MUITO PRAZER: "EU SOU O CARNAVAL"

Passaram os dias e o carnaval de Guarapari ainda está na minha cabeça e meu pensamento está voltado para tudo o que vi naquela praia capixaba. O interessante é que, anos atrás, falei com os nossos governantes, através de seus assessores, que por aí, na nossa terrinha, poderíamos fazer o mesmo e “comprar a briga” por dias de folias bem mais interessantes aquela vista por aqui este ano.

Todos que me acompanham, nas páginas do jornal Dois Estados, sabem que não estive em Miracema nos dias de folia e fugi para Guarapari para ganhar uns dez dias de paz e sossego. Não sei o que se passou na Marechal Floriano e arredores nos dias de Momo, mas tenho certeza de que poderia ser melhor se houvesse um pouco mais de coragem para mudar, ou melhor, de voltar ao passado.

Há tempos eu falo de um plano para revigorar a Rua Direita e levar para os clubes tudo aquilo que vimos nas décadas de 50,60 ou 70, quando vimos a alegria do carnaval ser trocada pela música baiana, pelos pagodes sem nexo, pelo funk e rap. Era preciso fazer coisas diferentes daquilo que foi imposto, tipo chuveirada, inferninho e bailes movidos a axé e pagode, e nada foi feito. A justificativa era: “não dá mais certo” e que eu, pobre e saudoso folião, estava ficando “gagá.

Foi preciso quase vinte anos para que minha proposta fosse discutida, não pelos mandantes ou seus assessores, mas pelos amigos e conterrâneos, que encontrei por Guarapari. Eles assistiram o mesmo carnaval que vi por lá. “Cara, que coisa maravilhosa, nem mesmo confusão a gente está vendo”, era um comentário ouvido nas calçadas lotadas de onde o turista assistia os blocos de embalo, que passavam cantando marchinhas dos tempos de João Roberto Kelly e Zé Kéti.

Palhaços, mascarados, foliões fantasiados e crianças de odalisca, Barbie, marinheiro e outras inusitadas combinações. Não vi os blocos de sujos, aqueles que saiam pelas ruas, enfrentando o sol das duas horas, não vi bloquinhos como àqueles que freqüentavam as matinês do Aero Clube ou do Clube XV, mas vi grupos fantasiados na Turma do Funil, no bloco da Cachorra Louca e tantos outros grupos que desfilaram sábado, domingo, segunda e terça-feira.

Vi apenas uma escola de samba, sem financiamento da prefeitura, mas com apoio do comércio da cidade e lotada de gente da terra, que saudava o turista a cada metro que andava. O som valorizou a música carnavalesca, funk, axé, rap e pagode não foram ouvidos por este “chato de galocha” nos quatro dias de festa. O serviço de som funcionou perfeitamente e aqueles - os verdadeiros chatos - veículos de gente bacana, com som ligado nas grimpas, não circularam pelo centro da cidade.

Os bares estavam ornamentados com o tema da festa, tal qual os clubes nossos daqueles dias, serpentinas, confete e molhadores tradicionais - lança água- se faziam presente em toda avenida principal de Guarapari. Turistas mineiros, fluminenses, paulistas ou de outras praças brasileira, se misturavam com alguns grupos estrangeiros, como uma turma animada chegada recentemente da Itália para trabalhar em uma empresa de petróleo, que caiu na farra cantando em um português arrastado “´É com este que eu vou”, “Mamãe eu quero”, “Turma do Funil”, “Maria Sapatão, “Cabeleira do Zezé”, entre outras.

Não sei como foi por ai, o Renato Mercante me mandou algumas fotos da folia e até que gostei, não acompanhei pelo youtube, conforme o link que me mandaram, mas confesso que não me arrependi de ter trocado a folia daí por aquela de Guarapari.

Quem sabe que, no ano que vem, o José Souto e o próprio Renato, me convençam que estou completamente errado e volte a conviver com os amigos e conterrâneos também no carnaval?

Eu não sei se você pode dizer que conheceu o verdadeiro carnaval, mas por lá, em Guarapari, ele chegou prá mim e disse: “Muito prazer, eu sou o carnaval”.

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