LEMBRANDO O VELHO ZEBINHO
Hoje eu queria fazer algo diferente na coluna, uma homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, falar sobre suas crônicas esportivas, se você não sabe Drummond escreveu sobre Nilton Santos, comentou sobre Copas do Mundo e até deu pitacos sobre seus times lá de Minas Gerais. Gostaria de fazer uma ode a esta torcida alvianil, que ontem foi impedida e lotar o Arizão, por culpa de dirigentes que não acreditaram no futuro e ficaram, radicalmente, sonhando um sonho que se tornou impossível. Gostaria até de falar sobre o Joel Santana, que a cada dia inclui um causo no folclore do futebol brasileiro. Esta de mandar o Renato Gaúcho engraxar a sua prancheta foi o máximo. Você viu a cara do Gaúcho após o Fla x Flu?
Mas hoje eu vou lembrar do meu pai, terça-feira fará cinco anos de seu falecimento. Na quinta-feira, depois das duas expulsões, me lembrei o velho Zebinho, flamenguista fanático, que me levava, sempre que podia, de carona no caminhão do Juca Alvim, pai do Geneci e outro rubro-negro apaixonado, para ir ver o Flamengo jogar no Maracanã. Meu pai nos deixou no dia 23 de agosto, por uma destas coincidências do destino, dez anos após, num mesmo 23 de agosto, da ida de minha mãe, Lili, para o andar de cima.
Este texto, que me faz lembrar alguns diálogos entre fanáticos pelo futebol e freqüentadores do Bar do Vicente, lá na Praça Ary Parreiras, na terrinha, mostra a pureza dos debatedores, muito bem retratada pelo Zebinho, aqui no Godofredo Cruz, quando ele veio assistir Americano x Flamengo.
O Zico é mesmo melhor que o irmão, diz Orestes Casadinho.
- Que irmão?
- O Edu, do América, é irmão dele. Você não sabia?
- Mas como pode? - disse isso com os olhos esbugalhados, e foi saindo com tanta pressa, que nem tive tempo de perguntar o motivo de tanta surpresa.
Olhando para o Orestes o Zebinho perguntou. E aí, Casadinho, foi a Barbearia do Gerson ver o jogo na tevê?
- Que nada. Fiquei em casa escutando o jogo. Era Flamengo e Vasco, e o Dr. Bonzinho tinha me proibido de viajar com o Juca e não quis ver o jogo na tevê. Só que se sofre o mesmo, ou ainda mais, pelo rádio. Mesmo estando em quarentena e sendo vascaíno, até tentei torcer para o Flamengo, para alegrar o Duduca. Mas não deu. Quando Zico fez o gol da vitória, amaldiçoei o Galinho. Terminada a partida, fui tomar um ar, andar um pouco. Quando voltei, ele já estava em casa. Estava preparado para a gozação. Sabia que seria grande, afinal, o Duduca vinha segurando isso por anos. Não dava para alugar ninguém no meio do nada.
Para minha surpresa ele estava cabisbaixo. Nunca o tinha visto daquele jeito num dia de vitória do Flamengo. Aconteceu alguma coisa. Vai ver o descobriram!
- Que foi Duduca? O Flamengo ganhou cara.
- Mas o Zico...
- Ele acabou com o jogo, você não viu?
- O Zico cara. O Zico. Por que ninguém me disse? - quase chorando.
- Que tem o Zico, Duduca! - eu não agüentava mais ouvir falar aquele nome.
- O Zico cara... Ninguém me falou...
- Ninguém te falou o quê, deus do céu?
- Por que ninguém me falou que o Zico é branco caramba? Meus ídolos são todos negros, exceto o Dida, e agora o coloquei no meu time de botão no lugar do Fio Maravilha, aquele botão pretinho, pretinho, e o que vou falar para o meu filho, que tomou gosto pelo botão e pelo Zico imaginando ser um Galinho Preto?
Mas hoje eu vou lembrar do meu pai, terça-feira fará cinco anos de seu falecimento. Na quinta-feira, depois das duas expulsões, me lembrei o velho Zebinho, flamenguista fanático, que me levava, sempre que podia, de carona no caminhão do Juca Alvim, pai do Geneci e outro rubro-negro apaixonado, para ir ver o Flamengo jogar no Maracanã. Meu pai nos deixou no dia 23 de agosto, por uma destas coincidências do destino, dez anos após, num mesmo 23 de agosto, da ida de minha mãe, Lili, para o andar de cima.
Este texto, que me faz lembrar alguns diálogos entre fanáticos pelo futebol e freqüentadores do Bar do Vicente, lá na Praça Ary Parreiras, na terrinha, mostra a pureza dos debatedores, muito bem retratada pelo Zebinho, aqui no Godofredo Cruz, quando ele veio assistir Americano x Flamengo.
O Zico é mesmo melhor que o irmão, diz Orestes Casadinho.
- Que irmão?
- O Edu, do América, é irmão dele. Você não sabia?
- Mas como pode? - disse isso com os olhos esbugalhados, e foi saindo com tanta pressa, que nem tive tempo de perguntar o motivo de tanta surpresa.
Olhando para o Orestes o Zebinho perguntou. E aí, Casadinho, foi a Barbearia do Gerson ver o jogo na tevê?
- Que nada. Fiquei em casa escutando o jogo. Era Flamengo e Vasco, e o Dr. Bonzinho tinha me proibido de viajar com o Juca e não quis ver o jogo na tevê. Só que se sofre o mesmo, ou ainda mais, pelo rádio. Mesmo estando em quarentena e sendo vascaíno, até tentei torcer para o Flamengo, para alegrar o Duduca. Mas não deu. Quando Zico fez o gol da vitória, amaldiçoei o Galinho. Terminada a partida, fui tomar um ar, andar um pouco. Quando voltei, ele já estava em casa. Estava preparado para a gozação. Sabia que seria grande, afinal, o Duduca vinha segurando isso por anos. Não dava para alugar ninguém no meio do nada.
Para minha surpresa ele estava cabisbaixo. Nunca o tinha visto daquele jeito num dia de vitória do Flamengo. Aconteceu alguma coisa. Vai ver o descobriram!
- Que foi Duduca? O Flamengo ganhou cara.
- Mas o Zico...
- Ele acabou com o jogo, você não viu?
- O Zico cara. O Zico. Por que ninguém me disse? - quase chorando.
- Que tem o Zico, Duduca! - eu não agüentava mais ouvir falar aquele nome.
- O Zico cara... Ninguém me falou...
- Ninguém te falou o quê, deus do céu?
- Por que ninguém me falou que o Zico é branco caramba? Meus ídolos são todos negros, exceto o Dida, e agora o coloquei no meu time de botão no lugar do Fio Maravilha, aquele botão pretinho, pretinho, e o que vou falar para o meu filho, que tomou gosto pelo botão e pelo Zico imaginando ser um Galinho Preto?
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