Rink EC ou Seleção Brasileira? Publicada em setembro de 2013
O primeiro tempo da seleção brasileira, contra a Hungria, na
última quarta-feira, me fez voltar ao tempo, e bota tempo nisto. Eu me vi
sentado nas arquibancadas do Estádio Municipal Plínio Bastos de Barros, em um
domingo de sol quente, assistindo a um dos mais brilhantes times de futebol que
vi atuar em minha vida.
O Rink, que trazia em sua formação jovens estudantes
colegiais, tinha uma vocação para vencer incrível, era raro o dia em que o time
jogou mal e perder, bem isto não era verbo conjugado por aqueles rapazes, tanto
que no dia em que perderam a primeira o time naufragou e jamais se reuniu outra
vez, nem mesmo para uma despedida.
Claro que existem algumas exceções, a zaga, por exemplo,
formada por Alvinho e Márcio, era bem melhor do que a brasileira, com Juan e
Roque Jr, enquanto os zagueiros do Rink exibiam talento e categoria, os
veteranos da CBF multiplicavam a batida de nossos corações a cada ataque
húngaro. O nosso Eduardo, goleiro galã, e barbeiro nas horas vagas, tinha a
mesma tranqüilidade do Dida, mas cá pra nós, que ninguém nos ouça, o goleiraço
do Milan teve a felicidade de jogar nos tempos modernos, onde a preparação de
um arqueiro é super detalhada.
Mas, com certeza, sem nenhuma frescura de saudosismo ou de
bairrismo, ver jogar Juninho, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Luis Fabiano, é a mesma
coisa que ver Silvinho, Emanoel, Frederico e Braizinho, que dois quartetos
fenomenais. A velocidade imposta pelos nossos jogadores na quarta-feira, que
chegou a impressionar Parreira, era a mesma que o gordo Chiquinho Maracanã
exigia dos garotos miracemenses, o talento de Ronaldinho, guardada as devidas
proporções, se compara ao Braizinho, que jogava ao estilo Tostão, toques
rápidos, inteligentes e sempre buscando o gol.
Edmilson ou Marconi? Sem dúvida alguma o nosso pistonista
era um clássico volante, bem ao estilo Falcão. Elegante, falastrão e de uma
habilidade incrível para carregar o piano do time de Chiquinho Maracanã.
Marconi passou pelo Palmeiras, preferiu ganhar dinheiro com vendas e deixou o
futebol. Sua perfeição com os pés era a mesma que exibia nas noites soprando
seu trompete de som mavioso.
Lembro-me do jogo Rink e Olaria, que trazia Nelson e Murilo,
ambos vendidos ao Flamengo meses depois. Braizinho simplesmente arrasou o time
carioca. Um futebol de tanta velocidade e com uma objetividade tão acentuada,
que o treinador Bariri não pensou duas vezes, colocou dois homens para marcar o
pequenino “Diabo”. Certo, você vai me dizer que Ronaldinho Gaúcho é o
verdadeiro Fenômeno, vou concordar contigo, mas eu seria louco se afirmasse
tudo isto se não acreditasse que esta minha história é a verdade de um cronista
que ama o futebol requintado e não apenas uma gaiatice de um contista
ficcionista.
Frederico, Emanoel e Silvinho completavam este quarteto com
tanto sincronismo que os torcedores, que sempre lotaram o municipal, parecia
não acreditar no que viam. Ficavam tão incrédulos quanto eu fiquei assistindo o
nosso selecionado contra a Hungria, perfeito em todas as suas linhas naquele
primeiro tempo fantástico, principalmente pela volúpia de se buscar o gol
adversário.
Se Juninho tem a facilidade de distribuir bolas em velocidade, o
Emanoel também a tinha, as jogadas com Frederico, pela direita, sempre
terminavam em perigo de gol ou com a bola no fundo das redes. Silvinho, um dos
maiores meias do nosso futebol, era talento nato, suas enfiadas de bola em
diagonal ou em profundidade, poucas vezes eram interceptadas pela zaga, assim
como as bolas colocadas por Kaká, sempre prá frente e buscando o gol.
Muitos de vocês têm saudades do bom jogo de bola, das
partidas disputadas com lealdade, inteligência e sem placar em branco provocado
por retrancas ridículas ou esquemas que impedem nossos jogadores desenvolverem
um espetáculo de alto nível.
Os mais vividos podem trocar este Rink por um outro time
qualquer, tenho certeza de que um torcedor alvianil, da Rua do Gás, vai me
dizer que o time tal, com aquele jogador tal foi melhor do que este meu Rink.
Outros dirão que o Americano, do enea, tinha mais qualidade,
ou o Rio Branco, do ano tal, se assemelhava ao time dos rapazes de Miracema.
Concordo plenamente, naqueles anos 60 o futebol era jogado com amor a camisa,
desprovido de tudo aquilo que se vê quando a bola rola nos gramados dos tempos
modernos.
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