Micaela - A Gazela Negra do Basquete

Enquanto assistia aos jogos de basquete, do Pan, pensava em qual seria a definição que usaria para homenagear Micaela, a leve e solta atleta miracemense do esporte da cesta. Encontrei algumas, mas existia uma diferença básica entre o meu pensamento e a realidade.

Eu pensava em poesia, mas o time brasileiro não era nada poético e obrigava o trio Janeth, Adrianinha e Micaela a matar um leão por jogo. E neste caso o que eu mirava para minha conterrânea foge dramaticamente de um leão. Pensava em um animal veloz, que tivesse na inteligência a sua grande arma. Pensava apenas, porque não encontrava este ser no mundo da floresta.

Pensei em vários, mas me fixei em apenas um, que fugia como um coelho assustado foge do Rei Leão. Foge porque o esforço físico não é a dele, mesmo porque, estes animais normalmente são magros e, na época em que não havia os preservadores, morriam as centenas, diariamente, ora triturados pelos predadores naturais, ora caçados impiedosamente pelos homens, o mais terrível dos predadores.

Meu pensamento estava voltado para esta definição praticamente os quatro tempos de andamento de uma partida. Tenho que encontrar um adjetivo para definir Micaela em uma crônica para o Papo de Bola, resmungava assistindo a tevê. Voltei à memória para Orlando Fumaça, que saiu como Neguinho, da nossa cidade e se criou com o nome e o apelido conquistado no Goytacaz FC. Passei pelo Célio Silva, que deixou a sua Miracema como um simples Celinho, virou Célio no Americano, anexou Silva, o sobrenome, no Internacional, chegando a um codinome - “Muralha Negra” - no Corinthians. Pronto... Era mais ou menos isto que procurava. Algo que pudesse adjetivar aquelas atuações não com prata ou ouro, mas com um nome que significasse: leveza, destreza e força.

Juro que estava pronto para definir a tal alcunha, mas não tinha certeza de qual o animal tirar todas estas qualidades. Eis que, de repente, o Alberto Bial, um dos grandes treinadores do basquete brasileiro, mata a charada e define, por mim e para todos os que estiveram no Maracanãzinho nas partidas do time do Brasil, o tão sonhado codinome para Micaela.

Ao ver a nossa conterrânea sair com a bola dominada, após um rebote em nosso garrafão, e partir com velocidade e elegância para marcar mais dois pontos brasileiros, Bial foi taxativo: “Esta é a Gazela Negra do basquete brasileiro”, disse em seu comentário no Sportv, e ainda completou: “Bela, rápida, altiva e produtiva”. Ponto final. Dizer o quê, após este comentário? Encontrei o que queria e defini a minha conterrânea Micaela para os meus leitores e amigos. Micaela é uma Gazela, uma Negra Gazela.

Se lhe parecer exagero, lembro-lhe que o que caracteriza o jogo é a leveza do corpo, que Micaela faz como uma dança quase frenética em busca da perfeição. O que é a dança, senão a vontade de bailar e flutuar? Micaela é uma dançarina na quadra, uma coadjuvante que tem status de uma “prima dona” e que usa o peso leve de seu corpo para flutuar em busca da cesta adversária.

Por isso, pode-se dizer que certos atletas buscam superar os limites físicos para alcançar seus objetivos, a medalha. E para chegar a este clímax usam de toda sua experiência, adquirida em árduas batalhas de treinamentos para deixar o corpo em eterno estado de rigidez, provocada pela tensão e pela repetição de movimentos, que não tiram de Micaela a espirituosidade, a meiguice e a naturalidade da Gazela Negra, citada por Alberto Bial.

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