O ETERNO GOLEIRO RESERVA
Júlio sempre foi um moleque esperto, fazia estripulias como qualquer outra criança. Subia em árvores, jogava baleba, girava pião e ficava horas e horas trocando gibis com a molecada do bairro. Júlio não gostava de pique, muito menos de jogar futebol, coisa rara nos meninos de seu tempo. Seus pais sempre se ocupavam a buscar uma desculpa para justificar a ausência de Julinho das peladas e das corridas de pique bandeira.
- Seria ele um deficiente? Perguntavam seus companheiros. – Qual seria o problema de Julinho? Indagava outro. Mas o tempo passou e Júlio cresceu. Foi estudar na capital, gostaria de ser professor de matemática, seu gosto pelos cálculos me fizeram acreditar que seria um grande engenheiro, mas o mestrado ficava melhor para aquele garoto bonito, forte e com uma altura para ser um grande zagueiro e até mesmo um goleiro de grande porte.
Nunca mais se ouviu falar em Júlio no bairro. Depois de sua mudança, a família também abandonara a cidade e não deixou sequer um possível endereço para os amigos mais chegados. Julinho fazia falta nas rodas, nos bailes e até mesmo no campinho de pelada, onde estava sempre à beira do gramado perguntando como fora o lance que arrancava aplausos dos adultos presentes ao campo de jogo.
Vinte anos depois chega um novo professor de matemática na cidade. Um tal de Aragão, vindo da capital e com um ar de intelectual. Aragão chamava a atenção por nunca retirar os óculos escuros, de noite ou de dia lá estava ele exibindo sua bela coleção de óculos. – São de grau. Respondia sempre que questionado. Tenho fotofobia e preciso de proteção. A poeira do giz me prejudicou, desculpava-se.
Convidado a participar das peladas da turma aceitou. – Joga de quê, professor? – Sou goleiro. Respondeu imediatamente. – Vamos jogar hoje contra o colégio da baixada, vamos lá? – Contem comigo. Estarei por lá.
Hora marcada e nada do professor Aragão. A turma já estava preocupada, não havia goleiro disponível no mercado, mas o Arani resolveu o problema e foi para a meta. Assim que o time entrou em campo e o juiz começou a partida, o professor chegou. –Desculpem-me, tive uma aula particular e somente agora consegui chegar por aqui. – Tudo bem. Fica no banco. Aragão trocou de roupas e foi para o banco de reservas, de óculos escuros. E assim foi por mais de dois anos, Aragão no banco de reservas, de óculos escuros e sempre disposto a colaborar, mas nunca treinou e sequer jogou um minuto nesta longa temporada.
Aragão nunca se lembrava de um lance, jamais prestara atenção em uma jogada, estava sempre perguntando como foi este ataque ou aquela defesa. E veio o campeonato interno do colégio, o time de professores foi convocado e Luizinho foi levar o convite para Aragão. Ao conversar com o colega professor Luizinho observou atentamente um detalhe no companheiro. Você conhece o bairro como poucos, anda sempre sozinho e não me parece ser um forasteiro. Você não seria o nosso Julinho? Disparou.
O coração do nosso personagem bateu com força com a pergunta a queima roupa. Não poderia negar, mas o que fazer neste momento. – Você foi para a capital devido a um problema no olho, não foi mesmo? Continua Luizinho o seu interrogatório. – Você jamais jogou futebol com a gente e não conseguia correr nas brincadeiras de pique. Certo? – Certo, Luizinho, sou eu mesmo. Voltei para matar a saudade e para ficar perto dos meus amigos, não agüentava mais não ver ninguém na minha frente, tinha que esconder a doença, mas não podia ficar longe dos amigos de infância.
- Como consegue ser goleiro, Julinho, se você não enxerga quase nada? – Tenho apenas dez por cento da visão no olho esquerdo, o direito eu perdi e coloquei um olho de vidro, me viro nas minhas aulas porque decorei tudo o que ensino, mas para ser goleiro é fácil, sou goleiro reserva e jamais entro em campo para substituir o Arani, que desde criança foi um fominha de marca maior e por ser um tremendo cabeça de bagre foi jogar no gol. Na reserva dele consegui ficar perto dos amigos e ninguém sabe o meu segredo.
