O obrigado de José Maria de Aquino

Discurso do José Maria de Aquino, lido por mim, na Reunião Solene da Câmara de Vereadores de Miracema na ocasião da entrega da Comenda Dirceu Cardoso ao jornalista miracemense radicado em São Paulo. 

"Tantas vezes nesses 64 anos de exílio voluntário e necessário, deixei a dura cidade grande que tão bem me acolheu, para voltar, ainda que por um, dois, três dias, à minha pequena e eterna Miracema. Era só surgir uma oportunidade, para acomodar mulher e três filhos no carro e amanhecer na estrada. Sabendo que a alegria de rever parentes, meus tios, meus primos, de abraçar amigos, transformava os 650 quilômetros para ir e outros tantos para voltar, em poucos metros, alguns centímetros.

A ansiedade para chegar o mais rápido possível, transformavam em tapetes os buracos que se revezavam, ora do lado mineiro, ora do nosso lado, e tomavam conta das estreitas e sinuosas estradas. Era preciso trazê-los para conhecer pelo menos alguns personagens e os palcos onde vivi minha infância e pequena parte da juventude. 

Mostrar a eles onde ficava o Buarque de Nazareth, dizer que ali dona Glorinha, professora que jamais esquecerei, ajudou-me a construir uma base sólida. Visitar o Colégio Miracemense. Conhecer as cachoeiras do Conde, que ouviam como sendo iguais às Cataratas do Iguaçu. Ver o rio Santo Antônio, muito maior e mais bonito que o Tietê. Quase igual ao Amazonas. Saborear os bifes de pernil feitos pelo Farid, melhores que de qualquer dos famosos restaurantes paulistas. Pelo menos saberem quem foram dona Iraca, Maria Batuquinha, Nestorina, a disputada oradora dos antigos comícios, Briguela e tantos mais. Saberem que nenhum goleiro foi mais seguro que Dizim. 

Nenhum mais elegante que Damasceno. Ouvirem por outras vozes que Lauro Carvalho, colega de ginásio, era craque para seleção brasileira. Histórias que cansaram de ouvir - porque repetir histórias é a melhor maneira para se encurtar ao máximo as distâncias físicas. Tantas vezes corri pelas estradas com meus filhos, já agora com meus netos, que me cobram novas visitas, e outras corri também só. Pelo prazer de saborear lambaris pescados na fazenda dos Mouras, dividir boas geladas nas mesas do Bar Pracinha, do Careca ou na Barraca do Bode. Para abraçar meu amigo Bila, assinar o livro de ouro do Jair Polaca, que alegrava os carnavais da cidade em sadia disputa com Kalil.


Era só surgir uma oportunidade e pronto. Algumas para me encherem de orgulho, como ao receber o diploma de Cidadão Ausente número um, que me foi dado no início da década de 70, pelo prefeito Dr. Salim Bou-issa, E, mais tarde, o mino em Pedra Miracema, oferecido pelo prefeito Dr.Gutemberg Medeiros Damasceno, em festa que reuniu os jornalistas miracemenses espalhados por esse Brasil. 

Tantas vezes voei para cá com a certeza de curtir amigos, meus parentes, minha Tia Antônia, que logo chegará aos 110 anos de vida - sempre recebido com fidalguia pelo companheiro de oito décadas, verdadeiro irmão, Joubert Portes Mendes e por dona Maria Amélia. Tantas vezes corri e voei para cá -, deixem-me repetir -, que o faria mais uma vez, com maior alegria, emoção, prazer, agora que os representantes do poder executivo e legislativo da minha cidade me honram com a Comenda Dirceu Cardoso, doutor, senador da República, Secretário de Segurança e, mais que tudo, educador. Educador em nosso País que ainda pede e precisa de tantos outros educadores como ele. 

Nesta oportunidade, porém, não responderei "presente" ao chamado. Problema de saúde na família me prende a São Paulo.  Não poderei estar fisicamente, porque de coração jamais me afastei. Obrigado a todos. Ao prefeito Juedyr Orçay, aos nobres vereadores, aos meus amigos, aos meus conterrâneos. Muito obrigado mais uma vez."

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