A formiguinha e o piano

Leio agora, no G1, após ver manchete no Twitter, mostrando um roubo inusitado, em Belo Horizonte, me veio a memória um diálogo interessante ocorrido há alguns anos, lá na “terrinha”, que pode não ser igual ao crime dos mineiros, cuja criatividade vem com a desocupação da cabeça, livre do trabalho e certa de que a bolsa fornecida pelo governo federal virá a qualquer momento.

Se lá nas Minas Gerais os gatunos usaram “varas de pescar” improvisadas com bambus, galhos e ganchos, lá na terrinha, mais precisamente na Praça Ary Parreiras, meu amigo tentava me ensinar a domar uma formiguinha para sacar uma grana da registradora do meu avô Vicente Dutra.

- Eu tenho umas dez, de vários tamanhos, que coloco na ponta de um barbante e as danadas entram pelo buraco da registradora e pegam uma notinha para eu sair pela rua e as vezes dá até para ir ao cinema, dizia-me o filho do padeiro.

- E como é que faço para domar as formiguinhas? Perguntei já querendo aprender o truque.

- É fácil, só não pode prender muito porque senão elas morrem. Deixe-a livre e coloque na direção da gaveta que tem a nota de maior valor, se ela, principalmente a formiga cabeçuda, pegar e travar, a nota vem e você faz a festa.

Juro que tentei, mas não consegui domar as formiguinhas e nem tiver coragem de “catar’ uma grana do meu avô, afinal eu tinha tudo com ele e não ia querer derrubar meu prestígio com uma ou outra notinha de um ou dois mil réis.

Em Belo Horizonte a turma deitou e rolou. Os rapazes do alheio “pescaram” um notebook, que estava na mesa de um professor, mas não satisfeitos, desceram até a sala da direção, arrombaram a porta e fizeram a limpa nos computadores, que foram vendidos para um receptor da capital dos mineiros.

Conheci também um garçom, de um dos bares da Tijuca, do qual fiquei amigo e me desliguei quando o moço foi pego em flagrante delito pelo Seu Manoel, um português doce e amigo, quando “tocava” piano na caixa registradora do boteco, que ficava ao lado da fábrica da Brahma.

O movimento estava diferente no bar e eu entrei perguntando ao Joaquim, filho do português, o que havia acontecido e no mesmo tempo o ex-amigo gritava lá do fundo: “Foi tudo um engano... Foi tudo um engano.”

- Engano nada, diz Joaquim. Sabe o que aconteceu? Meu pai pegou o cara batendo nas teclas da registradora e tentando pegar uma grana na mão grande.

-É mentira! Disse o moço. Eu estava aprendendo tocar piano, minha irmã disse que os botões da registradora do seu Arthur são iguais ao do piano que ela toca na escola.

Tocando piano pegou. Lá na terrinha, quando o filho de algum dono de bar, restaurante ou padaria chegasse perto da caixa registradora logo um dizia: E aí, vai tocar piano?

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