Meu amigo Zebinho Dutra

Nos últimos dias de vida Zebinho me chamou e disse:  -Você foi um cara que venceu na vida contrariando todas as expectativas,  brigou comigo quando não quis trabalhar no bar, achou ruim quando te obriguei a tocar, por profissão, seu piston que tanto gostava, mas fez o que queria e seguiu seu caminho.

É, meu amigo Zebinho Dutra, segui meu caminho e, pensando bem, você foi responsável por isto porque não me interrompeu o sonho, não me encostou na parede para impor suas ideias, não me fez sentir diminuído quando saí de casa a procura de algo melhor ou voltei para casa quando não achei o caminho certo a percorrer na primeira tentativa.

Divergimos muito, meu velho pai, brigamos muito e sentimos o mesmo desejo no fundo da alma, que meu caminho fosse aberto com coragem e determinação e, seguindo seu exemplo, com muita seriedade e certeza de que o melhor estaria reservado sempre para a família.

Como você, meu amigo Zebinho Dutra, eu achei uma Lili, que não é Maria e sim Marina, que soube administrar minhas rabugices, herdada de ti, soube me fazer caminhar com as próprias pernas, que você, se quisesse, também o faria, mas não te condeno e nem te critico, soube levar seu bar na boa, do jeito que queria e com ele criou todos nós, cinco filhos e alguns agregados de plantão, e viveu feliz com sua Lili do jeito que eu vivo com a minha Lili.

Aprendi a jogar sinuca contigo, não tão bem, mas seus amigos me diziam que no futebol eu fui bem melhor do que você,  pelo menos fiz alguns gols que você mesmo aplaudiu e comentou comigo, após as partidas lá no estádio da Rua da Laje, que eu fazia gols complicados por ter mais coragem e mais talento que você. Lembra disto?

Só para encerrar, meu amigo Zebinho Dutra, até hoje eu não entendi como é que você fugia daqui de casa, em Campos, num piscar de olhos. Como é que uma pessoa, que se diz normal, chega na casa do filho, dos netos que você dizia ter saudade, dá um beijo em todos, almoça, finge que vai dormir e foge para rodoviária para voltar para casa? Só sabia que você voltava quando me ligavam de Miracema dizendo: “papai chegou aqui, o que é que houve?”

E eu sei lá, dava na “telha” e você ia embora sem mesmo se despedir da gente, como foi da última e derradeira vez que fui a Miracema para te ver, não deu tempo nem para um abraço, você foi, segundo o Guilherme Mercante, que me deu seu recado, falando de mim com meus amigos e me esperando para o último papo sobre o nosso Flamengo. 

E agora, aqui em casa, me perguntam porque estou triste, e eu não digo que é pela saudade e pela lembrança, se eu disser isto eu vou chorar como uma criança boba, que chora por perder o bichinho de estimação. Um abraço e uma lágrima para você, dê um beijo na sua Lili. 

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