Um enredo para o samba do Calil: O Triângulo das Bermudas

Ontem foi dia de fisioterapia, tento curar uma tendinite no ombro, provocada por longos anos de jornalismo e serviço bancário, o uso constante das máquinas de escrever, sem saudade, do computador e hoje dos pequenos tablets e smartphones, provocaram uma inflamação aguda em todos os membros dos braços e ombros.

E dia de fisioterapia é sinal que a manhã é perdida e haja conversa fiada nos corredores da clínica. E, por minha sorte, encontrei um veterano miracemense, afastado da terrinha por muitos anos, que me lembrou do carnaval, das festas de Santo Antônio e começou a perguntar pelos antigos moradores do meu reduto.


Fui falando em todos eles, com muita saudade e alegria, e o moço conheceu todos, do Caboclo ao Vicente Dutra, e, ao chegar à casa, vejo uma foto do saudoso amigo Calil Saluan Neto, carnavalesco e homem da publicidade volante, na página de sua filha, Dina, no Facebook, e juntando o papo com o Abraão, lá na clínica, e o pensamento para o Calil, me lembrei imediatamente de uma nossa conversa, no jardim de Miracema, sobre carnaval, escola de samba e enredos.


- Adilson, se
 tivesse dinheiro eu daria a você a incumbência de falar sobre a Praça Da Matriz, você nasceu ali e é um apaixonado pelo reduto, dizia Calil sentado em um dos bancos com propaganda das antigas casas comerciais da cidade.

Eu imediatamente aceitei o desafio e fui imaginando, se possível fosse, falar do nosso "Triângulo das Bermudas", este seria o título do enredo para a Unidos no Samba e na Cor, que falaria da Igreja Matriz, da Praça das Mães, do Rink, do Jardim de Infância e arredores, e, no carro abre alas, viria a Fonte Luminosa e o Coreto, por onde passa a história do município, afinal foi ali que nasceu o povoado nas terras doadas por Dona Ermelinda.


Logo atrás as tradições do lugar, a Prefeitura, o Tiro de Guerra, o Bar do Vicente Dutra e a Loja da Magali, sem esquecer do boteco do Seu Manoel, que ficava ao lado do Armazém do Jorge. Eita!! A cabeça foi girando, saudades do Calil e de todos os citados por aqui até o momento, mas não ficou nisto.


- Adilson, temos que falar do Seu Scilio, da farmácia, lembra Calil.


Claro, no conteúdo podemos lembrar de todos os moradores dali, divididos entre fazendeiros, como Seu Neném Braga, Seu Evaldo Assumpção,  seu João Ramos, mas se precisar de um táxi pode chamar o Zé Barros, um terno? Vá no Seu Amaro Leitão, e caso o amigo esteja com fome um pão ou biscoito na Padaria do Garibaldi Parreiras.


A moça bonita tinha duas opções, ou se maquiava na Dona Darquinha ou fazia o cabelo com Dona Cecília, ambas na José da Silva Bastos, rua pequena mas repleta de mulheres bonitas, sem nomes para não comprometer com esquecimento de algumas delas. Na Paulino Padilha, que começa com a Farmácia do Scilio, podemos encontrar mais temas para o nosso samba e para nossas alas.
- Quem são e como será? Queria saber Calil.


Um aviamento, um perfume ou até uma aliança para engambelar a namorada? Loja do Tetinho. Uma graxa no sapato ou uma acerto na sandália? Sapataria do Deoclídes. Uma fezinha no bicho? Seu Cícero dá a dica. Um paletó sob medida? No Pepito Serrano. Na loja do seu Botelho você pode até fazer sua escrita, afinal ele é um exímio contador. Um pirulito no Caboclo, um pão doce da Padaria da Dona Otera ou uma compra no Armazém do Seu Custódio pode adiantar sua vida.


Nem sei se o resolvemos o problema da última ala dedicando o espaço totalmente as empresas do Seu Marcelino, será que podemos chamar aquele lado de Praça da Matriz? E que se não for tudo bem, ali estava também o Posto do Inácio e o primeiro carro da mana Eliane foi lavado por lá, pelo Mané e o pelo Demerval.


E, quando a prosa já estava animada e o enredo pronto na minha cabeça, eis que o Calil mata todos os sonhos em duas frases apenas.


- Vou parar de fazer carnaval, já não tenho mais ânimo e a morte de meu filho me deixou totalmente deprimido. E a outra, foi quem destruiu os sonhos:  Onde conseguir dinheiro para fazer um enredo destes?


É, e por aqui, no enredo do meu sonho, a saudade continha como principal instrumento de lembrança
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