Na Kombi do Nicanor ou do Percy

Tem coisas na vida da gente que nós não esquecemos jamais, uma destas são as aventuras de juventude, as traquinagens de crianças, as peladas na adolescência e tem outra coisa que não sai da nossa cabeça, os dias de futebol pra valer, com amigos e companheiros de um time histórico. 

Mas hoje, aqui no nosso encontro semanal, o que me faz escrever são as viagens pelo redor do Norte Fluminense, naquele tempo não era Noroeste, em  que o Vasquinho ou Esportivo ou o Tupan ou a Associação Atlética Miracema rodavam em busca de amistosos e torneios não oficiais. 

E nesta busca vem um nome na cabeça: Nicanor dos Santos, ou simplesmente o Nicador "da Kombi", um baita cara, alegre, fanático por futebol, equilibrado e um motorista responsável e consciente de que carregava jovens vidas e uma turma que só lhe dava alegria dentro e fora dos gramados como ele sempre me contou. 

E escrevendo e procurando detalhes além do Nicanor o que me vem a cabeça? Percy, que era a opção que veio depois. Quantas viagens, quantos quilômetros percorridos para correr atrás da bola em qualqur gramado da nossa região? Centenas e mais centenas de quilômetros percorridos atrás de um sonho levados por estes dois grandes profissionais do volante e dois grandes homens que infelizmente não estão mais conosco, mas estarão sempre nos nossos corações. 

Em um  domingo destes fomos jogar em Santa Maria Madalena, uma estrada sinuosa, perigosa com curvas de fazer inveja as mais montanhosas estradas do planeta, e Nicanor sabia que ficar sentado por muito tempo, rodando o corpo de um lado para outro, poderia ser prejudicial ao nosso time, que chegaria em cima da hora e não teria tempo suficiente para relaxar a musculatura ou alongar como se faz nos dias de hoje. 

Nicanor estava além do nosso tempo. Viagem marcada para às nove da manhã, com chegada prevista para antes do almoço lá em Madalena, mas nosso "motoca" antecipou, por conta própria, a saída para às oito e fez duas paradas técnicas para que andássemos um pouco e tirássemos a tensão da viagem. 
Chegamos cedo e pudemos andar pela praça, hoje tem o Memorial da Dercy Gonçalves, almoçar tranquilamente e depois repousar um pouco e entramos em campo dispostos e refeitos da viagem sinuosa que fizemos naquele dia. Se ganhamos? Claro, uma bela vitória lá na Região Serrana. 

Numa outra viagem, creio que a Cataguases, já com a Associação, chegamos mais cedo e o Manufatura ofereceu um almoço, uma peixada, e Nicanor, experiente e rodado, chamou o Jaci e falou com ele que a comida seria peixe e que ele reclamasse imediatamente. Nicanor sabia que anos antes, em São João da Barra, o time almoçou uma peixada e depois foi uma goleada no lombo, ninguém conseguia andar. 

Pra encerrar, uma comigo, claro, que tenho que arrematar nesta lembrança gostosa dos amigos do volante. Fomos jogar em São João do Paraíso,  pelo Torneio Murilo Portugal, e como tinha compromisso no horário e meu pai queria ir comigo, não fui na kombi e sim no carro da mana Eliana, dirigindo. 

Chegando ao estádio, minutos antes de começar a partida, vesti o uniforme e quando entrava em campo o Percy, que havia levado a delegação, me chamou no alambrado e falou:  - Não corra forte antes de esquentar os músculos, pode arrebentar tudo.

Percy sabia o que estava falando e eu não dei ouvidos, infelizmente, e na saída de bola dei um pique para chegar a linha de fundo e... claro, caí no chão chorando de dor, os músculos, não aquecidos e não alongados, estouraram, como previra o veterano Percy. 

Grandes companheiros, grandes profissionais e, principalmente, grandes amigos e apaixonados pelo futebol de nossa Miracema. 

Comentários

Unknown disse…
Que linda homenagem!Obrigada por lembrar do meu pai com tanto carinho. Nize
Adilson Dutra disse…
É meu dever, meu compromisso com amigos e com a verdade. Demoro, mas conto a história dos meus heróis favoritos. Abraço forte

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