A CENTENÁRIA DONA BILU
O tempo não passou para dona Bilú, uma senhorinha que beira aos cem anos e cuja atividade me impressionou. Bilu, me perdoe a intimidade minha cara centenária, vai a praia e não deixa ninguém lhe pegar a cadeira ou barraca, ela mesma as carrega e ai de quem insistir a prestar este favor.
Ontem eu conheci, mais de perto, esta mulher incrível e fiquei ainda mais surpreso quando descobri sua paixão pelo futebol. O seu conhecimento é vasto e sua memória prodigiosa me fez lembrar o jovem Yves, mas cá prá nós, ter dezessete anos e um computador à frente é fácil, não é?
Claro. Dona Bilu não tem memória impulsionada pelo Google e nem mesmo usa seu laptop para estas consultas, isto mesmo, a senhorinha tem um computador de mão que ela denominou com computador de bordo: “Carrego esta coisa prá onde vou e escrevo tudo o que quero por aqui”, disse Bilu.
Mais um ponto em comum entre mim e a centenária senhora, ela é apaixonada pelo futebol e, aqui a gente diverge, torce pelo Botafogo. Bilu fala de Heleno de Freitas com lágrimas nos olhos. “Homem bonito, craque e louco, não soube dosar sua vida e se foi cedo demais”. Sobre Garrincha ela conta histórias abrindo seu computador de bordo para mostrar crônicas que escreveu sobre o craque das pernas tortas.
Zagalo é um dos assuntos favoritos de Bilu, grande fã do ex-treinador. “Gostaria de ter a sua sorte, não para ganhar títulos, mas para acertar na loteria e fugir daquele inferno chamado Rio de Janeiro.”
O tempo passava depressa demais e algo incomodava a minha companheira de prosa.
- E aí, vai patrocinar uma cervejinha ou vai deixar esta velha aposentada pagar a conta?
Mais uma surpresa. Dona Bilu gosta de uma cerveja, da “Boa”, e detesta ter que beber latinha.
- Gosto mesmo é de sentar em um barzinho e pedir uma garrafa, diz já levantando para dar um pulinho até a água para se refrescar, e sem ajuda de ninguém, deixamos bem claro.
- Ei, rapaz, vamos até aquele bar com nome de time português, tem uma cerveja bem gelada por lá e podemos continuar nossa conversa.
Convite aceito e lá fomos nós para o Benfica, bar tradicional do centro de Guarapari, para satisfazer os desejos de Dona Bilu e saber realmente quem era aquela magnífica senhora que conheci, por acaso, nas areias pretas deste lugar espetacular que é Guarapari, onde tudo acontece.
Eu tentei falar, pelo celular, com meu amigo Zé Luis, o Categoria. Fiz duas ou três tentativas e desisti. Gostaria que o Zé compartilhasse conosco o papo super interessante, inteligente e descontraído que esta centenária senhora me proporcionava.
Enquanto eu tentava contato com o amigo ela pedia um tira gosto, bolinhos de bacalhau, para acompanhar a cerveja, em garrafa, que já estava servida e sorvida com prazer por Dona Bilu.
O nome do bar inspirou a companheira de mesa, seus vastos conhecimentos esportivos a levaram aos anos 60 e a decisão do Mundial de Clubes entre Santos e Benfica. “Foi o máximo, o tal de Pelé acabou com o jogo e vi tudo de pertinho, da geral do Maracanã”, narra com brilho nos olhos.
Claro que o assunto chegou ao presente e seleção brasileira não poderia estar de fora deste papo sensacional. Dona Bilu fez uma ressalva, eis aí mais um ponto em comum entre mim e ela: “Não falo de Dunga, é teimoso como a mula lá do sítio em Araras e ignorante igual ao porteiro do meu edifício aqui em Guarapari”.
Aí o assunto não se desenvolveu, falar de seleção e não criticar Dunga, recebendo em troca alguma explicação, como sempre faz o Zé Luiz, defendendo o treinador, não tem graça mesmo, não dá para reclamar da ausência de Ronaldinho Gaúcho e Hernandes ou agüentar Júlio Baptista, Kléberson, Josué e outros menos votados, como Felipe Melo, por exemplo.
Depois de meia dúzia de garrafas,escondidas sob a mesa por Dona Bilu, terminamos a prosa felizes e certos de que ali estava nascendo uma boa amizade:
- Até o ano que vem, meu caro Eusébio .
- Até lá, dona Bilu, mas Eusébio era meu pai, eu sou Adilson.
