Futebol é uma lição de geografia

Esta foi uma semana muito especial para este velho escriba. Bota especial nisto, afinal o meu Leandro, o Leandro Dutra, aqui do O Diário, terminou a faculdade e dentro de poucos dias irá receber seu diploma de jornalista. 

Aquele diploma que eu sempre sonhei e, por vários motivos, não pude recebê-lo, como muitos jovens de meu tempo que tiveram que optar por trabalhar para sustento próprio e deixar de lado a carreira tão desejada.

Olhando para ontem, e bota ontem nisto, me vejo no quarto de costura de minha velha casa, em Miracema, onde minha mãe, Lili, sentava com toda calma do mundo para tomar-me a lição do dia. 

Eu adorava, mamãe tinha sempre um bolo, um chocolate ou um salgadinho preparado para cada dia de estudo, olha que eu só era ruim em matemática, as outras matérias eu tirava de letra, e a geografia, que era “decoreba” pura, eu era fera. 

As capitais do mundo eu aprendi lendo as páginas esportivas de O Jornal, que o velho Vicente Dutra assinava e que chegava no dia seguinte, vindo de trem da capital do estado.

Hoje, conversando com estes meninos, apaixonados pelo futebol, sinto saudades daquele tempo dos jornais, único veículo, além do rádio “rabo quente”, a nos oferecer um pequeno noticiário sobre Roma, Londres, Berlim, Madrid, Lisboa, Estocolmo, Paris e tantas outras belas capitais do mundo. 

Os jovens de agora sabem onde ficam Manchester, Barcelona, Munique, Porto e outras grandes cidades deste planeta, basta dar uma olhadinha na tevê, que hoje nos oferece cinco canais fechados de esportes, e por lá estão em destaque estas cidades europeias.

Até a África, território que no passado a gente só conhecia pelos Atlas escolares, nos dias de hoje nos é mostrada quase que diariamente nos noticiários esportivos, afinal os grandes jogadores do mundo da bola são do continente negro, entre estes o grande ídolo do futebol inglês, Didier Drogba, que atua no Chelsea, clube que recusou uma imensa fortuna por seu passe.

Dona Lili ficava admirada quando eu respondia sobre as capitais do mundo. Dona Nerilda, minha professora de geografia, certa vez me tirou pontos porque eu escrevia mais ou menos assim: Capital de Portugal? Benfica, de Lisboa, pensava e escrevia assim, para depois escrever o correto, somente Lisboa. Capital da Espanha? Primeiro pensava no time, Real Madrid, para em seguida escrever Madrid. E assim desfilava todas as capitais, na ponta da língua e sem erros, claro que tinha que colocar o nome do time em destaque, caso contrário errava literalmente.

O Yves Lima, meu amigo mais novo, é um exemplo da modernidade que a tevê nos dá. O jovem, quinze anos apenas, sabe do mundo o que qualquer um cidadão, de minha idade, não sabia em seus tempos de guri. Isto é informação, é cultura geral, é prazer em ver futebol misturado com estudo involuntário. 

Qualquer garoto, da idade do Yves ou até um pouco mais velho, além da paixão pelo basquete americano, a NBA, sabe onde ficam as grandes cidades americanas e quais são as suas características, isto vem da informação da Liga Americana, que criou fãs pelo mundo inteiro.

Nos meses de dezembro, véspera de natal, a cidade recebe seus “boleiros” e os encontros destes são recheados de peladas e churrascos em grande estilo. Este ano, se é que eles virão, dois campistas que ganharam o mundo poderão ensinar a garotada alguma coisa sobre a Turquia e Portugal, Wéderson e Léo brilham intensamente com as camisas do Fernebahçce e do Benfica.

O primeiro, até pouco tempo, não passava de um ilustre desconhecido, mas com a chegada da caravana brasileira, liderada pelo Zico e que tem Roberto Carlos, David, Edu Dracena, Marco Aurélio e o uruguaio Lugano, que vestiu com sucesso a camisa do São Paulo FC, além do nosso Nunu, já faz parte da rotina dos frequentadores assíduos das transmissões internacionais, aumentada consideravelmente este ano com o time turco encontrando o bom futebol na Liga dos Campeões.

Experimente você, pai ou mãe destes meninos de hoje, dar uma olhada nas páginas esportivas dos jornais especializados, como Lance! ou Jornal dos Sports, ou até mesmo assistir uma destas transmissões pelos canais esportivos, tenho certeza de que aprenderá muito mais do que naquele tempo de lições de casa decoradas. 

Veja lá na internet a quantidade de links que a rapaziada olha para uma boa conversa de fim de noite. Aprendi muito com estes meninos e hoje recebo boas lições do Leandro, que dentro de pouco tempo me fará aposentar, com muito orgulho. Parabéns, meu garoto!

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