UMA HISTÓRIA DE NATAL

Hoje, já com o Estadual de Futebol à vista, é que vou escrever sobre o Natal. Está tudo mais calmo, passou a fúria consumista, abriram-se e já quase se esqueceram todas as amigos ocultos, e eu, estou a procura de um tempo de paz e de recuperação deste ano em que o Penta e o Brasileiro nos deixou muito desgastados emocionalmente.

Tive pequenos traumas, provocados, por incrível que pareça, por dois artigos, lidos num jornal qualquer. Lidos antes dessa época festiva, mas que tiveram efeitos catastróficos durante a Natividade. Um abordava a compra e vendas, tradicionais no nosso meio (“meu meio” significa: futebol, basquete e outros esportes), e outro sobre as mudanças de regulamentos e regras de nossos campeonatos, assuntos obrigatórios no final de cada dano.
Mas outros pensamentos me levaram a refletir bastantes neste período de fraternidade cristã. Tenho que ficar interpretando algo que aconteceu comigo durante alguns anos, como por exemplo:
Como interpretar a garrafa de Jack Daniel’s, dada por um colega do trabalho, que sabia que eu não gostava de whisky americano? A garrafa ainda é cara; logo, eu estaria acima de quem a ofereceu. Tanto mais que só lhe ofereci uma Bic e duas latas de Antártica (light!). Mas ao oferecer-me uma coisa que sabia que eu não gostava, não estava o colega a colocar-me num nível inferior ao que poderia supor?

E que dizer da minha irmã, que me ofereceu uma gravata de seda? Era um sinal de apreço, de respeito, ou um simples “vai morrer longe?” Ofereci-lhe um lenço. Não compromete, mas se esta gravata era para o meu enterro, o lenço terá a mesma utilidade.
Outro me ofereceu um livro. Tudo bem, eu gosto de ler. O livro era pequeno, cento e poucas páginas. Devo ter isso em atenção e pensar que se tivesse cerca de quinhentas, tipo Guerra e Paz, estaria mais bem colocado? Ou devo atender ao autor, Possidônio Cachapa, e ao título, “Viagem ao Coração dos Pássaros?” Dos pássaros? A pessoa sabia que eu não tenho um gato e nem duas gatas!

Estão percebendo o meu problema?
Claro que tive mais presentes. Mas pelo número, também não foi lá grade coisa. Todos os guris tiveram mais presentes que os adultos. Eu fiquei, em relação à quantidade, entre crianças e adultos. Mas que dizer daquele guri que só teve um presente? Uma oferta de quase toda a família. Eu fui à exceção, por motivos óbvios.
Mas o garoto, Santista e que tem Robinho como ídolo, passou um Natal melhor do que o torcedor do Flamengo, que só pode comemorar, na quadra, um titulo em 2002.

Quanto ao artigo que focava a troca de jogadores, tenho que confessar que originou uma grande confusão e, quase, um corte de relações com alguns amigos. O artigo sugeria que os times seriam reforçados com as “mercadorias” oferecidas com as melhores das intenções, mas que não nos serviam para nada, que deixássemos passar um ou dois jogos e que, depois, as oferecêssemos a outros clubes. .

Eu vi um quadro do Flamengo, com Zico e cia ltda, e pensei. Este eu vou oferecer ao meu amigo Ermenegildo Solon. Falei com Marina, minha mulher. Ela percebeu a minha idéia e arranjou um lenço, que nunca tinha usado, para dar ao velho Solon, afinal Solon não é destes amigos que se presenteia com um simples quadro velho.
Fizemos uma limpa nos armários e nos arquivos esportivos, todos destinados a um torcedor ou a um amigo oculto, ao final de um bocado de trabalho, tínhamos menos tralha nos armários e presentes para muita gente.

Bom, a idéia era boa, não havia mal na intenção, como é que gerou confusão e corte de relações, quase?

Eu explico!
Quem é que se ia lembrar que tinha sido o Solon a oferecer-nos o lenço? E que, quando ele, em voz alta, tivesse estranhado ter recebido de volta o que tinha dado uns Natais antes. Belo vexame, mas o que fazer, o tempo passa e a nossa mente, já desgastada pelos anos de uso, fica a nos pregar peças como estas, principalmente em nosso bom amigo e colaborador, Ermenegildo Solon.
Compreendem, agora, porque fiquei marcado por este Natal? O porquê dos meus traumas? O terror, já, do próximo? Compreende, agora, o meu pedido de ajuda?
Se calhar, é melhor começar a pensar em organizar um rali para o período do Natal. Não para o deserto, mas para o Pólo Norte.

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