De bar em bar por aí

Entra verão sai verão e o povo reclama do calor, da chuva, da seca e jamais reclama da cerveja sem aquela temperatura ideal, com a chamada camada de talco por cima da garrafa, ou do tira gosto ruim e engordurado. 

Entra ano sai ano e o papo é sempre o mesmo no Armazém do João Righ ou no Bar do Cabeção, que por sinal primam pela cerveja estupidamente gelada e, no Tio's Nilos, do amigo Amauri Fontoura, o tira gosto vem no ponto certo e o papo sobre futebol é bem agitado tanto em  um quanto em outro. 

Entra janeiro sai janeiro e minhas idas e vindas até Miracema aumentam a cada ano e meu roteiro é sempre o mesmo, de bar em bar para a boa prosa sobre os grandes momentos do esporte na cidade e os pontos de encontros são sempre os mesmos e alguns mais frequentados, como o Snob's e o BDF, do meu amigo Sebastião, mas este ano vou sentir saudade de um grande amigo/irmão, o Néres Ricardo de Sá, o pai do Chiquinho e do Gustavo, se foi logo depois do Natal e está descansando no Oriente Eterno deixando por aqui uma grande saudade. 

Na Kiskina, onde para em local privilegiado, espero a turma da bola passar, puxar uma cadeira e sentar ao meu lado para prosear sobre aquele jogo, aquele gol feito, aquele gol perdido, aquela defesa espetacular ou uma cobrança sobre um personagem que esqueci de citar em minhas colunas aqui no Dois Estados. 

No João Righ tenho a sorte de encontrar, de vez em quando, o Celso, do Maninho, ou o Zé Pestana, joguei com ambos e os dois me alimentam com histórias incríveis e com fatos que não mais fazem parte da minha memória e que se transformaram em crônicas deliciosas e com alguma repercursão, tudo isto movido a uma Boa, sem tira gosto e sob o calor de quase 50 graus a sombra. 

Aliás, e a propósito, ali no Armazém do João, sou obrigado a ouvir algumas historinhas que chegam ser escabrosas de tão mentirosas que são, tem até gol de placa em certo campo da cidade que nem placa foi colocada por não ser a verdade verdadeira, no Cabeção tem amigo que me cerca e conta que jogou comigo, que fez acontecer e minha memória não lembra de nada que ele contou, mas por ser educado tenho que anotar e prometer que irei contar em uma próxima coluna. 

No BDF a turma que se encontra, pelo menos até a últma vez que por lá passei, tem histórias reais, quem não acredita em um causo contado pelo Cacá Moura, um dos grandes craques de minha geração? Quem irá duvidar de uma história contada pelo Tininho (hoje Celestino Tostes) que também desfilou pelos gramados da cidade com seu futebol inteligente?

E aí você, que me lê agora, irá pensar: "Pô, este cara só fala de boteco e de cerveja", e eu respondo: Onde é que vou encontrar assunto para desenvolver aqui no nosso Papo de Bola se não estiver pelos cantos da cidade ou pelos botecos da vida? Será que em um restaurante  de luxo ou em um consultório médico, vou encontar o Juquinha do Matadouro para me contar que ele fez e aconteceu? Será que vou ver o grande goleiro Zil contando sobre suas defesas e de sua sorte quando jogava contra mim em um salão de cabeleireiro?

Nada disto, continuo gostando de frequentar os bares do Mercado Municipal porque lá encontro sempre um atacante especial, o Guguta, que infernizou muitas defesas no seu tempo de artilheiro da Associação, Bandeirantes e Goytacaz. não vou encontrar o Guguta em um escritório de contabilidade mas por um destes eu encontro o César Feijó, que só não foi longe na bola porque não quis, ou o João Campeão, um zagueiro classudo que tem histórias para contar e estas são por mim avalisadas. 

Que venham outras andanças por Miracema, que venham idas até Paraíso do Tobias, para encontrar o Clóvis, o Clênio, o Zé Chacourt e tantos outros amigos do lugar e ouvir a turma contar sobre a classe de Totonho, os dribles do Boia, a raça do Toninho e os gols do Chiquinho.
Onde mais posso encontrar uma prosa destas? 

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