UMA NOVELA CHAMADA FUTEBOL

Neste período de carnaval, quando as famílias fogem da rotina e se refugiam em praias, casas de campo ou cidades pequenas, onde o frenético ritmo do dia a dia é atenuado pela vida simples do povo interiorano, é possível ouvir diálogos incríveis, principalmente quando estes veem do mundo da bola misturado com o mundo televisivo.

A Copa do Mundo se aproxima e o interesse feminino pelo futebol cresce espetacularmente, isto graças a globalização da tevê, que mostra jogos internacionais aos borbotões e fazem dos estaduais um pré-brasileiro de ótimo nível. A Globo, detentora dos direitos de transmissão de todos os campeonatos estaduais, faz, no horário nobre -aquele da novela das nove- chamadas para os jogos do domingo e isto aguça a curiosidade feminina, que está com o foco ligado na Copa da África.

Ontem, sentado à beira da praia, ouvi um casal proseando sobre uma possível diferença entre o futebol e as novelas. - Como se elas existissem, me diz Capistrano Arenari, meu parceiro neste retiro carnavalesco em Guarapari. Será que elas existem? Penso eu, imediatamente repassando a você aí do outro lado da telinha ou do jornal.

Então tá, tentarei, abaixo, explicar o que ouvi na areia da Praia dos Namorados:

- Você assiste novela todos os dias e não vê que todas são iguais e cada capitulo da novela de hoje se parece com a novela de dois ou três anos atrás, diz o maridão, já com algumas latinhas, da Boa, na cabeça.

- E você, seu teimoso, não acha que eu também já vi aqueles gols e aquelas jogadas no início de nosso casamento, quando eu, bobinha, fazia companhia a você com pena de te proibir ir aos bares ver os jogos com amigos? São as mesmas jogadas e só trocam os jogadores e as camisas dos times, o resto é a mesma coisa.

Estava a um passo de concordar com a senhorinha do lado quando o camarada resolveu dar o cheque mate na prosa. Tá certo, eu concordo contigo, mas o José Mayer deu “amassos” em cinco ou seis atrizes, por sinal todas com o personagem chamado de Helena, e o enredo é o mesmo de sempre, aqui, no meu mundo da bola, as jogadas podem até ser repetidas, um dia é o Ronaldinho Gaúcho, no outro é o Adriano, no ano passado foi o Ronaldo, dez anos atrás foi o Romário, o Bebeto...

O enredo pode ser o mesmo, mas os autores são diversificados e não ficam restritos ao temas de Gilberto Braga ou Manoel Carlos.

Aí a senhorinha pegou o chapéu de palha, jogou a toalha de lado, retocou a maquiagem e disse, com carinho: - Amor, eu vou até ali botar a conversa em dia com as meninas, vá até o quiosque tomar uma cerveja com seus amigos, tá?

É sempre assim, futebol e novela sempre serão empolgantes e jamais teremos capítulos repetidos, mas cá prá nós, que elas não nos ouçam, o capitulo das novelas a gente já conhece no início da semana e as revistas de fofocas sempre trazem o final.

E na bola, a gente sabe qual será o minuto chave do jogo? A gente sabe qual será o craque que beijará a bola no final da partida? Jamais, o futebol é mesmo uma caixinha de surpresas e as novelas serão sempre... Bem, deixa prá lá, quero continuar sendo lido por estas senhorinhas maravilhosas.

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