Histórias de trinta anos de rádio
Se aqui no jornal eu contei causos da cidade, falei dos amigos e das coisas de minha terra, por aqui vivi intensamente o jornalismo, minha paixão, o radialismo, minha melhor forma de viver, e o futebol, que está no meu sangue desde garoto pequeno na Praça Dona Ermelinda na "Santa Terrinha".
Por aqui falei com meus ídolos, narrei gols de título, na campanha da Terceira Divisão do C.E Rio Branco, clube que me viu nascer como setorista para a Campos Difusora, comentei grandes jogos, inclusive o primeiro da final do Módulo Branco, como a Terceira Divisão foi rebatizada em 1987, entre Americano x Caxias/RS, entrevistei grandes craques, com exclusividade e não como hoje que os jogadores só falam em coletiva.

Por aqui ganhei respeito dos torcedores dos três gigantes, até hoje me perguntam qual o time do meu coração e acreditam quando digo que não há preferência entre eles e sim um grande e profundo respeito pelas três torcidas que me aceitaram e me deram a alegria de ser setorista em cada um destes e levar diariamente as novidades do Calabouço, do Parque Tamandaré e da Rua do Gás, como nós contávamos nos microfones das emissoras para identificar Rio Branco, Americano e Goytacaz para os ouvintes.

Aqui, na Rádio Cidade de Campos, ganhei um dos dois prêmios que enfeitam minha prateleira e estão em minha memória como reconhecimento de tudo que fiz pelo jornalismo, fui BOLA DE OURO em 1987, que pela primeira vez foi internacional e, ao lado do meu grande ídolo, Jorge Cury, apadrinhado pelo amigo Geneci Pestana Alvim, recebi de JJ o mais cobiçado prêmio do radialismo brasileiro, e aqui um parentese para agradecer o carinho de Dawvan Lima, sem o qual não teria inscrito meu trabalho e conquistado a tão desejada BOLA DE OURO.

Foram 25 anos de trabalho em praticamente todos os veículos de mídia de Campos dos Goytacazes, Campos Difusora, Rádio Cidade de Campos, onde formamos a primeira equipe independente do Estado do Rio e conquistamos uma cidade de audiência, conquistamos porque éramos um time forte com Sérgio Tinoco, Pessanha Filho e Paulo Lacerda a meu lado e com o apoio de Luiz Augusto, Renato Borges, Luiz Paulo Ribeiro e José Augusto, tomamos de "assalto" o rádio do torcedor campista e marcamos presença em duas ou três temporadas consecutivas. Anos dourados e vitoriosos do rádio campista.

Conversei com os grandes craques e fui um dos craques do microfone da Difusora, falei com Zico, nos vestiários, no hotel e no gramado, chamei Romário no canto do hotel para uma exclusiva e o Baixinho me contou que nunca ouviu falar de Miracema e seu pai não nasceu na nossa terra, explico: Rolava um boato na cidade que Romário era filho do Seu Valeiro, funcionário da Casa Marcelino, e eu não poderia deixar passar em branco. Certo?

Sentei com Emil Pinheiro e Paulinho Criciúma, de boas lembranças para o torcedor do Botafogo, e vi que o atacante, além de grande jogador, é um ser humano da melhor qualidade e protagonizou uma cena que jamais esquecerei. Momentos antes da preleção uma criança do Espírito Santo, botafoguense fanática, com problemas sérios de nascença, queria conhecer o craque e... bem a história eu conto depois, mas ele foi até o saguão e pegou o garoto e foi para a preleção com ele no colo. Choro geral na portaria do Hotel Pálace e aprovação total de Emil Pinheiro para o ato de seu craque.

Nos microfones da Difusora, Cultura, Continental e Cidade pude conversar com Sócrates, Romerito, Roberto Dinamite e ver Célio Silva nascer para o futebol vestindo a camisa do Americano e fazendo um jogo impecável contra o Vasco da Gama, parando Roberto Dinamite e em seguida seguir para o Rio para integrar o elenco vascaíno várias vezes campeão.

Vi o último título do Goytacaz, na Série B, subindo para a Elite e no mesmo ano cair e nunca mais subir, mas sou testemunha que a torcida alvianil não se apequena e mostra força durante todos estes 25 anos de tentativa de retornar a Primeira Divisão do Rio. Vi, infelizmente, o fim do Rio Branco, o fechamento do Campos Atlético e não fui participante ativo do seu retorno, mas estou feliz com a presença do Roxinho na Segunda Divisão do Rio novamente.
Trabalhei com monstros do rádio brasileiro como Aloysio Parente, José Nunes da Fonseca, Josélio Rocha, conheci radialistas famosos e dividi com eles espaços à beira do gramado e sempre um tempinho para prosa com Eraldo Leite, Danilo Bahia (que saudade do amigo), Elso Venâncio, Cláudio Perrot, o incrível e extraordinário Denis Menezes, sempre atento e sempre carinhoso com os companheiros do interior.
Discuti e briguei, quase no tapa, com Gilson Ricardo, dividi cabine com Waldir Amaral e Jorge Cury, ouvi atentamente as prosas com Ruy Porto, João Saldanha e Doalcei Camargo, vi crescer Luiz Penido, que sempre acreditei que faria sucesso e tantos outros gênios que já nos deixaram ou que penduraram os microfones bem no alto.
Só fiz amigos, exceto Gilson Ricardo, e que hoje ainda trocam mensagens comigo e me fazem sentir importante e quando chego na terrinha e alguém quer um dedo de prosa, são muitos que me alegram com este pedido, um pelo menos lembra que já me ouviu por aqui ou ficava com o rádio de pilha colado no ouvido tentando captar as ondas médias e curtas das emissoras de Campos.
Encerrando vou me lembrar do meu tio Caio Picanço, taxista na cidade do Rio de Janeiro, que na hora do "Mundo da Bola", da Rádio Nacional, do qual fui correspondente em Campos por vários anos, aumentava o rádio do carro e dizia para o passageiro: "Este é meu sobrinho Adilson, lá de Miracema" e, em uma destas, quem estava no banco de tras era seu ídolo Luiz Mendes, que disse: "Este garoto é bom, vou trazer para a Nacional em definitivo".
Foi meu maior prêmio e foi o grande dia, segundo meu tio Caio, para ele e todos nós.
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