Minha história no "Triângulo das Bermudas".

Conta à lenda, que um menino tímido e magricela, nascido naquele pedaço que vocês hoje chamam de Triangulo da Saudade, fez daquele chão o seu habitat. Foi ali que aprendeu a dar os primeiros chutes, os primeiros sopros e as primeiras tentativas de ser um "pop star". 

O menino queria ser alguma coisa, e, incentivado pelas proximidades do TG 217 e pela amizade do Sargento Nilo, vivia dizendo que seria militar. Sonhava em frequentar a Escola de Três Corações, não se sabe para ser sargento ou para conhecer a cidade em que nasceu seu grande ídolo, Pelé.

Sempre olhava para um imponente prédio, logo a frente de seu quarto, todas as manhãs, quando saia para o Grupo Escolar Prudente de Moraes. "Acho que vou ser político". 

Dizia isto porque naquele prédio ele viu os grandes nomes da política miracemense, Altivo Linhares, Jamil Cardoso, Jofre Salim e tantos outros que naquele tempo pouco ou quase nada recebiam para levar o progresso e a civilidade para a Santa Terrinha.

Certo dia, depois de uma aula de catecismo com a Dona Climene Moreira, ele pensou em ser padre, afinal a visita à igreja era diária e os padres holandeses, Alberto, Luiz e Antonio, eram os seus mestres. Padres sábios, que fizeram despertar o lado artístico, o guri cantou no coral infantil e foi um dos matraqueiros preferidos dos padres. 

Não sabes o que é matraqueiro? Perguntem ao José Marcio Mercante, o Maçoca; ao Scilio Faver, o filho; ao Marcinho, do Mané Reinaldo; ao Ló Leitão, eles também tocaram matraca nas procissões de quarta e sexta feiras santas. Em tempo, para que ninguém pense maldade. Matraca era aquele aparelho de madeira, com peças de ferro, que substituía o sino, proibido na semana santa.

Nas tardes livres, o menino era trabalhador, as lições de música, com o Maestro Garcia, e as peladas do Rink eram sagradas. Quanto podia corria para o Ribeirão Santo Antonio, aquele pedaço entre a Máquina de Arroz do Marcelino e a Rua da Laje ainda era "nadavel" e os mergulhos no poço da palha eram uma rotina. 

O quarteirão era famoso, o Erasmo Tostes já escreveu um dia sobre os personagens que ali moravam. Quantas saudades!!! E um cantinho reservado no coração para cada um destes maravilhosos conterrâneos.

Quem pode esquecer do mau humor do Custódio Cruz, das broncas do Olegário nos filhos travessos, da calma do Caboclo, que fazia um pirulito que foi imitado no Brasil inteiro, dos “causos” do Deoclides, do sorriso do Tetinho, que ao lado do Demétrio era o grande auxiliar das domésticas e das mulheres da zona rural, eu disse zona rural, entendido? 

Como podemos passar em branco e não dar um pitaco, escondido, na pule do seu Cícero? Deixar de comer um pão quentinho do Garibaldi, em cuja padaria um dia o menino chorou porque sua irmã estava indo embora... ou morrendo... sei lá, em uma peça teatral encenada por ela, Gari Tancredi e outros artistas do Triangulo da Saudade. Era impossível.

Aquele cantinho é mágico, Tia Ricarda e seu Joel abriam as portas para o menino assistir a televisão e atrapalhar o jovem casal que para ali mudara, logo após o casamento. Eita! Triangulo danado. O jardim, com seu pé de jambo incrível. 

O Pepito, pai da Marley, tentava ensinar o oficio de alfaiate para o guri, mas ele, espevitado e inquieto, jamais quis saber de agulha e linha, seu negócio era a bola e nem mesmo as broncas de Dona Celeste e Dona Celinha, cujas paredes estavam sempre sujas devido aos chutes descalibrados da turma, que tinha: o Dua, o Inácio, o Nandinho, estes os mais novos, que sempre levavam cascudos do Nivaldo, Scilio, Marcinho, Hércules e Lacerda, os mais velhos.

Mas, porém, tem sempre um porém, o menino parava tudo, até a bola era esquecida, quando Adalgisa chegava do colégio. Aquele caminhar era acompanhado com um olhar pidão e cheio de malícia do guri, que sequer pensava em namorar, mas tinhas suas paixões, era volúvel demais. Hora era a Gracinha, ora a Jane; outro dia era a Zezé ou a Catarina; mais tarde a Cida, a Lúcia, a Pompéia. Todas estas moram no coração do guri até hoje, com respeito e muito carinho.

Eita pedaço danado!!! eita pedaço de saudade!!! O Coreto, quem foi o infeliz que derrubou o coreto? Bem, o Coreto foi seu primeiro palco. Ali cantou no programa de calouros do Mocinho e do Jorge Ripada, (lembram deles?) ganhando como prêmio, pelo primeiro lugar infantil, um lindo copo da Coca Cola, que ele guarda até hoje ao lado de seu primeiro troféu, ganho no Festival da Canção de Miracema.

Algum de vocês, que me leem agora, lembra da ZY qualquer coisa, aquele serviço de alto falante que funcionava no vértice do triangulo, ali... no Jardim de Miracema? Lembram sim... eu sei. Foi ali que a veia radialista apareceu e foi por isto que deixei o Seu Noqueta e o Seu Botelho para o final. 

Eles, além de pais de grandes amigos, um criou a Rádio Princesinha, ideia do Luis Fernando Linhares,e o outro me ofereceu a primeira oportunidade em escrever em um jornal, e abriram definitivamente as portas para que o moleque, aí já casado e com idéias diferentes daquelas passadas, pudesse realizar definitivamente o seu sonho. Depois eu conto mais.

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