- Eu sei disto, meu filho, mas Eusébio foi um grande jogador e, como estamos aqui no Benfica bar, tudo me leva a Portugal.
- Um abraço e até o ano que vem, dona Bilu.
Ontem eu conheci, mais de perto, esta mulher incrível e fiquei ainda mais surpreso quando descobri sua paixão pelo futebol. O seu conhecimento é vasto e sua memória prodigiosa me fez lembrar o jovem Yves, mas cá prá nós, ter dezessete anos e um computador à frente é fácil, não é?
Claro. Dona Bilu não tem memória impulsionada pelo Google e nem mesmo usa seu laptop para estas consultas, isto mesmo, a senhorinha tem um computador de mão que ela denominou com computador de bordo: “Carrego esta coisa prá onde vou e escrevo tudo o que quero por aqui”, disse Bilu.
Mais um ponto em comum entre mim e a centenária senhora, ela é apaixonada pelo futebol e, aqui a gente diverge, torce pelo Botafogo. Bilu fala de Heleno de Freitas com lágrimas nos olhos. “Homem bonito, craque e louco, não soube dosar sua vida e se foi cedo demais”. Sobre Garrincha ela conta histórias abrindo seu computador de bordo para mostrar crônicas que escreveu sobre o craque das pernas tortas.
Zagalo é um dos assuntos favoritos de Bilu, grande fã do ex-treinador. “Gostaria de ter a sua sorte, não para ganhar títulos, mas para acertar na loteria e fugir daquele inferno chamado Rio de Janeiro.”
O tempo passava depressa demais e algo incomodava a minha companheira de prosa.
- E aí, vai patrocinar uma cervejinha ou vai deixar esta velha aposentada pagar a conta?
Mais uma surpresa. Dona Bilu gosta de uma cerveja, da “Boa”, e detesta ter que beber latinha.
- Gosto mesmo é de sentar em um barzinho e pedir uma garrafa, diz já levantando para dar um pulinho até a água para se refrescar, e sem ajuda de ninguém, deixamos bem claro.
- Ei, rapaz, vamos até aquele bar com nome de time português, tem uma cerveja bem gelada por lá e podemos continuar nossa conversa.
Convite aceito e lá fomos nós para o Benfica, bar tradicional do centro de Guarapari, para satisfazer os desejos de Dona Bilu e saber realmente quem era aquela magnífica senhora que conheci, por acaso, nas areias pretas deste lugar espetacular que é Guarapari, onde tudo acontece.
Eu tentei falar, pelo celular, com meu amigo Zé Luis, o Categoria. Fiz duas ou três tentativas e desisti. Gostaria que o Zé compartilhasse conosco o papo super interessante, inteligente e descontraído que esta centenária senhora me proporcionava.
Enquanto eu tentava contato com o amigo ela pedia um tira gosto, bolinhos de bacalhau, para acompanhar a cerveja, em garrafa, que já estava servida e sorvida com prazer por Dona Bilu.
O nome do bar inspirou a companheira de mesa, seus vastos conhecimentos esportivos a levaram aos anos 60 e a decisão do Mundial de Clubes entre Santos e Benfica. “Foi o máximo, o tal de Pelé acabou com o jogo e vi tudo de pertinho, da geral do Maracanã”, narra com brilho nos olhos.
Claro que o assunto chegou ao presente e seleção brasileira não poderia estar de fora deste papo sensacional. Dona Bilu fez uma ressalva, eis aí mais um ponto em comum entre mim e ela: “Não falo de Dunga, é teimoso como a mula lá do sítio em Araras e ignorante igual ao porteiro do meu edifício aqui em Guarapari”.
Aí o assunto não se desenvolveu, falar de seleção e não criticar Dunga, recebendo em troca alguma explicação, como sempre faz o Zé Luiz, defendendo o treinador, não tem graça mesmo, não dá para reclamar da ausência de Ronaldinho Gaúcho e Hernandes ou agüentar Júlio Baptista, Kléberson, Josué e outros menos votados, como Felipe Melo, por exemplo.
Depois de meia dúzia de garrafas,escondidas sob a mesa por Dona Bilu, terminamos a prosa felizes e certos de que ali estava nascendo uma boa amizade:
- Até o ano que vem, meu caro Eusébio .
- Até lá, dona Bilu, mas Eusébio era meu pai, eu sou Adilson.
- Eu sei disto, meu filho, mas Eusébio foi um grande jogador e, como estamos aqui no Benfica bar, tudo me leva a Portugal.
- Um abraço e até o ano que vem, dona Bilu.
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