MAIS UMA TRADIÇÃO SE FECHA

Fechou o Bar do Zé Careca!!!!! A mensagem, via internet, me pega de surpresa e o pensamento volta ao amigo Jobinha. O que fará o Jobinha a partir de hoje? Perguntei ao meu espelho. A resposta só veio no último dia do ano, lá na Santa Terrinha, quando me encontrei com o amigo e repeti a pergunta. Como te sentes sem o encontro diário no Bar do Zé Careca? A resposta veio com uma voz meio trêmula e que traduzia todo o seu desapontamento. “Está faltando um pedaço de mim. Não há explicações que possam ser aceitas, apesar de entender o que se passa no momento com a família”. Disse Jobinha, já preocupado em conseguir um outro pouso para seu habitual papo matinal.

Não vi o Chapadão, mas sei que vazio que sente é o mesmo do Jobinha, assim como o Rogério, o Cícero, o Paulo Costa, o Vandinho Mercante, e tantos outros freqüentadores assíduos e ferrenhos debatedores de todos os assuntos do cotidiano nas mesas do Bar do Zé Careca. O que pensa o Ferrugem? A esta altura curtindo o sol de Guarapari, e também fiel freguês dos salgados e dos papos do Bar do Zé Careca. Devem pensar o mesmo que José Maria de Aquino pensa. “Realmente uma pena, pela falta de onde jogar conversa fora, por ser um ninho, onde cada pássaro vadio – no bom sentido – tenha seu lugar reservado. Deve ter sido tão ruim como quando fechou o Bar do Farid”, desabafa Zé Maria.

E as mesas de sinuca, onde estarão? O Joel Gatti, o Teteu Linhares, o Arquimedes Barros e tantos outros craques do taco e da mesa de mármore, devem estar fazendo reuniões diárias no céu para tentar resolver os problemas dos parceiros de bolo e de jornadas históricas nos salões do Zé Careca. A referencia regional era notada, Michel, lá de Palma e outros notáveis jogadores, comprovam o que digo e devem também estar órfãos como o Jobinha.

Converso daqui, proseio ali, papeio cidade afora e ouço lamentos e desabafos. Primeiro foi o Mocambo, depois o Bar Pracinha, antes tinha sido o Bar Líder, o Farid fechou o seu tradicional ponto antes de partir para a eternidade e deixou um vazio que foi ser preenchido pela paciencia e honestidade do Zé Careca, que quando foi ao encontro dos irmãos Salim, do Farid e do Vicente Dutra, deixou o Ricardo, filho mais velho e conhecedor do assunto, como herdeiro natural, mas o Ricardo não pode tocar como queria, problemas de saúde impediram-no de seguir adiante e o fechamento das portas, que estava sendo aguardado há algum tempo chegou como um presente negativo de Natal.

Naquele pedaço de rua eu vivi bons momentos. O suco de laranja do Bar do Vavate, onde hoje estava o recém fechado Bar do Zé Careca, o sorve do Abdo, os pasteis do Bar Pracinha, o Lúcio, o Soninha, o Stenio, os irmãos (José, Jofre e Nacib) Salim, o Durval da Sorveteria do Abdo, quanta gente inesquecível e alguns ainda estão conosco e podem comprovar o que digo neste momento de saudade e tristeza.

A Rua Direita, vinte e cinco anos passados, já não é a mesma. Falta o brilho da rapaziada andando prá lá e prá cá aos domingos, falta o Crédito Real, o Ribeiro Junqueira (depois Nacional), falta o Banerj, o Mocambo, o bar do Geraldo Werneck, o Zezinho e seus incríveis e deliciosos picolés, este dois felizmente vivos, falta o Michel Salim, meu grande incentivador, a Lolinha, o Paulo Pires, o Chicrala Amim e sua Chevrolet, enfim, falta um pouco de tudo aquilo que só a Kiskina preencheu, mas ainda é pouco para quem gostava do movimento, do ir e vir às compras e das noitadas de sábado e domingo. Sorte a nossa por ainda termos o Jofre Geraldo Salim, glória eterna de nossa gente, mas falta um Melchiades Cardoso, de quem nem a lembrança de sua casa na Rua Direita temos mais.

Acho que estão faltando coisas demais e quando a saudade bate a gente descobre que está faltando um pedaço dentro de nós. Um dia ouvi de uma amiga, em uma destas reuniões informais. – Miracema está retrocedendo. – Nada disto, respondeu a outra amiga sentada à cadeira ao lado. Miracema precisava retroceder trinta anos para ficar melhor. Quando aqui cheguei o movimento era intenso e a cidade emergia, hoje, infelizmente, precisávamos mesmo é de um retrocesso, mas no tempo, para que voltássemos a ter esperanças no futuro da cidade.

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