JOSÉ, O MODESTO E NADA CARMO TREINADOR

Hoje é dia de homenagear a todos aqueles comandantes de times de bairros, distritos, povoados, etc e tal, que um dia se nomearam treinador e sentiram na carne o que é dirigir um time avulso. Muitos amigos, como Zé “Modesto” do Carmo, Geraldo, Adilson, Beirute, Botão, Chiquinho Maracanã, Ailton e outros desconhecidos de todos nós, um dia tiveram causos, como este, mas jamais tiveram a notoriedade que tem um Luxemburgo, Joel Santana e até mesmo Alexandre Gama, que pegou o ônibus e sentou-se à janela logo na primeira parada.

O time de Laranjais até que ia bem no campeonato, mas nunca tinha ido tão longe como naquela competição regional. A cidade, digo, o distrito, estava orgulhoso do feito e o assunto lá pelas bandas de Batatais era só um: O sucesso do Laranjais.

O time azul, não vestia laranja, era composto por jogadores esforçados, o melhorzinho era mediano e não havia craques vestindo a camisa endeusada pelos moradores. O time, segundo Do Carmo, tinha determinação e valentia. “Todos seguem a minha batuta e meus métodos intergaláctico”. O que isto queria dizer a gente não sabe, mas os métodos nada convencionais de Do Carmo, que usava o xingamento como base de suas instruções, fazia efeito e seu time vencia uma partida atrás da outra na Liga de Batatais.

A Rádio do Primeiro Distrito resolveu premiar o esforço do treinador e seus comandados e colocou um setorista (repórter exclusivo) no distrito, que enviava diariamente um vasto noticiário sobre o Laranjais EC. Serjão Salles, com dois eles, diretor do time interiorano, pedia para que o repórter Carlos Augusto desse força ao Do Carmo, pois o moço era modesto até no nome.

Em sua primeira entrevista o já famoso treinador foi profundo em sua análise: “Meu nome é José Modesto do Carmo, mas modesto eu posso ser, mas carmo eu não sou não. Se não seguirem minhas orde fico nervoso, de verdade, e sorto as cachorra”, dizia ele em sua narrativa ao bravo repórter da rádio Batatais, a primeira a dar as últimas.


E este linguajar do técnico, estava deixando sem sono toda a diretoria do Laranjais, e até o líder político do local, que por lá é conhecido como prefeitinho, afinal os jogos a partir daquela fase seriam transmitidas pelo rádio para toda a região. Zelosos pela imagem da localidade e preocupados com o que poderia falar nas entrevistas, resolvem substituí-lo, logo na grande decisão. E contratam para seu lugar, um famoso técnico da capital, daqueles de paletó e gravata e fala empolada...

E chega o grande dia... Terminado o primeiro tempo, o Laranjais parece irreconhecível: 3 x 0 para os visitantes. Atordoados, os jogadores não conseguem assimilar as orientações técnicas e variações táticas propostas pelo “professor”, que propunha mudanças alternadas do sistema 4-4 -2 para o 3- 5 -2 , com Over Laping, pelas laterais...

Atendendo ao apelo desesperado da torcida que urrava pelo velho Modesto, o dono do time tenta a última cartada:

- Busca o homem!...

E pela primeira vez na historia do futebol, um técnico foi substituído no intervalo...

E nosso herói, que assistia ao jogo da arquibancada, volta à cena, irrompendo pelo vestiário, já disparando suas máximas a torto e a direito:

- O time “tá” muito manso. Parece pardal de igreja!

- E o capitão, muito calado! Precisa bancar o cabrito entrando na faca:

Berrar o tempo todo!...

- Zagueiro tem que jogar quiném pé de milho:

PLANTADO!

- E tem mais:

- Atacante inimigo é feito cabeça de prego:

Tem que levar pancada, até sumir da sua frente!...

- Meio de campo não pode enrolar, tem que distribuir a bola igual a rabo de vaca:

Prum lado e pro outro!...

- A linha “tá” paradona! Esqueceu da tática do “tatu com porco?”“:

É Cavar e fuçar o tempo todo!...


E arremata furibundo:

Quando nóis tiver sendo atacado,

Arrecúa todo o time!...

E na hora do ataque, é quiném enterro de Coronel:

Vai todo mundo!...

Final do jogo: Em memorável virada, o Laranjais vence o jogo por 4 x 3, com o nosso bravo Modesto do Carmo sendo carregado em triunfo, nos braços pela torcida...

Um pouco menos “Modesto” e mais “Carmo” que nunca.

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