Na cadeira do babeiro


No início do ano, creio que ainda estava curtindo Guarapari com a família, li sobre o cinquentenário do primeiro título mundial de Éder Jofre, nosso maior pugilista de todos os tempos, e no exato momento em que a manchete chegou no meu laptop a minha mente me transportou para Miracema, Rua Direita, salão de barbearia do Seu Gérson Coimbra, onde fui encontrar Eloi Natividade, um dos mais tranqüilos e competentes profissionais do ramo que conheci.

O que teria Eloi Barbeiro com Éder Jofre, por acaso ele lutava boxe ou era bravo ou violento? Nem pensar. Eloi, já disse acima, sempre foi um pacato cidadão, tranquilo e com uma paciência de Jó, basta você saber que sempre fui irriquieto e agitado e ele, com sua calma, tratava de minha cabeleira com categoria dos grandes profissionais.


- E então, conta aí? Dirão os apressados e eu atendo. Um dos adversários de Éder Jofre foi o mexicano Elói Mendes, batido por nocaute pelo nosso ‘Galo de Ouro” em decisão nos anos 60 e, de lá prá cá, passei a chamar o meu primeiro barbeiro favorito de Eloi “Sanches” Natividade, e como troco o amigo respondia: “Chegou o Adilson Ramos”, em referência ao cantor que fazia sucesso naqueles anos com “Sonhar Contigo”.


E lembrar do Eloi me faz voltar um pouco mais o tempo e encontrar um outro tranquilo e sereno profissional da tesoura, Oziel Guimarães, cujo salão ficava quase ao lado de minha casa e foi lá que vi o Thiara perder a vasta cabeleira, raspada por exigência do Exército Brasileiro, em 1968, fizeram fila na porta do Oziel para ver o barbeiro tirar algumas das cabeleiras mais famosas da cidade.


Rapaz, você já parou para pensar que barbeiro é sinônimo de tranquilidade e calma? Citei dois profissionais da velha guarda com o mesmo temperamento e com o mesmo nível de conhecimento da profissão e, para completar o time poderia colocar o Ailton Babeirão, que não perdia a tranquilidade jamais, e, mais recentemente, o Camilo e o Celso, ambos ainda em atividade na terrinha e que formam no mesmo grupo dos citados acima, tranqüilos, serenos e ótimos profissionais.


Oziel e Ailton já não estão entre nós, devem estar lá trabalhando lá no andar de cima com o Netinho, o Jeová, o Gérson e tantos outros, que nos meus tempos de criança eu chamava de “seu”, mas aqui, nesta homenagem singela aos homens da tesoura, deixo o senhorio de lado e faço minhas recordações com aqueles que um dia foram fregueses destes eternos barbeiros da terrinha.


Geraldo Lasqueta, lembram dele? Até hoje faz sucesso em Itaperuna, onde também se encontra outro cara tranquilo e sereno, que joga no time de Oziel e Eloi, e por algum tempo também botou a mão nos meus belos cabelos, o José Francisco, que ao lado do Lasqueta curte a fama na vizinha Itaperuna.


Já que não pode faltar o assunto futebol vamos render nossas homenagens ao Toti, um misto de goleiro e barbeiro, mas cá prá nós, bem baixinho, era ótimo com a tesoura e a navalha mas no gol do Miracema ou do Operário fez muita raiva aos torcedores.


Estou por aqui, botando o chip da memória para funcionar, disposto a homenagear outros profissionais do ramo, mas não encontro e por isto encerro o papo de hoje com lágrimas nos olhos, sabe quem deixei para o final: Francisco Damasceno Franco, meu eterno amigo e barbeiro dos últimos tempos na terrinha, Nenenzinho, um cara fantástico, alegre e grande profissional, mas deixou a nossa companhia muito cedo e hoje está lá em cima na Barbearia do Netinho e jogando no time do Gérson.


Saudações a todos e me perdoem se esqueci de um ou outro barbeiro do meu, do seu ou do nosso tempo. 


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