Miracema: Oitenta anos de história

Por onde andei tinha sempre um caminho aberto para conhecimento, fui da minha Miracema até um lugar bem longe, como Viena, por exemplo, sonho de minha mãe em conhecer os "Destinos de Sissi, a Imperatriz", como Paris, onde ela queria ser a Lili do filme do mesmo nome.

Estudei o suficiente para falar o bom português e não encontrei dificuldades para usar meu inglês, de balcão de portaria de hotel, para me virar em Londres, nem meu espanhol, aprendido na tevê, como o italiano, para lidar com as pessoas em Madrid ou Roma, mas encontrei dificuldades para me comunicar com as pessoas em Praga, em Budapeste ou em Varsóvia. 

A comida, outra grande chateação nas viagens internacionais, também não me atrapalhou, aprendi, em Lisboa, que o "nosso" bacalhau é servido em qualquer bom restaurante europeu e que a "nossa" massa está nos cardápios dos mais sofisticados e até mesmo nos self service menos requintados mas com boa comida para os turistas brasileiros ou não. 

Certa vez, andando em uma excursão pelo Sul do Brasil, de ônibus, fui narrando, em cada cidade que parávamos, as comparações entre aquele ponto turístico e a nossa Miracema, que esta semana completa oitenta anos de idade, aliás oitenta anos vividos entre a ostentação, como no Sul, e de sofrimento, como no Nordeste, já fomos famosos e milionários, como a Grécia, e hoje estamos a beira do caos, como o próprio Brasil e como estiveram Espanha e Portugal. 

Mas somos fortes, temos nossos ídolos, temos nossos exemplos de homens dinâmicos e destemidos, como Ventura Lopes, Altivo Linhares, Melchiades Cardoso, Jofre Salim e tantos outros, que ficaria aqui atá o último parágrafo contando sobre eles, e que são tão heróis como Simon Bolívar, o Libertador das Américas, como os Gaúchos separatistas colorados ou não, como os heróis da Inconfidência Mineira ou Dom Pedro I, nosso libertador das garras de Portugal. 

Nas minhas andanças eu conto "causos", que a turma dos ônibus acredita ser daqueles inacreditáveis, falo das maravilhas de Miracema e já levei dezenas destes para conhecer nossa Princesinha do Norte e, se a cidade não agradou ou deixou a desejar, tenho certeza de que o povo da cidade encantou cem por cento dos nossos visitantes temporários e um destes até arranjou uma noiva por lá, na nossa Exposição, mas não sei se o namoro deu em casamento ou não. 

Numa destas viagens, em Valência, na Espanha, vi uma festa de rua tão animada que veio na minha cabeça aqueles carnavais da Rua Direita, mascarados, Pierrôs e Colombinas desfilando na tradicional Fallies, que praticamente para a cidade e bota o povo na rua, como nos áureos tempos dos carnavais de Miracema, claro que o luxo e a tradição não são iguais, tenho que compreender, mas a animação não me deixa dúvidas de que nossa festa um dia também foi das melhores. 

Em uma viagem destas, na Polônia, convidaram pessoas do nosso grupo e do outro que estava no cabaret para subir ao palco e dançar com a tradicional dança polonesa, a Polka, e sabem quem subiu? 

Aquele aluno da professora Onidéia Moreira, que em suas apresentações, chamada de Audição da Dona Onidéia, sempre incentivou a dança e em muitas delas lá estava eu, como estava naquele palco representando minha cidade, sim, representando minha cidade, porque quando o locutor, em um português enrolado, mistura de espanhol, inglês e alemão, me perguntou de onde eu era, adivinhe de onde eu disse? Sou de Miracema, a Princesinha do Norte Fluminense. 

Durante longos anos eu fui um dos correspondentes das emissoras do Norte/Nordeste brasileiro em Campos, e quando contava as histórias, aquele famoso "enche linguiça", contava uma passagem da nossa Rádio Princesinha, de Miracema, e certa vez um ouvinte, atento a transmissão de abertura de jornada para Americano x CRB/Alagoas, ligou para a emissora de lá, que estava em cadeia com a Campos Difusora, e perguntou se poderia coloca o avô dele, que se emocionou ao ouvir falar de Miracema, no ar. 

E lá estava o homem, me perdoe se esqueci o nome do distinto cidadão, que me fez algumas perguntas sobre o Seu Frazão, sobre o Vitor Cascudo, Seu Altino e tantos outros da Usina Santa Rosa, onde ele trabalhou em sua juventude até o fechamento da mesma. E, no final da conversa, ele me perguntou meu nome e respondi: Adilson Dutra, e o moço, de noventa anos e mente de uma criança, mandou de lá: - Não me diga que você é filho ou neto do meu amigo Vicente Dutra, dono do melhor bar de Miracema?

Aí eu chorei... Parei no mesmo momento e, agora, também paro porque não há mais chance de continuar escrevendo, as lágrimas já molham o teclado. 

Parabéns, Miracema, você é eterna no coração de todos os seus filhos. 

Comentários

TADEU MIRACEMA disse…
Palmas, muitas palmas para mais uma bela crônica. Falar de nossa terra é algo maravilhoso, pois só quem a ama pode escrever com tamanha emoção.

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