- E não saberão jamais, meu caro Julinho. Encerrou Luizinho.
- Seria ele um deficiente? Perguntavam seus companheiros. – Qual seria o problema de Julinho? Indagava outro. Mas o tempo passou e Júlio cresceu. Foi estudar na capital, gostaria de ser professor de matemática, seu gosto pelos cálculos me fizeram acreditar que seria um grande engenheiro, mas o mestrado ficava melhor para aquele garoto bonito, forte e com uma altura para ser um grande zagueiro e até mesmo um goleiro de grande porte.
Nunca mais se ouviu falar em Júlio no bairro. Depois de sua mudança, a família também abandonara a cidade e não deixou sequer um possível endereço para os amigos mais chegados. Julinho fazia falta nas rodas, nos bailes e até mesmo no campinho de pelada, onde estava sempre à beira do gramado perguntando como fora o lance que arrancava aplausos dos adultos presentes ao campo de jogo.
Vinte anos depois chega um novo professor de matemática na cidade. Um tal de Aragão, vindo da capital e com um ar de intelectual. Aragão chamava a atenção por nunca retirar os óculos escuros, de noite ou de dia lá estava ele exibindo sua bela coleção de óculos. – São de grau. Respondia sempre que questionado. Tenho fotofobia e preciso de proteção. A poeira do giz me prejudicou, desculpava-se.
Convidado a participar das peladas da turma aceitou. – Joga de quê, professor? – Sou goleiro. Respondeu imediatamente. – Vamos jogar hoje contra o colégio da baixada, vamos lá? – Contem comigo. Estarei por lá.
Hora marcada e nada do professor Aragão. A turma já estava preocupada, não havia goleiro disponível no mercado, mas o Arani resolveu o problema e foi para a meta. Assim que o time entrou em campo e o juiz começou a partida, o professor chegou. –Desculpem-me, tive uma aula particular e somente agora consegui chegar por aqui. – Tudo bem. Fica no banco. Aragão trocou de roupas e foi para o banco de reservas, de óculos escuros. E assim foi por mais de dois anos, Aragão no banco de reservas, de óculos escuros e sempre disposto a colaborar, mas nunca treinou e sequer jogou um minuto nesta longa temporada.
Aragão nunca se lembrava de um lance, jamais prestara atenção em uma jogada, estava sempre perguntando como foi este ataque ou aquela defesa. E veio o campeonato interno do colégio, o time de professores foi convocado e Luizinho foi levar o convite para Aragão. Ao conversar com o colega professor Luizinho observou atentamente um detalhe no companheiro. Você conhece o bairro como poucos, anda sempre sozinho e não me parece ser um forasteiro. Você não seria o nosso Julinho? Disparou.
O coração do nosso personagem bateu com força com a pergunta a queima roupa. Não poderia negar, mas o que fazer neste momento. – Você foi para a capital devido a um problema no olho, não foi mesmo? Continua Luizinho o seu interrogatório. – Você jamais jogou futebol com a gente e não conseguia correr nas brincadeiras de pique. Certo? – Certo, Luizinho, sou eu mesmo. Voltei para matar a saudade e para ficar perto dos meus amigos, não agüentava mais não ver ninguém na minha frente, tinha que esconder a doença, mas não podia ficar longe dos amigos de infância.
- Como consegue ser goleiro, Julinho, se você não enxerga quase nada? – Tenho apenas dez por cento da visão no olho esquerdo, o direito eu perdi e coloquei um olho de vidro, me viro nas minhas aulas porque decorei tudo o que ensino, mas para ser goleiro é fácil, sou goleiro reserva e jamais entro em campo para substituir o Arani, que desde criança foi um fominha de marca maior e por ser um tremendo cabeça de bagre foi jogar no gol. Na reserva dele consegui ficar perto dos amigos e ninguém sabe o meu segredo.
- E não saberão jamais, meu caro Julinho. Encerrou Luizinho.
Comentários