Time dos sonhos

Estava ao lado de alguns amigos, veteranos de bola como eu, e relembrávamos as peladas do Ginásio, os treinos do Vasquinho, os timaços do Rink, do Esportivo e de outros grandes esquadrões da cidade, alguns que vi ainda pequeno e nestes estavam dois dos maiores talentos futebolísticos que vi jogar, Milton Cabeludo e Lauro Carvalho.


A pegada foi em cima do time dos sonhos, que montei em uma das minhas crônicas para este espaço. Nascimento, ainda não engolindo o meu ataque com Edil e Milton Cabeludo, me dizia que naquele time também faltara o Vadeco. 


Na hora retruquei e perguntei: E o Cleci Brandão, onde jogaria? Foi o mesmo que mandar o Nascimento engolir a lista que me apresentaria mais a adiante. Oliveira, ainda calado, preparava o bote para mais uma colocação. Foi imediatamente cortado com a resposta forte, ou seja, cada um viveu um tempo e todos nós temos um conceito de craques. 


Físico, meu saudoso amigo, veterano torneiro mecânico da oficina do Washington, por exemplo, dizia que Garrincha foi o maior jogador do mundo. Poso discordar do amigo? Não, claro que não. 


Se naquele time dos sonhos faltou alguém, para os mais antigos foi um ultraje esquecer o Zé Augusto, da família carinhosamente chamada de Chocalho. Eu abro um parêntese e faço a colocação desejada por eles. Vi o José Augusto poucas vezes, só em treinos, e quando eu era garoto e levava as chuteiras do Nigel para o estádio. 


Um craque o Zé Augusto, realmente, mas Tachinha, um craque pós Zé Augusto, também ficou de fora daquele sonho, o que prova que a imensidade de jogadores formados na cidade vai além da nossa imaginação. O Alvinho, outro incluído na nossa seleção de todos os tempos, tem o seu time, o Bitico, meu velho mestre, me colocava um outro grupo, que seria contrariado pelo Maninho, saudoso treinador e dirigente da cidade e que nos deixou dois craques que poderiam ser incluídos neste resgate. 


O Almir, que jogou pouco tempo e fez o seu nome na Associação e o Silvinho, que apesar de baixinho foi um dos mais espertos atacantes da minha geração. O Oliveira me dá um toque e me pergunta sobre as peladas do Ginásio, que formava tantos bons jogadores e uns, como o Guti Lontra, até hoje é lembrado pela sua fantástica habilidade no basquete e, alguns nem sabem disto, foi brilhante nas peladas das tardes nos gramados do Miracemense. 


Outros, que brilhavam somente naquelas plagas, sequer são citados em qualquer seleção, mas eram os primeiros a serem escolhidos pelos tiradores de par ou impar. Aquele time dos sonhos foi montado depois de um sonho de verdade, os nomes vieram a tona em plena madrugada, e quando acordei, assustado com as lembranças, me vi escrevendo aqueles nomes no jornal caído ao lado da cama. 


Foi um sonho, sim. Foram momentos incríveis, mas hoje, bem acordado e, conversando com vários amigos, tentei fazer o time dos sonhos de cada um, e infelizmente não foi possível. A discussão sobre nomes foi grande e não se chegou a um acordo.


Bizuca ou Sebastião Molequinho? Zé Navalha ou Zil? Lolinha ou Geneci? Olhe só, no gol já começam as dúvidas. Quatro gerações em campo. Coloquei a dúvida e os parceiros da conversa de botequim vieram com outras tantas. 


Quem batia mais, Ataíde ou Valdir, dois irmãos da família Chocalho, que deu craques como Zé Augusto e Ademir. Quem foi o grande talento do meio campo: Lolita ou Geraldinho? Tininho ou Júlio? Ademir ou Dequinha? Mais um confronto de gerações. E no ataque, Genuíno era melhor do que Milton Cabeludo? Careca ou Otávinho? Edil ou Chiquinho? Lauro ou Antonio José? 


Viu só amigo, sonhe e monte o seu time durante a madrugada, pois aqui, no boteco e com um punhado de cerveja para fechar a sua imaginação e sua memória, vamos ficar discutindo, analisando e, como você que está lendo agora, irá colocar um outro punhado de dúvidas em nossas cabeças cansadas e preocupadas com o descaso e a decadência do futebol de nossos dias. 


Monte o seu time dos sonhos e envie para adilsondutra@globo.com que iremos montar o melhor time da cidade, de todos os tempos. Sonhar, dizia o poeta, não custa nada.

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