CRAQUES QUE NÃO VINGARAM 2

Eu escrevi, no NF Esportes, sobre os craques que não vingaram, era uma referencia aos meus contemporâneos, bons jogadores, que por um ou outro motivo não evoluíram no mundo da bola. Ontem, para minha agradável surpresa, o mestre José Roberto Torero, da Folha de São Paulo, escreveu “Os craques que não foram”, referencia aos paulistanos espalhados por toda a capital e vivendo como cobradores, vendedores, donos de bar ou profissionais liberais. Na minha crônica eu falava sobre Júlio, um meia acima da média da turma, e Chico, um atacante que foi parado apenas por um acidente de moto. Eles também poderiam ter sido grandes craques. Aqui, no calçadão, encontramos um punhado destes, que se citados tomariam conta da página e não do nosso cantinho deste domingo.

O Júlio, assim como o Natinho, ambos em Miracema, o João Renato, o Fred, o Diolício, aqui em Campos, jogaram futebol acima da média e só não tiveram a opção de tentar a vida de boleiro em um clube de grande porte ou sumiram por permanecerem longos meses em um banco de reservas, muitas vezes para jogadores protegidos por treinadores ou dirigentes, que até hoje ainda paira no ar sem que ninguém tome uma providencia mais séria. Todos estes, segundo o cronista que vos escreve e o cronista paulista, Torero, tinham talento, mas faltou-lhes chance ou até mesmo vontade de seguir em frente.

Quantos foram os times de garotos que fizeram sucesso por aqui? Centenas. Estes garotos cresceram, viraram rapazes e a vontade de jogar um campeonato campista floresceu. Os irmãos Ayres e Eraldo, amigos e sempre citados aqui neste espaço, têm causos, histórias e momentos deliciosos vividos no São Cristóvão, que são lembrados constantemente com um misto de saudade e alegria. João Renato, amigo desde os tempos de Banerj, fala, sempre com empolgação acima do normal, de seus tempos de juvenil do Goytacaz, onde brilhou e, segundo ele, só não chegou ao estrelato por ter que trabalhar e “futebol não dava futuro naquele tempo”. Os irmãos Santana, Orlandinho e Coliseu, também viveram seus momentos de craques, no Goytacaz. Se você for ouvir alguma historia desta dupla puxe a cadeira, são tantas que em uma destas é capaz de acreditar.

Quantos garotos se foram e deixaram marcas na história do futebol campista. Marinho, por exemplo, tinha como ídolo o craque Paulo Roberto, do Americano. Mas fale com o hoje senhor Mário Salles de Oliveira que o “Cabeção” jogou mais do que ele. “Nem pensar, meu caro Dutra. Ele teve chance e eu, por ter me contundido, não pude jogar com a camisa do meu Americano. Você precisava me ver jogando, fui craque e bem melhor do que o meu ídolo Paulo Roberto”, desabafa o corretor de seguros.

Zico, quando atuava nas peladas de ruas em Quintino, tinha amigos que juram até hoje jogar melhor do que o Galinho. Pelé, conta Torero em sua crônica, teve como companheiro um craque chamado Paçoca, que segundo a lenda jamais se conformou em ver o amigo de Bauru brilhando pelos quatro cantos do mundo. Hoje está esquelético e se tornou um alcoólatra incorrigível.

Lá na minha Miracema tivemos casos iguais. Lauro Carvalho, a lenda do futebol miracemense, carregava um time nas costas e na hora das conversas de botequim, após as partidas do Tupã, quem falava era Manézinho, um cabeça de bagre falador e contador de lorotas, que sempre foi, na sua “modesta” opinião, o melhor em campo em todos os jogos. Manezinho, para que vocês tenham uma idéia, joga no time do Fred, aquele que sonhou um dia ter jogado ao lado de Zico e ter sido titular no Goytacaz, que passa os dias no calçadão vendendo bijuterias de má qualidade e, de vez em quando, nos cerca para contar um causo seu como boleiro profissional.

Pra finalizar falo do Marquinhos, um ótimo meia esquerda, acabou desistindo de jogar em um grande clube. "Eu era jovem, não tinha muita paciência para esperar." Depois, aos 19 anos, quando já estudava em São Paulo, fez um treino no Palmeiras. Marcou dois gols, mas não se deu bem com o técnico e abandonou a idéia de ser jogador.
Logo depois passou num concurso do Banco do Brasil, sonho de muitos brasileiros naqueles dias. Com o tempo, formou-se em administração de empresas, subiu na carreira e se aposentou como funcionário do banco.

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