AINDA TEMOS ESPERANÇAS?

Minha terra tinha palmeiras, será que ainda as têm? Minha terra tinha brilho intenso. Está perdendo a luz? Minha terra tinha gente de bem. Será que estão se dissipando? Minha terra tinha Ventura Lopes. Minha terra tinha Melchiades Cardoso. Minha terra tinha capitães corajosos. Minha terra tinha políticos arrojados. Onde andam estes respeitáveis cidadãos? Infelizmente Ventura Lopes, Melchiades Cardoso e todos aqueles valentes e abnegados conterrâneos não estão conosco, fazem reuniões eternas em outra morada e, acredito gargalham com tudo o que acontece por aqui após setenta anos de uma separação conquistada a ferro e sangue.

Nas minhas andanças pela “Santa Terrinha”, agora se escasseando, encontro amigos que me falam do passado, me falam de coisas lindas acontecidas no futebol, nas artes e na política miracemense. Hoje recordar o passado é uma constante, mas falar do futuro parece ser proibido por aqueles que ainda estão por lá. Por que não falar de um presente ruim e comprometedor? Acredito que seja consentimento por tudo aquilo que acontece na cidade. A Exposição foi um fracasso. O carnaval um fiasco. Os bailes já não existem mais, justificativa? “Está assim em todos os lugares”.

Legal. Vamos então fazer o que fazem em todas as cidades. Vamos sentar à beira da calçada e lamentar, como faziam meus avós e seus amigos nos finais de tarde. Vicente Dutra e Dona Maria esperavam a passagem do Custódio Cruz e Dona Sotera para que juntos aguardassem a dona Ubaldina, o Neném Braga, o Scilio Faver e outros vizinhos para uma prosa sobre o dia. Naquele tempo não havia televisão para preencher o vazio da noite e os homens trabalhavam pensando no amanhã e no futuro da cidade.

Na Rua Direita o Jofre Salim se reunia com intelectuais da terrinha para agendar os finais de semana, uma retreta da XV de Novembro, um baile no Aero Clube ou até mesmo um recital de Dona Maria do Carmo nos salão nobre da Sete de Setembro.

E hoje? O que fazer na terrinha além de encher a cara nos bares da vida? Qual a diversão de um jovem da cidade? “Larga prá lá, meu caro amigo. Você está querendo muito, a cidade não tem dinheiro e a prefeitura não tem recurso para um apoio maior a cultura e arte”, diz um poeta antigo e hoje enturmado no grupo dos puxa-saco de plantão. A cidade empobrece culturalmente e com isto vê seus jovens envolvidos em noitadas de bebidas e drogas. Uma terra sem amor a cultura e ao esporte. Não me venham com esta demagogia de que o prefeito está ajudando o futebol, vá aos estádios e confira o exagerado número de atletas de outras plagas que estão atuando nos times da cidade. Confira a idade dos jogadores e verá que a cada ano os novos estão perdendo terreno.

Dê uma olhada no que faz a Sociedade Musical Sete de Setembro, com uma direção forte e de pulso firme. A Banda Sete é um orgulho para a cidade e uma forte inspiração para os carentes de arte e cultura. Os meninos que ali estão sendo formados poderão ser os homens que precisamos no amanhã. Por lá se tem o mínimo exigido para dar um pouco de dignidade ao garoto, música e disciplina. Onde estão os saudosistas que não re-erguem a Banda XV, a centenária Sociedade Musical XV de Novembro?

Falam-me do Polaca com lágrimas nos olhos, mas o que fizeram para reverenciar a memória de Jair do Nascimento? Qual a homenagem que prestaram a este grande miracemense, que ao partir para outra vida levou com ele o carnaval e o futebol, sem deixar herdeiros. Falam-me, com lágrimas nos olhos, do Milton Cabeludo, do Lauro Carvalho, de outros tantos craques criados na terrinha, mas o que fazem no presente para formar novos miltons e novos lauros? Nada. Absolutamente, nada. Tocam a bola como se fosse apenas uma obrigação e nos períodos eleitorais os “políticos” da terrinha distribuem camisas de times, bolas e “bancam” até campeonatos de peladas.

Não quero insistir no assunto saudade, mas é impossível escrever sem lembrar-me dos grêmios estudantis, do Aero Clube, da Cabana da Piscina, da Associação ou do Primavera, locais freqüentados pela juventude dos anos 50,60 e 70, que foram destruídos pelas gerações que seguiram, não por culpa destes jovens, mas dos dirigentes que assumiram as entidades e não deram seqüência em um trabalho iniciado por grandes miracemenses.

Está na hora de se formar um grande e único bloco, o bloco da defesa de Miracema, sem conotação política, sem partido e com a participação de toda a sociedade da terrinha. Se está ruim dividida em quatro ou cinco grupos, cada líder trabalhando por interesse próprio, que tal agrupar todas as forças apenas a serviço do salvamento da cidade?

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