Histórias de viagem gente e causos

Gosto de contar histórias de viagens e conversar com os amigos da coluna sobre fatos interessantes, como as que vou narrar nesta postagem de final de ano. São "causos" com brasileiros, companheiros de viagens ou moradores das cidades por onde eu e Marina passamos nestes dez anos de turismo e seis viagens pelo Velho Mundo e América do Sul. 

Vou começar com um fato que teve como personagens, além de Marina, minhas irmãs Eliane e Maria Tereza, e aconteceu em Santiago do Chile, no Bi Centenário da Independência do Chile.

No Chile - Andávamos em círculos pelo centro da capital chilena, estávamos, literalmente, perdidos e passamos diversas vezes pelo mesmo prédio, em reforma, na principal avenida de Santiago. E, depois de quase uma hora andando sem rumo e sem encontrar o hotel em que estávamos, ouvimos um grito, lá do alto do andaime.

- E aí, campista, tá perdido? Você já passou por aqui umas três vezes e deu até para te reconhecer. Você é jornalista em Campos e "puxa saco" do Dr Eduardo Viana. 

- Acertou uma e errou outra, sou jornalista em Campos, mas puxa saco do Caixa Dágua? Acho que você exagerou, como é que me conhece?

- Fui segurança do dr Eduardo por algum tempo e sei das suas rusgas com ele, o puxa saco foi para puxar assunto, ele não gostava de você, com certeza, você falava o que ele não queria escutar. Vou descer aí e explicar o caminho que você quer seguir. 

E aí o cara desceu, explicou quem era, deu o nosso rumo e chegamos ao hotel em menos de dois minutos, estava na nossa frente e não percebemos, mas valeu a "perdida", pelo menos encontrei um cara que me deu motivos para um texto aqui no blog e no Dois Estados. 

Em Lisboa - Chegamos a Lisboa pela manhã e logo fizemos contato com um grupo de mineiros, eram seis (três casais) e quatro deles resolveram se unir a nós e marcamos um passeio de reconhecimento da cidade, antes de começar a excursão de vinte e dois dias pela Europa, para que também pudéssemos nos conhecer melhor. 

Andamos pela Praça das Nações, chegamos lá de Metrô, conhecemos alguns lugares interessantes e, à beira do Rio Tejo, resolvemos entrar em um restaurante para conhecer o verdadeiro vinho português e o famoso bacalhau, tão badalado durante todo o dia. 
Entramos e fomos recepcionados por um grupo de garçons e maitre brasileiros, bacana, sinal que iríamos ter a melhor indicação. Sentamos em uma mesa para seis pessoas, com visão para o esplendoroso Rio Tejo, como eu sonhava conhecer um dia, e um dos garçons, ao ver o sotaque de mineiro do casal a meu lado perguntou:

- Vocês são de Minas? De onde vocês são? 

- Moramos em Belo Horizonte, disse Gilberto, o cabeça do primeiro casal. 

E eu, que já sabia que eles eram nascidos no interior mineiro, disse:
- Diga de onde vocês são, Gilberto, eu sou de Miracema e moro em Campos, ambos no interior do Estado do Rio. 

E o garçom disse que conhecia Campos e aí Gilberto continuou escondendo sua origem, mineiro não gosta de dizer de onde é e diz que "sou mineiro" e pronto. 
Cutuquei a esposa dele e ela falou para o rapaz:

- Somos de Pedra Azul, pouca gente conhece e por isto dizemos que moramos, e é verdade, em Belo Horizonte, que todo o mundo conhece. 

- Pedra Azul, em Minas? Tem certeza disto?

- Sim, é uma pequena cidade. Eu não disse que vocês não conheciam, disse Gilberto ajudando a esposa. 

E aí, em cinco minutos, apareceu um outro brasileiro, o churrasqueiro do restaurante, querendo saber quem era de Pedra Azul. O casal se levantou, cumprimentou o funcionário e tomaram um susto tremendo. 

- Eu sou de Pedra Azul, e, como lá é pequeno, eu vou dizer quem sou: Sou filho de Dona Mariquinha, diretora do colégio e irmão da Bernadete, que é professora por lá e deve regular idade com a senhora. 

E esposa de Gilberto entrou em crise de choro e ficou estática, olhando para o rapaz. E, quando se recuperou, a surpresa foi tremenda para todos nós.

- Sou a Deinha, filha da sua tia Arminda, colega de colégio da Bernadete e você deve ser o Pedro, que saiu de lá ainda rapaz para ganhar o mundo?

Bingo!!! Era o Pedro e os dois se abraçaram, contavam as coisas de Pedra Azul e no final, bem o final foi o melhor possível. Comemos o melhor bacalhau de Portugal, bebemos o melhor vinho de Lisboa e ainda por cima ganhamos um belo desconto. 

Eu acho que daquele dia em diante jamais Gilberto e sua esposa esconderam de onde eram e me agradeceram durante todos os vinte e dois dias de viagem por aquele momento inesquecível. 
No ano que vem escrevo outros causos. 


Feliz Natal e ótimo 2016 para todos os meus leitores do blog e do nosso Dois Estados. 

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