intérprete, não pela voz, que sempre foi pequenina, mas pelo modo de interpretar, que era dos bons, pelo ritmo e por conhecer música tinha um compasso melhor do que os outros concorrentes. O Hélio e o Bebeto montaram um conjunto e eu me arriscaria até a voltar a tocar meu instrumento, mas nada disto, eles precisavam de um crooner e lá fui eu ser o tal cantor de conjunto e durante algum tempo fiz daquilo um meio vida, não na terrinha, é claro, mas fora daquele pedaço. 

E hoje, como faço para matar a vontade de cantar por aí ou soprar meu pistom? Nada mais foi igual aos anos 60 e cantar, como nos anos 70, também nunca mais, a última vez ninguém esquece, foi no American Show assim que começou, mas por muito pouco fiz carreira no Palladium, o amor pelo futebol foi mais forte e não aceitei seguir em frente na música, agradeço ao meu ídolo e amigo, hoje a grande saudade, Dom Américo, por ter me permitido a última oportunidade de cantar a seu lado em um baile no Clube de Regatas Saldanha da Gama, foi emocionante e inesquecível. 

E aí ele me disse: - Dutra, para cantar é como no futebol, tem que

Cantando no Vaticano para alegrar a fila
treinar todos os dias e se dedicar de corpo e alma. Aí descobri o porquê não ter seguido em frente neste quesito musica, jamais me dediquei como deveria ser para me tornar um profissional ou um grande intérprete. 

Dr. Ururay Matos de Macedo sempre me disse que eu tinha talento, para ser um pistonista, fizemos bons duelos musicais, ele da sua varanda, tocando maviosamente a sua flauta, e eu, do meu quintal, fazendo contra-cantos e um segundo tom, com meu piston. 

E tudo isto hoje é apenas saudade, porém, tem sempre um porém, ficou marcado na minha vida e meus vizinhos jamais reclamaram. não sei se por educação ou por gostarem do meu sopro e do repertório. Fico com a primeira opção. 

Comentários

Zeza disse…
Amei e viajei... me sinto parte da história... e o pistom era um alento... às vezes alegrando...às vezes entristecendo... mas fazendo parte da vida vivida...
Adilson Dutra disse…
Obrigado, querida amiga Zezé Parreira, eu era um admirador de sua arte, sempre escapava para d sua casa para ouvir escondido, para não atrapalhar, você estudando no piano. Grandes momentos de nossas vidas. Beijo querida, amo você.

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