Até na Paraíba, Miracema?

Faz algum tempo que não vou a minha Miracema, 24 de junho foi o último e triste dia que por lá apareci, estive na despedida da mana Eliane, que partiu para o Oriente Eterno, e, de lá prá cá não deu para ir e fico curtindo a saudade de meu povo, de meus amigos e de minha família. Ando por aí buscando novos conhecimentos mas por onde passo a lembrança da cidade que nasci está viva e não dá para esconder o amor que tenho por ela. 

Agora a pouco, no final do mês de setembro, estivemos, eu e Marina, na capital paraibana, João Pessoa, e andando pelo Cariri não pude deixar de ver naquele pedaço de chão brasileiro um pouco da minha terra, não pela pobreza, não pela seca, mas pelo povo simples e hospitaleiro que por lá encontrei e, para minha surpresa, Miracema não era totalmente desconhecida dos moradores de Lajedo de Pai Mateus, uma dos lugares mais lindos de todos os quase trezentos que visitei por este mundo afora. 

Nosso guia local, em explanação sobre o clima, sobre de onde vinha a brisa fresca que soprava naquele sertão paraibano, para surpresa geral ele dizia que o vento frio era constante, todas as tardes a temperatura cai devido a corrente que chega da Cordilheira dos Andes. 

Aí eu brinquei com meus companheiros de ônibus: - Este vento eu queria engarrafar e levar para minha terra, lá faz um calor tremendo no verão e um frio danado no inverno. Disse eu e o guia ouviu e perguntou imediatamente: - De onde você vem? 

Respondi que moro em Campos dos Goytacazes mas sou de Miracema, ambas no interior do Rio e ficam distantes da capital. E o guia, com todo conhecimento de clima e de geografia, me surpreendeu mais uma vez com uma resposta, que desta vez não precisei procurar no Google. 

- Miracema, terra quente e formosa. Estive lá na década de 70 com o Projeto Rondon, visitei fazendas, andei pela cidade, fui a um baile no clube, que aliás não era clube e sim um grupo escolar, e dancei muito em outro colégio, me parece que era um grêmio estudantil. Disse ele e no mesmo momento lágrimas brotaram em meus olhos. 

Puxei o cara para o lado e me apresentei, claro que ele não se lembrou de mim e nem eu dele, foram tantos que passaram na terrinha neste ótimo Projeto Rondon, mas trocamos boas prosas e ele foi lembrando das fazendas e eu contando para ele como andam as propriedades hoje em dia, mas uma ele diz que ficou na lembrança dele. 

- Aquela que tem uma cachaça muito boa e cujo dono era um baixinho simpático, alegre e educado, um grande anfitrião. Disse o Rodrigo (o guia) me fazendo novamente soluçar de emoção. 

Nem foi preciso usar a memória para saber que ele falava do Homero Costa, saudoso fazendeiro da cidade, e de sua Cachaça Maravilhosa, e, ao citar estes dois nomes o Rodrigo imediatamente me acompanhou nas lágrimas, ele confirmou que era realmente Homero o do proprietário e que a pinga era mesmo uma maravilha e só poderia se chamar Maravilhosa. 

E aí subimos a montanha rochosa e lá em cima ele comentou sobre Campos e sua riqueza vinda do petróleo, e ficou triste quando eu lhe disse que o turismo na Planície Goytacá não era explorado e muito daqui poderia ser mostrado a visitantes, mas na realidade nada é usado para gerar divisas. 

Ah! Sobre o tal grêmio que Rodrigo citou vocês devem ter matado a charada, não? Sim, era o Grêmio do Colégio Nossa Senhora das Graças, o GEAO, comandado pelo Reginaldo Rizzo naqueles anos gloriosos e que fez história na turma de nossa geração e que, felizmente, até hoje é contado em verso e prosa por todo este país.

Comentários

Caro amigo Adilson, confesso que ao ler seu relato sobre o passeio a Paraíba, senti a mesma emoção que você sentiu ao se encontrar com Rodrigo e trazer à tona momentos vividos em Miracema na década de 70.Época em que nós jovens, sabíamos desfrutar da vida com respeito, carinho e muito amor. Confesso também que quando o Rodrigo falou sobre meu PAI"HOMERO PEREIRA DA COSTA," ai o céu veio abaixo e as lágrimas rolaram, não de tristeza, mas de saudade. Agradeço a você meu irmão por fazer chegar até a mim esse fato que realmente vai ficar gravado em nossa memória para sempre.
A você meu grande amigo e comendador o meu tríplice e fraternal abraço.
Adilson Dutra disse…
Meu caro irmão Toninho, nossa Miracema só nos traz alegria e esta passagem foi fantástica, lembrar do Seu Homero, lá na Paraíba, só mesmo comemorando com uma boa Maravilhosa. Foram cinco minutos de prosa que valeram esta crônica e me deram motivos para terminar o passeio feliz da vida. Três grandes abraços fraternais para o irmão e obrigado pela sua amizade.

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