E a dor de cabeça sumiu após a chuva

Lembro -me bem de um sábado, dia de trabalho na Loja do Neffá, onde eu trabalhava nos anos 70, me bateu uma tremenda dor de cabeça, daquelas que não sabe como chegou e não vai embora nem a pau, e permaneci na loja simplesmente para cumprir minha obrigação, a vontade era sair correndo, passar na farmácia do Juju, comprar um comprimido e deitar debaixo de uma colcha e dormir até o domingo.
Tempo ficando feio, como vejo ficar agora aqui na nossa Campos dos Goytacazes, e o vento, do qual tenho um respeito que chega perto do medo, começou a soprar e o Neffá me diz, lá de dentro do escritório: "Feche as portas até a metade que o vento vai derrubar as tintas e as pias, e pode ir embora antes que a chuva venha".
Não sai, embora a dor de cabeça não tivesse passado, muito pelo contrário, o medo do vento e dos relâmpados até piorou, e após meia hora ou mais de expectativa caiu a tão esperada chuvarada, e não foi pouca, foi chuva para encher a rua e deixar muita gente feliz, principalmente quem morava na beira do ribeirão, que viu os mosquitos espantados com a água nova e limpa que correu a partir da chuva.
E quando os relâmpagos e o vento deram um tempo, a chuva seguiu forte, eu saí da loja sem guarda-chuva, sem capa ou qualquer outra proteção, e fui andando devagar, pelo meio da rua, naquele tempo ainda podíamos caminhar pelas ruas sem medo de ser abalroado por um maluco no trânsito, molhando dos pés a cabeça e sem pressa para chegar à casa.
Cheguei e fui recebido pelo Ralph, ainda um bebê, falando as primeiras palavras, e gritava para Marina: "Mamãe, papai está todo molhado, bota ele de castigo". Ri muito e entrei, com as roupas pingando e levando bronca da mulher, que havia feito a faxina do sábado, seu dia de folga nos colégios que trabalhava, e entrei para o chuveiro para completar o que a chuva havia iniciado.
E Marina perguntou: "E a dor de cabeça, aliviou?" Juro que havia esquecido da tal dor de cabeça, no trajeto da loja até minha casa, na Rua João Pessoa, com a chuva caindo sobre o corpo, me refrescando barbaridade, esqueci da dor e esta, como aquela propaganda do remédio, sumiu e ninguém sabe para onde foi.
E hoje, enquanto espero a chuva cair para limpar nosso Rio Paraíba, limpar as ruas e molhar a cabeça de quem a tem quente com os dias nervosos como os dos novos tempos, fico aqui recordando meus bons momentos na terrinha e do meu grande amigo Neffá Murched El Kouri, que como padrão foi muito bom e como um segundo pai foi muito melhor ainda. Saudade eternas do meu prezado e querido amigo.
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