Os tipos inesquecíveis do Erasmo Tostes

Estou na terrinha desde cedo, hoje é quinta-feira e aposentado tem estas prioridades, deu vontade de vir até aqui e venho, não tenho nada que me prenda a Campos, exceto quando a neta precisa de alguém que substitua a mãe na hora de cuidar da guria, no mais nada a fazer, e, seguindo o conselho do Zé Maria de Aquino, cá estou sempre que posso ou me “dê na telha”.

E é só chegar por aqui e começam as “cobranças” dos amigos sobre o que escrevi, o que vou escrever e o que tenho em pauta para as próximas colunas. Sentei para almoçar no Bar do Cabeção e o assunto, como sempre, é a coluna da semana no Dois Estados, cheguei no jardim, para aquela visita rotineira ao meu lugar favorito em Miracema, e o Sabiá pergunta: “Quando é que você vai contar minha história aqui no parquinho?”

Na Kiskina, na hora do lanche, recebo o jornal da Tia Ricarda e do Jadinho Alvim, Liberdade de Expressão, e vou logo na página onde a June Carvalho escreve suas histórias e na central, onde o Erasmo Tostes conta seus causos e histórias, claro que passando pelos demais escritores e poetas da cidade, que ilustram meu conhecimento e me enchem de alegria com seus textos excepcionais, hoje, por exemplo, li o José Geraldo Antonio, o Lalado, contar sobre os bancos do jardim e traçar um paralelo ente o ontem e o hoje.

E como sempre a inspiração chega com estas leituras, principalmente com o Erasmo, quando ele cita os vultos eminentes e pitorescos da minha Miracema. Na edição que recebi esta tarde foi bonito ver, na coluna Tipos e Fatos Inesquecíveis, o autor falando do Vicente Dutra, dos irmãos Salim (Bar Pracinha), do Zé Careca donos dos bares tradicionais da terrinha e aí eu me lembro do Amado, um daqueles que hoje chamaríamos de “pé sujo”, freqüentado por gente de sapato engraxado, chinelo de dedo, tamanco ou mesmo pés descalços.

Gostoso ouvir, quer dizer ler, o Erasmo falar do Olegário, do Garibaldi, da dona Otera e do seu Mário, padeiros que acordavam cedo para servir a comunidade com seus pães, que saiam do forno na madrugada de segunda a segunda. Muito bom relembrar do seu Pedrinho Soares, o pai da minha querida Tia Maria, em cuja chácara me fartei de chupar frutas deliciosas , e com um detalhe, retirada dos pés sem sequer passar pela água, não havia nenhum veneno que impedia nossa degustação sentado ao chão do pomar.

Saber que vamos sempre nos lembrar do Neca Solão, da Isabel dos Cachorros, do folclórico e genial Paraoquena e do Raul, que detestava ser chamado de Juquitina  é sempre muito prazeroso. E quando chegou nos farmacêuticos e dei um tempo para minha emoção, era hora de recordar do Seu Scilio Faver, qnosso “médico”, nosso protetor.

Nasse momento  me remeto aos tombos levados nas peladas do Rink, das cabeças rasgadas e dos dedos cortados nos paralelepípedos que serviam de campos para nossos “rachas”. Ah, Seu Scilio, como o senhor me salvou dos tapas do Zebinho me tratando legal e me levando para casa para me proteger. 

E por aí o Erasmo Tostes vai me levando de volta ao passado, de volta aos bons tempos e me faz também parar novamente entre os padeiros da cidade, Seu Adelino, onde o Zebinho assava os bolinhos e as broas e por lá chegava cedo para prosear com o Jorge e ficar na espera dos tabuleiros, que eram levados para casa sobre a cabeça, no exercício de equilíbrio em cima de uma bicicleta. 

E as caronas nos carros de praça, nome dado aos hoje famosos taxis? Deixava para comprar o jornal, na Banca do Seu Amaral, justamente na hora do almoço para que eu pudesse voltar na carona do Zé Barros, do Belo ou do seu Teodoreto, trio de veteranos choferes de praça e homens educados e pais de grandes amigos meus, como o Júlio, o Batista, o Quinca, o Abelardo, o Fernando e outros filhos do Belo.

Paulo Pires, alguém aí do outro lado ficou parado na Rua Direita enquanto o famoso comerciante dançava o frevo nos carnavais de Miracema? Meu bom amigo Michel Salim, meu incentivador e lojista conhecido em toda região, quanta saudade me dá. E as histórias do Napoleão, tido como o grande mentiroso da cidade, você já ouviu a mais famosa dele? Não? Então eu conto, para encerrar porque o espaço está acabando:

- Napoleão, conta uma mentira aí! 
- Não posso, a casa do Marcelino está pegando fogo e vou chamar minha turma para ajudar apagar o fogo.
Todo mundo correu e... Era mentira, e quando quiseram pegar o pedreiro no tapa ele, ironicamente, respondeu: - Ué, não pediram para eu contar uma mentira?

Depois eu conto mais. 

Comentários

Amigo Dity, neste momento estou muito longe da Santa Terrinha, e ao ler seu Papo de Botequim no início me emocionei com a lembranças de todos nossos conterrâneos muito bem relatado por você, realmente é emocionante...mas no final, rsrsrs descansando num hotel aqui em Barra de São Francisco, norte do Espírito Santo, sorri largado e muito ao relatar a última do Napoleão. Valeu amigo, continue sempre aproveitando mais esse dom que Deus te deu nos trazendo alegrias e emoções em seus comentários...abraços amigo
Adilson Dutra disse…
Grande Otto, tal qual os irmãos Vilasboas, desbravando este Brasil varonil.
Beijo no coração meu fraterno e querido amigo.

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