A primeira exposição ninguém esquece

Se a memória não me pregou uma peça era uma tarde de algum dia de março, no longínquo ano de 1964, que, ao chegarmos ao Estádio Municipal Plínio Bastos de Barros, eu e toda turma do Time do Bitico, recebíamos a notícia: “Hoje não tem treino, o pessoal da prefeitura está começando a arrumar o lugar para uma tal de Exposição Agropecuária”.

Fizemos cara de espanto, encostamos na porta do vestiário para acompanhar a movimentação da turma da Prefeitura de Miracema, que ao lado de técnicos, pedreiros e outros mais, examinavam o local e apontavam onde seriam montados os stands, as baias, as barracas para comidas e bebida para a festa que seria realizada em maio, em comemoração ao vigésimo oitavo aniversário da cidade.

Chegava o Bitico, dono de nosso time e ex-jogador famoso na cidade, as explicações dos funcionários eram poucas para nos convencer e, de repente, chega ao local a comitiva do Prefeito Jamil Cardoso, com o próprio a frente falando e cumprimentando a todos nós com a educação que Deus lhe deu.

Quando “seu “ Jamil me olhou triste e fitando sério nos seus olhos, me perguntou: “Zebinho, o que está acontecendo, que se passa por aqui?”, este Zebinho foi por conta do meu pai, ele só me chamava assim mesmo lá em sua casa, na Rua Direita, quando encontrava com seus filhos Alexandre, Guilherme e Augusto, e não tive outra saída a não ser explicar o que estava acontecendo.

- O pessoal da Prefeitura disse que nós não podemos treinar e que está arrumando o campo para uma festa. Será que não dava para liberar, seu Jamil?

Tenho a impressão de quem estava com ele, comandando a arrumação, era o seu Marcílio Poly, que depois de consultado deu a resposta, que nós queríamos ouvir, para o prefeito, que sorrindo, como sempre, chamou este que vos fala e disse:

- Podem amarrar as chuteiras, vai ter treino sim, hoje só estamos fazendo uma pesquisa e não vamos atrapalhar os futuros craques da cidade. 

E em seguida avisamos ao Bitico e lá fomos nós, alegres e sorridentes, correr atrás da bola e sonhar com a festa que seria realizada, pela primeira vez, em nossa cidade.

Os dias passaram e finalmente chegou maio e a festa. Novidade em toda região, a Exposição Agropecuária e Industrial de Miracema foi um sucesso estrondoso, mas para nós, amantes do futebol e praticantes insistentes, a escolha do local foi a pior possível. 

O gramado do Estádio Plínio Bastos de Barros foi castigado e o lado direito, de quem ataca para o gol que dá para o Prudente de Moraes, praticamente acabou e o terreno, justamente onde deve ter ficado as baias dos animais, ficou totalmente destruído e só veio a ser recuperado após a reconstrução do velho estádio pelo Prefeito Gutemberg Damasceno já nos anos 2000.

Agora, passados 48 anos desta primeira festa, o estádio está lindo, renovado mas não tem o glamour do futebol dos anos sessenta, não tem Milton Cabeludo, não tem Vadeco, não tem Cleci, não tem Bilu, Cleto, Clóvis ou Zé Augusto; não tem o Rink, o Sereno, o Esportivo, Tupã ou Miracema FC, e, meus caros amigos, principalmente, não tem mais Bitico e nem seu time de moleques, que depois se transformou no vitorioso Vasquinho e deu origem ao melhor time do Esportivo, que me perdoem os mais antigos, de todos os tempos.

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