A caixa de som que enlouqueceu o Armazém

São divertidas as noites de sexta-feira no Armazém, principalmente nos dias de visita do ilustre jornalista Ermenegildo Sollon, que dá um toque mais clássico na conversa, sempre com um tema diferente a cada chegada do meu guru à cidade e ao Armazém. 

Na última semana, por exemplo, o assunto foi música, mais precisamente os boleros, das grandes serestas que Sollon participou na Lapa, no Rio de Janeiro, ou na Rua Direita, em sua Miracema. Bolero também é a marca registrada do Carlinhos, nosso novo integrante do grupo de veteranos do Armazém, apaixonado pelo Trio Los Panchos e por Eidye Gormé. 

Canário, sempre irreverente, leva seu som e me pede para que ligue o bluethooth para que a mesa seja "abençoada" pelos boleros de Bienvenido Granda, Lucho Gatica e outros latinos "reis do bolero". E aí, o novo companheiro, Carlinhos, manda a sua primeira pérola para o grupo.

- Ontem eu recebi um zap falando da história do bolero "El Reloj", é linda e o autor foi supimpa na sua letra aproveitando o gancho de que sua esposa, adoentada, tinha apenas poucas horas de vida, e aí, sentado à mesa na sala de espera, escreveu os versos da canção de forma extraordinária. Contou o nosso novo integrante da turma do Armazém. 

E não contente com o relato, Carlinhos resolveu entoar um trecho do bolero, e cantou em bom tom, em português, claro, porque o amigo não domina o espanhol. 
- Relógio não marque as horas, porque eu vou enlouquecer... 

E no mesmo intante, o irônico Canário completou com um trecho de outro bolero.
- Espere um pouco, um poquinho mais... Nélson Ned, cantou Canário quebrando o clima de tristeza que Carlinhos estava provocando. 

Um riso só e mais pedidos de música na caixa de som, boleros incríveis apareceram e eu, comandando tudo no celular, através do aplicativo Sportfty, mandava todos os pedidos musicais como se estivesse em um parque de diversões, aquele que já contei aqui que fui locutor oficial. 

Lenílson, fã de Teixeirinha, pede Coração de Luto, Dudu, que idolatra Lulu Santos pede aquela que o surfista quer ir para Califórnia, todo mundo sendo atendido, se não tem no Spotify tem no You Tube mas ninguém fica sem ouvir a sua música na sexta musical do Armazém. 

Marcão pede os sambas de autores campistas, como Roberto Ribeiro, e assim a gente vai levando a noite, que parecia ter acalmado depois das emoções vividas por Carlinhos em sua primeira sexta de música no Armazém.  Motta, amigo pessoal de Sollon, botou água na fervura ao pedir "bota aí aquele cantor campista, que fez sucesso nos anos 60.

Paulinho, o veterano dos veteranos, já deslumbrado com a máquina de música, foi ao banheiro e  na passagem falou para Lenílson: - Quero ver esta maquininha tocar Ataíde Dias, aquele samba do Escurinho. Se tocar eu pago a rodada de cerveja. 

Sollon, que voltava do banheiro, ouviu e me contou sobre o pedido do velho Paulinho. Então chamei o Motta, que ficou preparado para aumentar o som da caixinha, e eu perguntei ao amigo quando ele retornou :

- Velho Paulinho, em respeito aos seus cabelos brancos tem a preferência de pedir a música neste momento. Vai querer ouvir quem e o qu?  Um bolero ou um tango? 
Já meio cabreiro e querendo me desafiar e aos aplicativos, Paulinho foi direto ao que havia comentado com Lenílson. 

- Quero ouvir "Escureceu" com Ataíde Dias, e duvido que tenha neste treco aí. 

Antes mesmo de falar a última palavra a música já estava tocando e Ataíde Dias abrilhantava a noite do Armazém, mas Paulinho saiu as pressas, sei lá se com medo ou com raiva, mas esbravejando;

- Esta coisa é do capeta... esta caixinha é do diabo... ela lê pensamento, eu vou embora daqui antes que eu fique louco. E saiu correndo em direção a sua casa. 

Não sei se foi a cerveja, o conhaque ou se foi mesmo o medo da caixinha de som, só sei que já chegávamos a meia noite e era hora da turma de reunir para a última rodada e caçar rumo de casa, afinal já não era mais sexta-feira. 

Comentários

Muito bom. Botequim sempre produz boas histórias.
Adilson Dutra disse…
Este aqui é caso verdade. Rsss

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