A MÚSICA CLÁSSICA E O ERUDITO FUTEBOL

Sou um cara que adora música, tenho formação musical e por alguns anos soprei um trompete, aquele famoso piston das bandas de música tradicionais, fui crooner de conjunto, hoje bandas de rock ou de músicas modernas, e, sempre que posso vejo bons programas culturais na tevê. A TVs Sesc e Senado proporcionam ótimos momentos musicais, para quem gosta da música clássica ou erudita. Quando vou a São Paulo acompanho meu guru, José Maria de Aquino, na peregrinação artística cultural, que sempre termina em um ótimo restaurante em algum ponto nobre da cidade.

Ou seja, nada de presenciar somente futebol. Certo dia o Célio Silva me convidou para ver Santos e Botafogo. Felizmente não vi a virada santista sobre o alvinegro carioca por 2 a 1. Olha, naquele dia era possível até ficar em casa, na do Zé Maria, claro, com meus olhos atentos a campanha de recuperação do Náutico, que goleou o Juventude por 4 a 1, mas não, aceitei o convite de Lídia, esposa do Célio, para ver um espetáculo no Museu do Ypiranga, ali perto de sua casa. Pelo menos por algumas horas, o futebol deixou de ser minha prioridade profissional e de lazer.

Fomos assistir a apresentação da Orquestra Sinfônica de São Paulo, que tinha na regência o maestro John Neschling. No cardápio, obras de Franz Liszt e de Ferrucio Busoni. Dizer que o programa é espetacular é economizar nos elogios. E quando sai do local passei a entender porque os fãs desse tipo de música torcem o nariz para os acordes simples do rock´n rool ou uma melodia mais simples feita especialmente para vender disco. Não digo que passei a ser fã de música erudita. Mas entendi um pouco da resistência dos seguidores e pesquisadores da chamada música clássica.

O amigo pode estar se perguntando, intrigado: afinal, qual a relação de um concerto de música clássica e o futebol? Simples: o episódio me fez reservar uma porção de compreensão aos cronistas esportivos que defendem o futebol arte das décadas de 1950, 1960, 1970 ou até 1980.

Pare e analise: por anos e anos, o sujeito conviveu aos domingos com craques do naipe de Didi, Pelé, Pepe, Garrincha, Rivelino, Gerson, Zizinho, Carpegiani, Zico, Reinaldo, Roberto Dinamite, Tostão, Dirceu Lopes, entre outros. Presenciou esses craques em estádios lotados e sem um pingo de confusão. Torcida Organizada era apenas sinônimo de fila na catraca. O camarada saiu às ruas para comemorar três títulos mundiais sempre sob o signo da arte e do talento. De quebra, ninguém era vendido ao exterior. Os campeonatos europeus eram eventos exóticos e que abrigava apenas atletas brasileiros que já tinham dado sua contribuição à Seleção Brasileira. Ou não tinham nada a almejar com a camisa amarela.

Hoje, o torcedor vê todos os dias um craque despedindo-se dos gramados brasileiros. Craques? Contentamos-nos com Toró, Pierre, Thiago Neves, Zelão, Gustavo Nery, Souza, Ibson, Marcel, Fernandão...tudo craque de segunda linha. Analiso o futebol europeu por um motivo: convivo com ele quase que diariamente, via tevê. Tenho amigos fanáticos por Liverpool, Manchester, Milan e Benfica, por exemplo, que só verei, ao vivo, se resolver fazer um tour pela Europa, mas para isto falta o principal, grana. Muita grana, a não ser que a Espn resolva me premiar novamente, com aquela passagem, para algum país europeu.

Tento analisar o que está próximo. E infelizmente, o quadro é terrível. Os jogos do Campeonato Brasileiro se transformaram em ringues com grama. O vale tudo prevalece. Fica a pergunta: como pedir complacência a quem já presenciou a fina flor do futebol brasileiro? Tenho visto uma imensidão de jogos pelos campeonatos europeus, já escrevi aqui sobre o assunto, e esta semana mais uma vez fiquei encantado com o trio de ferro inglês, Manchester, Arsenal e Liverpool. O Chelsea não está me convencendo.Mas o trio é fantástico, seus jogos, naqueles gramados que parecem tapetes verdes, são como um espetáculo dos Três Tenores, Pavarotti, Carreras e Plácido Domingos, você ouve em silêncio e aplaude no fim.

É duro admitir: os amantes da música clássica e erudita ainda possuem orquestras sinfônicas para manter a tradição e deleitar seus ouvidos. Já os aficionados do futebol arte só possuem uma saída: o aparelho de DVD de sua residência. Triste. Gosto das valsas vienenses, de Strauss, assim como gosto das belas jogadas de Cristiano Ronaldo. Sou fã de Schubert, mas não dispenso as atuações maviosas de Lionel Messi, que como Gardel nos deixa de queixo caído com suas interpretações. De Verdi, com suas composições rápidas e que fazem apologia ao amor e a guerra, tiro a comparação com o futebol italiano, sempre as voltas com brigas, mortes e amor sem compromisso.

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