A Praça Dona Ermelinda


Ali, conta a história, começou tudo. O filho queria ser Padre e conversava longamente com a mãe sobre o assunto, mas a poderosa Ermelinda, como diz o Fernando Nascimento em seu samba exaltação, queria uma prova do amor do filho pelo sarcedócio, o que nunca ficou comprovado e, isto ninguém irá contar, o garoto ou rapaz, como queiram, sumiu sem deixar vestígios e Dona Ermelinda fez a doação de parte de suas terras para o vilarejo que começa a nascer ao redor da Igreja Matriz de Santo Antônio dos Brotos.

Viu, parece que sei alguma coisa sobre o início de nossa história, parece apenas, pois o que sei foi contado por amigos e lido em poucos livros que falam sobre o assunto. Mas de uma coisa podem ter certeza, a Praça Dona Ermelinda eu conheço como ninguém. Ali fiz de tudo que um miracemense podia fazer. 

Cantei em programa de calouros, com o grande Mocinho apresentando em um caminhão. Era Festa de Santo Antônio, fui primeiro lugar na categoria mirim, me lembro do premio, um copo de propaganda da Coca-Cola, que guardei até pouco tempo, deve ter se quebrado após minha mudança para Campos.

Na Praça Dona Ermelinda eu joguei futebol, como todos os da nossa geração, aqueles que não cantaram jogaram bola no Rink, cuja passagem será relembrada em outra ocasião. As peladas do Rink eram disputadíssimas, três, quatro ou cinco times eram formados e a rivalidade era tanta que o par ou ímpar era tirado pelos melhores jogadores, que faziam questão de escolher sempre os melhores, algum craque chegava atrasado de propósito justamente para ser escolhido no time do parceiro predileto.

Ali, na Praça Dona Ermelinda eu estudei, claro que no Jardim de Infância Clarinda Damasceno, mas aí é covardia. Qual foi o miracemense que não passou por lá? Você. Bem, nem tudo é perfeito na cidade de saudade, alguém tinha que estar fora. Ali, na Praça Dona Ermelinda eu briguei pela primeira vez, justamente com um amigo do peito, um irmão que eu não tive, o Gutinho, hoje o nosso Tiara, amigo dos bons e da melhor qualidade. 

Ali, na Praça Dona Ermelinda eu. Tiara e Júlio vivemos com vontade e temos hoje o orgulho de dizer que tivemos infância, juventude e por que não uma adolescência, nosso passado está enterrado naquele pedaço de terra em frente a Igreja Matriz.

Mas fiz algo de diferente na Praça Dona Ermelinda, que muitos fizeram, mas nenhum dos meus amigos de todos os dias tiveram o prazer de faze-lo. Toquei diversas retretas com a Banda Sete de Setembro, regida pelo Maestro Garcia, e com lágrimas nos olhos solei com meu piston alguns dos melhores dobrados do nosso repertório, algo que vou me orgulhar pelo resto da minha vida.

O que temos hoje na Praça Dona Ermelinda? Temos música? Temos a Banda Sete? Temos Festa? O Jardim de Infância ainda funciona? O Rink ainda recebe os garotos para uma disputada pelada? Os namorados ainda se escondem entre as árvores?

Não tem mais o Coreto, nem Neca Solão. Não tem mais as belas árvores, podadas com muito cuidado pelos jardineiros da Prefeitura. Não tem mais o romantismo e nem o Guarda Tinoco para impedir as peladas no Jardim de Infância nas tardes de feriados, sábados ou domingos. Enfim, não tem mais Adilson, Júlio, Tiara, Afonso, Ló, Scilio, Paulinho, Hércules, Nenê, e muitos outros amigos que até hoje sinto uma falta incrível. 

Comentários

É verdade , essa belíssima praça criou várias gerações, e o importante é que cada adulto de hoje tem sempre uma saudosa estória pra contar e lembrar com orgulho de uma época tão boa.
Jane Neiva

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