A BOMBA SANTA DO OTAVINHO
No último dia da Expo, o frio resolveu chegar à cidade. Saí de casa de manhã e, passando pelo centro vi, com surpresa, meu velho amigo Solon, cuja última passagem por aqui me rendeu uma crônica bastante elogiada. Solon, saudosista e profundo conhecedor da cidade e do futebol, propôs-me um passeio pelo jardim, ele trazia uma máquina digital, novinha, e pretendia bater algumas fotos do lugar que julga ser o mais belo da terrinha. Fotografamos o parquinho, onde pudemos rever o Jorge Sabiá, nove filhos e quatorze netos, muito para os seus cinqüenta e poucos anos, mas o que fazer, a vida nos ensina a procriar, mas nem tanto meu caro.
Solon fitou o pé de jambo, aquele mesmo que há cinqüenta anos ele e seus companheiros de meninice invadiam constantemente sob os olhares ferozes do Cabo Atleta. Novas fotos. A fonte luminosa, que vimos juntos a inauguração, também serviu de fundo para algumas fotografias, mas ao pipocar de mais um flash ouvimos um barulho conhecido. O quique de uma bola. –De onde vem? Pergunta Sólon. Claro que é do Rink, meu velho. Respondo ao mesmo tempo em que aceno com a cabeça para que seguíssemos para a nossa velha e boa praça de esportes, que está reformada e do jeito que a molecada adora, tem até arquibancada, onde nos sentamos e iniciamos uma série de sonhos e recordações.
-Naquele gol ali, disse ao amigo, vi algumas grandes defesas do Zé Bolão, um dos maiores goleiros de futebol de salão que vi jogar. Digo a um Sólon quieto e pensativo. O amigo não responde, parece tomado pela emoção e seu rosto, avermelhado, ganha um colorido ainda maior com a chegada ao nosso antigo Rink.
Enquanto admirávamos a pelada dos garotos, não tão árduas e disputadas como as do nosso tempo, olhávamos pelas redondezas à procura de conhecidos, que poderiam estar passando na calçada do Manoel Soutinho, descendo da Rua da Laje, ou pela antiga casa do Dr. Renato, hoje com o Dr. José Barbi, aqueles que subiam rumo ao recinto da Exposição. Por ali passaram centenas de rostos desconhecidos, moradores recentes ou meninos ainda, cujos nomes ou figuras ainda não constavam de nosso chip de memória.
Ao ver passar o Mundinho, com o mano Fred, que calmamente observavam o movimento e conversavam relaxadamente, Solon teve um ataque de saudosismo, então iniciou uma narrativa incrível, que me agradou bastante e fui anotando, mentalmente claro, tudo aquilo que o velho amigo dizia, emocionado.
- Dutra, você se lembra bem do Otavinho da Casa Nova, disse. - Este cara tinha um chute incrível, o Lucho morria de medo dele e do Miguel, emendei. – Isso mesmo. O Otavinho me fez dar gargalhadas aqui no Rink e me lembro muito bem de seus potentes chutes com aquela bola, que naquele tempo era dez vezes mais pesada do que as que hoje são usadas no futsal. Certa vez, acho que foi num daqueles campeonatos superorganizados que se jogavam aqui, com o povo aglomerado na mureta de tijolos, não havia arquibancadas, e o que sobrava subia no muro e ficava em pé para melhor observar a partida.
Levantaram uma bola, em cobrança de lateral, o cara mandou um balaço que a pelota deve ter ido parar lá no Bar Pracinha, já que não voltou, foi preciso providenciar uma outra bola para reiniciar a partida. A galera começou a irritar o Otavinho, que errava naquele jogo acima da média. Em outros jogos o artilheiro do canhonaço acertava o gol pelo menos em três ocasiões, duas delas ficavam nas redes dos goleiros adversários.
O nervosismo do jogador aumentava a cada grito de gozação da torcida. “Otavinho vai comprar outra bola na Casa Nova”, gritou um rapaz atrás do gol de Zé Bolão. Foi o que precisava o nosso personagem para se vingar. Em uma cobrança de falta, no meio da quadra, parece que o Otavinho mirou no muro e mandou uma bomba incrível. A bola foi certeira. O rapaz, que há pouco gritara, recebeu o impacto daquele objeto pesado no peito e caiu quase dois metros depois do muro, pertinho da cerca do parquinho. Felizmente sem nenhuma gravidade, mas o susto que ele e o Otavinho tomaram, ainda está guardado na minha mente. Foi, sem dúvida, um dos melhores momentos dessa quadra.
