ARRUMANDO O ARMÁRIO DA GARAGEM

Se dar-te um beijo é pecado, eu quero morrer de amor... Assim dizia, em uma de suas belas trovas, o professor/poeta Osmar Barbosa, um dos grandes sábios que passaram pelo Colégio Miracemense nas décadas de 60 e 70, de onde saiu para brilhar na serra friburguense. Se amar-te é perder a vida... Completava o poeta nesta mesma trova de amor, não se sabe a quem dedicada, e por mim e pela turma da Gráfica Normalista, liderada pelo meu tio Ary, inserida em um de seus livros, “Para as mãos do meu amor”, que hoje achei amarelado, empoeirado, mas ainda com páginas livres dos arranhões ou riscos de lápis ou caneta de um depedrador qualquer.

Ao arrumar o armário da família, na garagem de meu prédio, além da bela surpresa de encontrar o livro de Osmar Barbosa, tive a felicidade de achar uma partitura de um dobrado, pena que eu não toque mais o meu piston, se não os moradores do Condomínio Itaparica, aqui em Campos, fechariam as janelas, desceriam à rua e me apedrejariam sem dó ou piedade, afinal o som estridente do meu instrumento favorito, aliado a má qualidade do sopro, seria demais para os amigos visinhos.

Liguei imediatamente para meu amigo, e guru, Ermenegildo Sollon, um expert em música e amigo do maestro Zeca Garcia, autor do arranjo em questão, e começamos uma conversa, que passou pelo Colégio Miracemense, onde estudamos, claro que em décadas diferentes, ele em 40/50 e o escriba aqui entre 60/70, meus professores, muito deles, eram seus contemporâneos e ao falarmos da Banda Sete bateu saudade do Daniel Pimenta, pai do Paulo, Lula, Bizuca, todos meus velhos e bons amigos, exceto o Adailton, que é o Bizuca, eram parceiros da nossa velha e boa Sociedade Musical Sete de Setembro, na ocasião regida por este mesmo Zeca Garcia, que apesar do jeito duro e severo, era uma doce criatura, e me fez apaixonar pela música e pelo piston.

Sollon me falava sobre um texto, do Mauricio Monteiro, sobre o coreto que o prefeito de Miracema, Carlos Roberto Freitas de Medeiros, mandou refazer e, pelo visto, ficará tal qual era quando ali subi, pela primeira vez, para uma retreta da nossa Sete de Setembro, era eu um guri de pouco mais de 12 anos, que pouco tempo depois chorava e lamentava a derrubada daquele ícone de nossa infância, mas pelo visto teremos novas emoções e vamos poder mostrar aos nossos descendentes como era gostoso brincar na Praça Dona Ermelinda.

Ali a gente não escrevia trovas, ensinadas nas salas de aulas de português, pelo professor/poeta Osmar Barbosa, não jogávamos basquete, orientados pelo professor Nézio, nem mesmo fazíamos ginásticas, liderados pelo professor Manoel Soutinho, mas corríamos do Neca Solão, que dominava a área, do Tinoco, um guarda de trânsito severo e impiedoso em sua missão de não deixar a bola rolar na grama do jardim, e mesmo assim formávamos, eu, Júlio e Gutinho (hoje o Tiara) bons jogos de bola de meia ou de borracha, e nossos adversários, as vezes o Custódio (hoje desembargador), o Ivan, craque de bola, Nandinho ou o Neném da dona Darquinha Cabeleleira.

O Mauricio Monteiro, permissão para reproduzir um pedaço do texto meu caro amigo, diz assim: “Eu não tenho dúvidas de que à medida que os tapumes que cercam o Jardim de Miracema forem retirados, ele irá figurar como o mais belo do Noroeste do Estado, um orgulho para Miracema que é pobre em matéria de Praças. Admirado desde os idos de 1922 quando o Presidente do Estado Nilo Peçanha o visitou. Ele, agora, foi projetado por técnicos e executado pelo Dr. Antônio Augusto Tostes, o Guta, que tem se esforçado para dotar nossa terra de uma praça que voltará a ser o Point da cidade como foi outrora. O mesmo acontecerá com a Praça das Mães. O coreto é uma réplica fiel do antigo, com todos os detalhes, e devolverá à cidade a sua marca registrada desde que foi inaugurado na década de 1930 pelo Prefeito Altivo Mendes Linhares que, mais tarde, muito se entristecia ao ver o Rink coberto com folhas de zinco: parecia mais uma tulha de fazenda desfigurando completamente o seu traçado original. Coube ao Prefeito Jairo Tostes desmanchá-lo e devolver o seu antigo traçado.”

Assim, meu caro prefeito, termino esta crônica enviando a você, meu companheiro de sala de aula, do Nossa Senhora das Graças, te abraço fraternalmente e agradeço por me fazer cantar Ataufo Alves: “Eu daria tudo que eu pudesse, prá voltara aos tempos de criança... Obrigado, Carlos Roberto.

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