COPA 74: A PRIMEIRA NA ALEMANHA

A turma da “Santa Terrinha” estava disposta a repetir a festa de 70, mas assim como o time de Zagallo, que continuava comandando a seleção brasileira, nosso grupo já não era o mesmo. Muitos dos amigos, que fizeram o carnaval fora de época quatro anos antes, já não estavam na cidade e outros já estavam formados e fora do grupo de festa e “zoeira”, que marcavam as vitórias do Brasil em jogos de Copa do Mundo. Eu, já noivo e pensando em casamento, não abandonei a turma e fiquei responsável pela preparação dos instrumentos de percussão e sopro para os jogos da primeira fase, pois achávamos que seriam moles para o nosso time.

Havia uma grande expectativa quanto à participação da seleção canarinho na Copa da Alemanha. A equipe vinha de uma conquista gloriosa no México e, mesmo sem Pelé, tinha um elenco de respeito com Leão, Paulo César Carpegiani, Ademir da Guia, Rivelino e Jairzinho. Era o incrível esquadrão verde-amarelo chegando mais uma vez como favorito ao título. Porém, quando o torneio começou, a máscara caiu.

Alguns fatos marcaram o ano de 74. No Brasil, o general Ernesto Geisel, candidato da Aliança Renovadora Nacional, assume a presidência e enfrenta o fim do "milagre econômico", que sustentou a ditadura. A dívida externa chega a US$ 9,5 bilhões, a inflação chega a 34,5% e os salários são corroídos. A oposição cresce nas eleições parlamentares. Um acordo atômico entre Brasil e Alemanha é assinado para a construção de usinas nucleares.

Mas a festa, que se ensaiava bonita e barulhenta, foi perdendo a força em cada um dos jogos do Brasil. Nos dois primeiros, Escócia e Iugoslávia, dois empates sem gols e nenhum foguete lançado aos céus; no último jogo, ufa-ufa, contra o modesto Zaire, a conta do chá, 3x0, e uma classificação tirada na marra e na mediocridade das seleções do grupo B. A Escócia só venceu os africanos por 2x0, deixando o time de Zagallo com a missão de fazer um a mais para chegar em segundo lugar na chave, a Iugoslávia havia sapecado um 9x0 no Zaire.

A gente foi para a segunda fase sabendo que pegaríamos um adversário mole, Alemanha Oriental. Os donos da casa, os alemães ocidentais, forjaram uma derrota para os inimigos orientais, justamente para fugir dos brasileiros. Uma vitoriazinha minúscula, 1x0, gol de Rivelino, nos deu a chance de seguir em frente e pensar no tetra. Àquela altura, a turma já preferia uma pelada, no Ginásio ou no Rink, a ver os jogos do Brasil, na televisão. O feriado forçado nos dava esta chance e, por isto, trocávamos a telinha pela terrinha do Ginásio para suar um pouco correndo atrás da bola.

A única alegria que tivemos na Copa da Alemanha/74, foi a vitória sobre a Argentina, 2x1, e podem acreditar, foi o único momento em que, pelo menos alguns minutos, eu vi a cidade inteira fazendo festa e vi alguns foguetes subindo aos céus festejando uma vitória do Brasil, já que no jogo seguinte, por puro desconhecimento, o treinador Zagallo não sabia como armar seu time contra a Holanda, o fenômeno daquela Copa, e entrou em campo com um esquema superado.

Demonstrando um futebol defensivo e bem longe do apresentando na Copa de 70, a seleção brasileira termina em quarto lugar na Copa de 1974, perdendo da Polônia por 1 a 0. Enquanto isso, a Alemanha aproveitou o fato de jogar em casa e, após 20 anos, conquistou o seu segundo título mundial. Na decisão, surpreendeu a Holanda, a grande sensação da competição, vencendo por 2 a1.

Como o Brasil faturou a taça Jules Rimet definitivamente em 1970, a Fifa precisou providenciar a confecção de uma nova taça para os vencedores da Copa que recebeu o nome de "Copa do Mundo Fifa". Este novo prêmio ficaria em poder transitório do campeão do torneio por quatro anos e depois seria trocada por uma réplica um pouco menor.

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