Saímos dali com os olhos marejados, mas certos de que vivemos intensamente um pouco de nossos passados. Vistamos a exposição, subimos para ver o Morro do Calvário e finalizamos com uma Soda Limonada, no bar dos amigos Gustavo e Chiquinho.
Solon fitou o pé de jambo, aquele mesmo que há cinqüenta anos ele e seus companheiros de meninice invadiam constantemente sob os olhares ferozes do Cabo Atleta. Novas fotos. A fonte luminosa, que vimos juntos a inauguração, também serviu de fundo para algumas fotografias, mas ao pipocar de mais um flash ouvimos um barulho conhecido. O quique de uma bola. –De onde vem? Pergunta Sólon. Claro que é do Rink, meu velho. Respondo ao mesmo tempo em que aceno com a cabeça para que seguíssemos para a nossa velha e boa praça de esportes, que está reformada e do jeito que a molecada adora, tem até arquibancada, onde nos sentamos e iniciamos uma série de sonhos e recordações.
-Naquele gol ali, disse ao amigo, vi algumas grandes defesas do Zé Bolão, um dos maiores goleiros de futebol de salão que vi jogar. Digo a um Sólon quieto e pensativo. O amigo não responde, parece tomado pela emoção e seu rosto, avermelhado, ganha um colorido ainda maior com a chegada ao nosso antigo Rink.
Enquanto admirávamos a pelada dos garotos, não tão árduas e disputadas como as do nosso tempo, olhávamos pelas redondezas à procura de conhecidos, que poderiam estar passando na calçada do Manoel Soutinho, descendo da Rua da Laje, ou pela antiga casa do Dr. Renato, hoje com o Dr. José Barbi, aqueles que subiam rumo ao recinto da Exposição. Por ali passaram centenas de rostos desconhecidos, moradores recentes ou meninos ainda, cujos nomes ou figuras ainda não constavam de nosso chip de memória.
Ao ver passar o Mundinho, com o mano Fred, que calmamente observavam o movimento e conversavam relaxadamente, Solon teve um ataque de saudosismo, então iniciou uma narrativa incrível, que me agradou bastante e fui anotando, mentalmente claro, tudo aquilo que o velho amigo dizia, emocionado.
- Dutra, você se lembra bem do Otavinho da Casa Nova, disse. - Este cara tinha um chute incrível, o Lucho morria de medo dele e do Miguel, emendei. – Isso mesmo. O Otavinho me fez dar gargalhadas aqui no Rink e me lembro muito bem de seus potentes chutes com aquela bola, que naquele tempo era dez vezes mais pesada do que as que hoje são usadas no futsal. Certa vez, acho que foi num daqueles campeonatos superorganizados que se jogavam aqui, com o povo aglomerado na mureta de tijolos, não havia arquibancadas, e o que sobrava subia no muro e ficava em pé para melhor observar a partida.
Levantaram uma bola, em cobrança de lateral, o cara mandou um balaço que a pelota deve ter ido parar lá no Bar Pracinha, já que não voltou, foi preciso providenciar uma outra bola para reiniciar a partida. A galera começou a irritar o Otavinho, que errava naquele jogo acima da média. Em outros jogos o artilheiro do canhonaço acertava o gol pelo menos em três ocasiões, duas delas ficavam nas redes dos goleiros adversários.
O nervosismo do jogador aumentava a cada grito de gozação da torcida. “Otavinho vai comprar outra bola na Casa Nova”, gritou um rapaz atrás do gol de Zé Bolão. Foi o que precisava o nosso personagem para se vingar. Em uma cobrança de falta, no meio da quadra, parece que o Otavinho mirou no muro e mandou uma bomba incrível. A bola foi certeira. O rapaz, que há pouco gritara, recebeu o impacto daquele objeto pesado no peito e caiu quase dois metros depois do muro, pertinho da cerca do parquinho. Felizmente sem nenhuma gravidade, mas o susto que ele e o Otavinho tomaram, ainda está guardado na minha mente. Foi, sem dúvida, um dos melhores momentos dessa quadra.
Saímos dali com os olhos marejados, mas certos de que vivemos intensamente um pouco de nossos passados. Vistamos a exposição, subimos para ver o Morro do Calvário e finalizamos com uma Soda Limonada, no bar dos amigos Gustavo e Chiquinho.
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