Lá em o chato outra vez...

Esta crônica tem dois personagens que já se foram, o primeiro foi o Sidney Fravoline, depois se foi o Jorginho, meus companheiros/amigos do Banerj e dos balcões e mesas dos bares da cidade. e hoje republico em homenagem ao Jorge Carlos Monteiro, que viveu este momento, e muitos outros, com este que vos fala. Saudades eternas meu amigo "Zói de Jeep".

Miracema tem algumas particularidades incríveis. Uma destas é o carinho com que seus moradores recebem os visitantes, principalmente aqueles mais abastados ou mesmo os que por aqui chegam e tentam fazer a vida. Certa vez, meu amigo Solon é que me conta, conheceu um cara que jogava um belo futebol e foi contratado pelo Miracema. 

Chegou, viu e venceu. Conseguiu até um emprego –daqueles que não precisava trabalhar- na Loja do Chicralla Amim. O cara era do tipo bonitão, simpático e tinha prestígio tanto com as mulheres ou com os homens. Foram dias, creio que uns vinte pelo menos, de paparicação até que, não sei por que, enjoaram do cidadão e quando entrava em um bar ou no cinema a frase era uma só: "Aquele chato do Roberto está por ali, vamos voltar". 

Isto, guardada as devidas proporções, também acontece comigo ou com outros miracemenses que estão fora da cidade. A gente fica dois ou três meses ausente e quando retornamos, para uma visita rápida, somos recebidos com tapete vermelho, cerveja da boa e até mesmo um churrasquinho em homenagem ao reencontro. Se a gente volta uma, duas ou três semanas seguidas já lhe servem cerveja quente, carne de gato e até mesmo uma frase daquela desferida ao craque Roberto. 

Não estou reclamando a hospitalidade dos amigos, mas é justamente assim que me sinto quando repito as visitas à cidade por uma ou duas oportunidades, é assim que o pessoal Tio Nilo's, e outros bares, que frequento me vê: "lá vem o chato que só bebe da boa e quer que a gente o acompanhe", e podem ter certeza, não acompanham mesmo, nem para fazer uma "graça" com o visitante. 

Agora estou fazendo chantagem emocional com esta turma, prometo que vou colocar aqui na coluna um "causo" e finalmente ganho um parceiro para uns goles da boa. Jorginho e Sidney até que tentam - confirma 
Amaury?- mas só o Micão (Luiz Antonio Dias) e os bicões me fazem companhia.

Fui a Miracema por quatro semanas consecutivas, vários foram os ótimos motivos para tal, quatro aniversários consecutivos de pessoas que quero bem e que fazem parte da minha história. Primeiro foi o Márcio Baby, lá na Laje do Muriaé, que completou cinqüenta anos e reuniu a família Freitas e os boleiros em uma festa maravilhosa. 

Depois foi a mana Celeste, que comemorou vinte e cinco anos ao lado do meu melhor cunhado, Arthur (acho que não posso usar mais esta saudação) em outra festa inesquecível. Na semana que passou foi a vez do bom Chico David, meu comentarista favorito, se tornar sexagenário, agora a Eliane, mana mais antiga, também chega aos sessenta. Viram só, motivos não faltaram, mas o povo já está me tratando como trataram o Roberto, com aquela velha frase: "Vamos voltar, o chato do Adilson está por ali". 

Em um destes rituais, do qual a visita ao bar do João Rigui faz parte, encontrei-me com o Chiquinho Louvise, um dos monstros sagrados da eletrônica, e recordamos nossas peripécias na Rádio Princesinha. Para quem não sabe ou não se lembra, o Chiquinho é o responsável por mais de cinqüenta por cento do sucesso de nossa equipe de esportes, foi ele quem inventou a "maleta mágica" que nos proporcionou as transmissões do Maracanã, do Godofredo Cruz e de tantos outros estádios ou campo de futebol da região. 

Pessoas como o Chiquinho deveriam ser sempre homenageados e não citados com aquela frase dirigida ao Roberto: "Lá vem aquele chato novamente", isto não pega bem para o gênio da eletrônica miracemense. 

Assim é a vida, as vezes somos obrigados a sumir para ganharmos notoriedade, se mantivermos nossa constante visitação o povo se esquece do que somos e nos trata como um chato. Por isto, se sentirem saudades de um amigo, peça-lhe que venha uma vez ao ano para uma prosa rápida e um longo abraço, assim a saudade diminui e a necessidade de vê-lo novamente irá florescer dentro de pouco tempo. 


Claro que tem aqueles, os verdadeiros amigos, que querem mais é que você se retorne em definitivo para te-lo por mais tempo ao lado, mas a minoria joga mesmo no time dos enjoados, aqueles que com três ou quatro dedos de prosas já estão saturados e loucos por ter ver pelas costas.

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