A visita de Ermê Sollon


Fim de semana prolongado em Miracema e uma festa de reencontro promovida pela geração 70, que escreveu o nome na história da cidade e agora curte o momento nostalgia visitando a cidade para que as recordações sejam afloradas.

Tendo fazer um giro, prometido já há algum tempo, de boteco em boteco ou de bar em bar, desde a Rua da Laje, saindo lá das proximidades do Prudente de Moraes, até chegar próximo a rodoviária ou até mesmo na Rodagem. Convido uns dois ou três amigos para o evento, apenas o José Souto aceitou e prometeu participar da caminhada etílica saudosista idealizada por mim.

Porém, tem sempre um porém, no local escolhido para a saída quem é que chega? Ermê Sollon, o neto e um amigo lá da capital, que devido ao elevado calor que fazia na cidade e a somatória da idade dos dois amigos visitantes, cerca de 180 anos para a dupla, a caminhada etílica saudosista não se realizou.

A chuva caiu e ao invés de andar e sorver o tempo com geladas pelos botecos afora, escolhemos um para fincar nossa âncora e passamos a prosa sobre a cidade e suas histórias.

Certa vez este menino, que agora é um rapaz já com idade de comprar uma cerveja nos bares por onde passamos, deixou o velho Sollon em situação constrangedora, não sei se vocês se lembram quando contei por aqui, neste mesmo espaço, que o velho jornalista saiu pelas ruas de Miracema para mostrar a cidade ao neto e, com tanta emoção vivida e com tanto interesse do garoto, Sollon parou, sentou-se ao meio fio de uma calçada qualquer, e se pôs a chorar lágrimas de saudades.

Mas o final de semana estava prometendo muita alegria e nada de choros, apenas algumas lágrimas furtivas, caídas pela face como prova de que o amor pelos amigos e pela cidade ainda estava aflorado no coração de um miracemense fugitivo, por isto evitou-se falar nos bares desaparecidos, como o Líder, Pracinha, Careca, Vavate, Mocambo e outros lugares marcados em nossas lembranças.

Andamos apenas pela Rua Direita, não foi possível, pelos motivos citados acima, uma chegada nos bares e botecos da Rua da Lage e nem o ponto final nas imediações da Rodagem, mas a prosa fluiu de acordo com o que pensávamos e até Sollon Neto se saiu maravilhosamente bem no quesito conhecimento de história de Miracema.

O nosso visitante de primeira viagem, o amigo de Sollon, ficou sabendo das aventuras dos jovens que lutaram pela emancipação do município, a visita tão esperada ao seu velho amigo Jofre Geraldo Salim também não se concretizou,  o tempo era curto, a volta estava marcada para domingo pela manhã e o sábado teria que ser ocupado com visitas a diversos lugares pitorescos de Miracema, um casamento, um churrasco e um baile nos esperava.

Na primeira parada Sollon Neto queria saber mais um pouco sobre os políticos da cidade, perguntou sobre Altivo Linhares, sua história, sua vida, quis saber quem era Jamil Cardoso, sempre citado pelo avô em suas conversas, perguntou se Olavo Monteiro era mesmo um craque como Sollon conta nas conversas noturnas, sempre regadas a um bom vinho ou a uma cerveja gelada.

- Vovô, sempre que toma uma e outras, diz que todo mundo por aqui era craque e que o Miracema FC reunia os melhores jogadores de futebol de toda a região.

Fui confirmando o que Sollon me dizia, afinal ele viveu estes momentos gloriosos e, pelo que contavam meu pai e meu avô, este Miracema FC era mesmo da fuzarca e Sollon tem toda a razão do mundo para enaltecer aquele timaço.

- Ei, espera um pouco, grita o  velho jornalista. Eu não vivi nesta época, eu sei de tudo isto porque seu tio Ary me emprestava os jornais daquele tempo e eu, curioso, sempre gostei de ler e aprender sobre os velhos caciques, famosos coronéis e grandes craques do passado, me tira esta pecha de velho como o Vicente Dutra, sou bem mais novo do que o seu pai Zebinho, apenas vivi minha infância e pré-juventude jogando sinuca do Bar do Vicente e convivi com estes caras todos. Ainda não cheguei nos oitenta, me poupe, desabafou Ermenegildo Sollon.

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