Fecami - A festa da música de Miracema

Fecami de 1976 - E com Elke 
É bom ouvir de novo: "Vem aí o Fecami". Para quem não se lembra, tem meninos por aqui que não fizeram 36 anos e não sabem da existência do Festival da Canção de Miracema. Na minha casa têm três meninos que jamais irão esquecer do Fecami. Eu e Marina nos conhecemos ali, no palco, cantando músicas que falavam de amor, de esperança e de eternidade. São exatos trinta e cinco anos de felicidade, sem o desenlace acontecido com o nosso festival de música e com outros casais, aproximados pela magia do festival.

A Marley Serrano, minha tia, procurava o seu João. Coitada, morreu sem encontrá-lo. O Flávio Macedo, que também procura algo lá por cima, foi quem abriu as portas para este cronista, que pretendia ser cantor. O Fernando Nascimento, com seu samba sincopado, fez nascer uma ginga especial e Carlos Cirino, autor bissexto, achava que iria dobrar o mundo, mas conseguiu dobrar a platéia que acreditou que "Tudo dobra nesta vida".

Tempo de grandes descobertas, de medo, de fuga do cotidiano, de busca do desconhecido. Tempo de esperança, de tristeza e de muitos amores em vão, já dizia Caetano em sua Alegria, Alegria. O Festival da Canção de Miracema teve um significado muito especial para mim. Foi naquele palco, montado no antigo Cine XV de Novembro, que descobri algumas facetas de minha personalidade.

A primeira foi ser um intérprete, venci o I Fecami, deixando o excelente Sebastião Carlos com a medalha de prata. Aqui prá nós, eu acho que só venci por que era de Miracema e o Sebastiãozinho, um baita artista, era paduano. Daí, com o passar do tempo, me vi um apresentador, ao lado da Pingo-Elenora Salim-, depois, com o tempo passando ainda mais depressa, me pego sonhando como uma criança a espera de um presente de natal.

Vi o Fecami nascer, fazia parte do GEAO, Grêmio Estudantil Alberto de Oliveira, e ao lado do Reginaldo Rizzo, Gilson, do Luciano, do Guilherme, dos professores Zé Maria e Darcy, de tanta gente inteligente, que daria para encher duas ou três laudas citando nomes, e, como a memória não me ajuda, cito estes para reverenciar todo um grupo de amigos e colegas do Colégio Nossa Senhora das Graças, que um dia tiveram a grande idéia de mudar a rotina da juventude miracemense.

Quanta gente boa saiu dali. O primeiro a aparecer foi Carlos Gualter, este gênio incompreendido e pouco festejado em nossa Miracema. O Guti -Álvaro Augusto Lemos Lontra- figura impar no esporte e na musica miracemense, foi um dos vencedores. Por ali, no Fecami, passaram alguns conjuntos, hoje chamados de bandas, como o Paladdiun, o Circo, Apolo 7, e músicos extraordinários, como o Lamonivar Lessa, Bidica, Cláudio, Aécio, Zé Roberto –Gordo- e cantores que fizeram sucesso na MPB, Marcus Sabino e Biafra, que aqui chegaram com os niteroienses do grupo “O Circo”.

Tempo de alegria. Tempo de namoricos inconsequentes, que deixaram marcas e alguns casamentos, uns que não duraram ou duraram pouco, outros que duram por mais de trinta anos. Tempo de dançar de rosto colado, sem maldade (será?), tempo de serestas no jardim, com o Luiz Carlos Matos tocando o violão e a gente tentando ser acompanhado por ele. Tempo de sopros de piston e saxofone, de baile em varandas em casas das amigas.

O Fecami nasceu para ser vitorioso, infelizmente morreu pouco tempo depois por falta de interesse do colégio, das autoridades e de gente que pensava pequeno. Os idealizadores, os mentores dos primeiros festivais, tiveram que deixar a cidade em busca do futuro e o tempo parou para a cidade. Bem que o Fernando Miguel tentou, mas foi perseguido por ser idealista, alguns acreditavam que ele fazia do festival um meio de vida e impediram sua continuidade. 

Outros, como a Elenora Salim, a Pingo, ainda insistiram, mas como o Fernando não obtiveram êxito em suas tentativas de retornar com a festa da música. Como sempre faltou apoio da cidade e das autoridades.

Vejo, com alegria, a participação da Prefeitura no evento. Espero que não me apareçam forasteiros ou interesseiros em busca de lucro fácil. O Carlos Roberto, que acredito ter vivenciado o nascimento desta festa, está dando um presente a nós, velhos e esquecidos "artistas" e aos jovens, para que estes trilhem o mesmo caminho de seus pais, avós, amigos e camaradas miracemenses.

Nem tudo dobra nesta vida, nem tudo passou triscando o passado, as cores vivas e a lembrança do passado, estão estampados na figura maravilhosa de Zilda Santos, de Fernando Nascimento, de Carlos Gualter, do Guti, dos anônimos ou compositores de primeira hora –Paulinho Leitão e Otto Guilherme- que participaram de tantas competições musicais, e ficarão eternamente guardadas na memória destes contemporâneos incandescentes, como dizia o poeta vencedor do II Fecami, Raul Travassos.

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