TEVES E FELIPE NA VISÃO DE UM CANÁRIO

Estávamos, como de costume, tomando a nossa cervejinha do final de semana, no Para-Raio’s Bar, quando o amigo Canário adentrou ao recinto e na bucha perguntou: - O que vocês acham do Carlitos? Fiquei meio embuchado e não respondi, achava que viria por ali mais uma gozação do Canário. Motta, mais distante por ter ido ao banheiro, chegou e ouviu somente o final da pergunta e soltou em seguida: - Foi um dos maiores gênios que vi e um dos pais do cinema moderno. Respondeu achando que satisfazia seu amigo. Não satisfeito com a resposta o entrante Canário devolveu. – Ele pode ser gênio, mas ainda não jogou nada no Corinthians. Vocês estão acompanhando o noticiário, os argentinos estão liquidando o Coringão.
Dei uma boa gargalhada e a conversa chegou a todas as mesas e ao balcão, onde Paulinho e Flavinho morriam de rir e colocaram mais fogo na conversa, que começava a ficar animada depois de uns momentos de grande silencio proporcionado pela falta de assunto provocada pela decadência do futebol carioca. Antes da chegada do Canário estávamos falando em política, talvez influenciados pelo noticiário que dá conta de um possível terceiro turno em Campos, mas depois do Carlitos, não Teves (desculpe o trocadilho infame) papo que não ficasse descontraído.
Motta questionava a perseguição dos paulistas com os argentinos do Corinthians. - Meu caro Dutra, lendo o grande Armando Nogueira cheguei a conclusão de que os paulistas entraram na contra mão da história. Nada mais provinciano e descabido do que a campanha de parte da mídia contra a vinda pro Corinthians dos jogadores e do técnico Passarela. Até parece que, ao longo da história, não houve uma onda em sentido contrário. Tim, o famoso craque e treinador brasileiro, fez sucesso no futebol argentino, nos anos 60. No rol dos jogadores, Domingos da Guia, Heleno de Freitas, Delém, Paulo Valentim, Orlando Peçanha eram idolatrados quando jogavam em times argentinos. Lembra muito bem o nosso Motta, que por um momento se emocionou e novamente voltou ao banheiro para ver se as furtivas lágrimas de saudades ficavam por lá.
Ao lado de nossa mesa estava um grupo de garotos, todos ávidos por um papo com os mais experientes, com aqueles que freqüentemente estão por ali, no Para-Raio’s Bar, como se fosse em um estúdio de televisão ou de uma emissora de rádio. Acreditam eles, os meninos, que nós formamos uma verdadeira “Mesa Redonda Esportiva”, o que nos enche de orgulho. O garoto parecia ter pouco mais de dezoito anos, se tivesse menos o Paulinho não serviria uma cerveja da Boa para ele, me pergunta sobre a suspensão do Felipe. Eu, sem muito o que falar, todos sabem que não gosto nem do cidadão e nem do jogador, devolvi para ele a responsabilidade de comentar o assunto.
- É de morrer de vergonha ver a estupidez da agressão de Felipe a um adversário, o jogador Marcos Mendes. Mas, Felipe divide a minha indignação com o Dr. Sayone, advogado que o defendeu. Sou estudante de Direito e não admito o que este cidadão fez para tentar livrar Felipe de uma suspensão. Para ele, a pena de Felipe não pode ser tão mais pesada do que a de alguém que dá um soco em alguém no meio da rua. Ora, ‘doutor’, Felipe é uma pessoa pública. Seus atos têm uma evidência e uma repercussão que não se pode comparar com gestos de meros anônimos da vida em comum. A pessoa de renome tem uma soma de privilégios, por todos nós concedidas, aos quais correspondem irrecusáveis ônus. - Disse o jovem futuro causídico aplaudido pelos bebensais e comensais presentes ao nosso boteco favorito.

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