Republicação: A nuvem do Polaca

E
Esta crônica foi publicada, aqui neste espaço, em dezembro/2008.

A turma lá de cima parece que está com saudades da bola e com inveja daqueles que por aqui ficaram e fazem a festa neste final de ano. Sentado em sua nuvem particular, com mulatas, samba e um campinho particular, Jair Polaca mandou uma mensagem para Milton Cabeludo o convocando para um "papo cabeça" no seu cantinho.

Cabeludo foi e levou com ele o Juarez Beiçola e outros contemporâneos. No caminho pegaram o Pernoca e o Lauro, que estavam no entorno da nuvem do Silvinho, que tinha saído para visitar o pai, Maninho, que em outra parte observava os craques que chegavam para conversar com São Pedro.

Maninho foi localizado e levado para a nuvem do Polaca, que neste momento fazia uma ligação para o Gérson Coimbra já que a coisa fugiu do controle e precisava de uma organização no reduto. Seu Gerson chegou, botou a casa em ordem e começou a delegar poderes, mas para isto precisava da ajuda do Clarindo, que não fora localizado até aquele momento.

E a notícia do encontro se espalhou rapidamente e foram chegando os craques para uma pelada triunfal. Pintinho, com seu passo lento e tranquilo, chamou o Nenenzinho, que bateu uma mensagem para o Edil e todos seguiram rumo à nuvem do Polaca na maior prosa.

Nenenzinho queria saber se depois poderia colocar a fantasia de “mulinha” e sair pelas nuvens dançando e chamando a velha turma do “Fogaréu”. Nada disto, gritou o Cosme, se quiser samba terá que convidar o Zé do Carmo também e ele está preocupado com a pelada de hoje. “Samba é para o carnaval e é, comigo mesmo. O Mocinho e o Fota já estão de sobreaviso”, disse o garoto que na terra ajudava o pai no comando da Unidos no Samba e Na Cor.

E os peladeiros foram chegando pouco a pouco, sem chuteiras, sem lenço ou documentos e o anfitrião já estava com seu livro de ouro rodando pelas nuvens, já tinha apanhado uns trocados com o Jamil Cardoso, Zé Carvalho e Nilo Lomba, seus amigos da prefeitura. E na passagem pela ala dos prefeitos o Maninho chamou o Olavo Monteiro para dar uma forcinha no meio campo de seu time, que teria, segundo ele, alguns craques da capital, levados pelo Caixa D’agua e com o aval do Luiz Linhares, que a esta altura já fazia movimentação política no local.

O trio do Rink, Silvinho Moreno, Valcir Leite e Marcone Daibes, se animou e também armou uma lista de convidados, João Moreno e seu sobrinho Joltran, dois craques das peladas do Ginásio, se apresentaram imediatamente. A pelada prometia e ao que parece já tinha gente demais e faltava um homem para apitar. Pensaram em trazer um árbitro de outra nuvem, bem neutro, mas não tinham grana para levar um destes famosos e o jeito foi entregar o comando para o Rosário Mercante, que pelo menos tem crédito e sempre foi daqueles caras sérios quando apitava nos campos de grama aqui na terra.

Dirigentes demais reunidos e Caixa Dágua queria fundar uma liga das nuvens, mas foi rechaçado pelo Luis Delco, mais novo no pedaço, que não queria um estranho no ninho e por isto foi chamar o Salim Bou-Issa para organizar a coisa, mas Altair Tostes passou rápido no espaço destinado as autoridades, bateu o martelo e decretou que a reunião seria entre colunas e o Farid Salim e seus manos José, Nacif e Jofre, cuidariam da alimentação enquanto o jovem Gustavo Rabelo cuidaria das camisas e das súmulas.

A turma se espalhava pela nuvem do Polaca, onze para cada lado e um punhado de reservas esperando vez no entorno do pedaço e aos poucos os dois treinadores foram chegando ao time correto e a festa estava pronta para ter o seu começo.

Faltou espaço aqui e na nuvem do Polaca. Muitos queriam entrar em ação e o jeito foi fazer um torneio, tipo aqueles antigos Torneio Início, e a bola rolou macia durante todo o dia de Natal.

Comentários

Gilberto Dantas disse…
Uma linda homenagem aos personagens da santa terrinha e que hoje habitam as nuvens do céu. Amei o texto, querido amigo! Um belo domingo. E falando em futebol, hoje tem o Brasil em cima da Espanha. Abraço forte do Gilberto Dantas
TADEU MIRACEMA disse…
Não tinha lido na época e agora me emocionei com tamanha perspicácia para encaixar os personagens em uma crônica maravilhosa. Crônica essa digna de um Nelson Rodrigues e um Armando Nogueira.
Adilson Dutra disse…
Menos, Tadeu, menos. Gilberto, vindo de você eu acho que estou no caminho certo. Obrigado, e deu Brasil, né mesmo?

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