CRAQUES QUE NÃO VINGARAM

Nas minhas idas e vindas a Miracema não faltam uma boa conversa de botequim, mesmo quando não bebo uma gelada, às vezes desce uma escondida. Minha presença nestes locais é fundamental para uma boa estada na cidade. Faço um giro quase que completo, ainda falta descobrir um bom lugarzinho na Rua da Laje, mas já me disseram que o Geraldinho, craque da bola, está com um local agradável, que tem um leque de bons salgados e tira-gosto de bom nível. Nestas andanças o assunto preferido é o futebol, principalmente quando encontro um parceiro do meu tempo, como lá no João de Deus, freqüentado pelo Celso e pelo Zé Pestana, dois dos bons jogadores de bola e bons amigos até hoje.

O velho escriba, Ermenegildo Solon, sempre comenta que eu vivo na saudade e falo demais dos boleiros do meu tempo. Motta, parceiro mais recente, me aconselha a falar daqueles que jamais quiseram jogar, apesar de terem sido abençoados por Deus com o dom e a arte do futebol. Neste aspecto, só me lembro do Júlio Barros, o filho do Seu Zé Barros, que era um craque que dispensava comentários. Júlio jamais levou a sério o futebol e só brilhou, pouco tempo, jogando no Vasquinho, do meu amigo Edson Barros, no Esportivo, dos inesquecíveis Clarindo Chiapim e Gerson de Alvim Coimbra, e na Associação, clube que chegou após a fusão do Esportivo com o Tupã, dos irmãos Moreira (Dalton, Nilson e Luiz Carlos).

- Quem, na sua visão, teria uma carreira brilhante e não foi bafejado pela sorte? Indaga Motta. Antes de responder, dou mais um toque em outro jogador extraclasse que também não quis compromisso com a bola, o Natinho Pestana (um belo jogador) que não aproveitou as chances que seu primo, Geneci, ofereceu a ele no Serrano e no Fluminense. Dizem, os fofoqueiros de plantão, que a namorada não deixou. Será?

Mas respondendo ao questionamento do Motta, explico. Foram três jogadores, que teriam carreiras brilhantes no mundo da bola, mas tiveram três trajetórias diferentes. O primeiro foi o Chico, filho do amigo José Felicíssimo, um atacante com faro de gol e com um nível de inteligência acima da média de sua turma. Chico aprendeu a ser ambidestro, para quem não sabe é o famoso chuta com as duas pernas, a cabecear de olhos abertos e sair da área para buscar jogo. Mas o destino lhe foi ingrato e numa destas farras, que tanto apreciava, acabou se envolvendo em um acidente de moto e, pimba, lá se foi perna, joelho e uma carreira.

O segundo, meu caro Motta, foi o Sidney Fravoline, este sim, craque que me encheu os olhos. Um problema cardíaco o tirou dos campos ainda moço, e fez com que abandonasse o futebol com muito para ser mostrado. Sidney dispensa comentários e, tenho certeza, é unanimidade entre aqueles que o viram atuar no Flamenguinho, nos times soçaite e salão do Banerj, onde também vi o terceiro jogador talentoso desta relação. Marcinho, um esguio negro, inteligente, arisco, com a bola de Edílson, aquele mesmo Capeta, nos bons tempos. Marcinho abandonou a carreira cedo e nunca mais tive noticias suas, como boleiro, é claro.

Viu só, meu caro Motta, como é difícil a vida de um pretendente a uma carreira futebolística? Garanto que por lá, em Miracema, poucos sabem do Chico, alguns se lembram do Marcinho, mas muita gente vai concordar comigo sobre o Sidney. O Chico, hoje um contador de histórias, vai gostar desta prosa de hoje, afinal ele sempre pede para que eu prove sua qualidade de boleiro, e, pensando bem acho que você, leitor/navegante, não terá a mesma oportunidade de ver o velho e bom Chico correndo pelos gramados como um verdadeiro atacante. Célio Silva, em seus bons tempos de escolinha da Associação, era fã do seu amigo e companheiro, mas não garante que ele iria longe na vida profissional, já naquele tempo gostava mais de uma bola de fogo do que uma bola de co

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