A HISTÓRIA DO MEU AMIGO ZEZÉ

Zezé é daqueles amigos de infância que jamais esquecerei. Temos a mesma idade e naqueles longínquos anos 50 fizemos de tudo para ganhar uns trocados para as sessões de sábado dos Cine Sete e Cine XV. Engraxávamos os sapatos de nossos clientes, na calçada do bar do Vicente Dutra, vendíamos salgadinhos da Vó Maria nas cercanias, coisa que irritava meu avô e meu pai, que diziam tirar a freguesia deles, até o dia que descobrimos que, vender amendoim na fila da cinema, era mais negócio.

Fiquei sem saber por andava o Zezé desde o Tiro de Guerra, isto lá em 1968, quando ele preferiu servir ao Exército, no Rio de Janeiro, enquanto eu ficava em Miracema no TG 217 ao lado de toda nossa turma de amigos. Por onde anda o Zezé? Vivia me perguntando.

Em 2001, em um dos últimos jogos que fiz pela Rádio Cultura de Campos, no Caio Martins, se não me falha a memória foi Botafogo x Paraná Clube, vi um moço parecido com o Zezé e perguntei:

- Você tem parentes em Miracema? E o rapaz, tímido e já com a voz embargada, me dizia quem era e que o pai dele estava na arquibancada, vendo o jogo e era capaz de eu não conhece-lo, pois saíra muito jovem da cidade.

Ele apontou e na hora reconheci aquele rosto amigo e saudoso. Gritei imediatamente e combinamos, por gestos, nos encontramos após a partida. E ao jovem perguntei o que estava fazendo ali e fiquei surpreso e feliz com a resposta.

Sou Beto, filho do Zezé, nasci no interior do Paraná (Cascavel) e estou saindo para a Coréia do Sul onde pretendo ficar alguns anos e ganhar alguns dólares e voltar prá casa após cumprir quatro anos de contrato com um time de lá.

Não tive mais notícias nem do Beto e nem do Zezé, ambos sumiram do mapa, aliás todos somem quando vão para Ásia ou Oriente Médio. Zezé guarda mágoa da cidade em que nasceu e só fiquei sabendo disto quando operei o coração, em Itaperuna, em 2009, quando recebi uma ligação internacional do meu grande amigo e companheiro dos anos 50 e 60.

Zezé falou que o filho estava com dinheiro e queria investir em Cascavel, coisa pequena, mas com objetivos futuros, no mesmo estilo que Célio Silva fez em Joanópolis, interior de São Paulo, mas cadê a coragem de chegar na cidade que foi berço de seu pai?

- Tenho medo, meu caro Penacho, lá é uma cidade estranha prá mim, não conheço mais ninguém e fico preocupado com o que possa ocorrer comigo se receber um não como resposta.

Argumentei que o prefeito era meu amigo e que poderíamos ir, juntos, até lá para conversar e convencer as autoridades ao apresentar o projeto. Porém, tem sempre um porém, Beto não se interessou e preferiu ficar na Coréia, onde casou e cria os filhos com a bela moça coreana. Voltar não está nos planos e se tiver ele jura que será para Cascavel ou para outra cidade paranaense.

Uma pena, as pessoas se espantam quando veem a dura realidade do menino pobre que se transformou em homem rico, a sociedade não o aceita e sempre há um burburinho político e preconceituoso em torno de qualquer tentativa de se estabelecer no local de nascimento, principalmente para quem saiu cedo demais e não retornou as origens.

Dois anos se passaram e agora, quando chega o momento da Festa de Maio, Miracema comemora mais um aniversário de emancipação, tenho a oportunidade de abraçar vários amigos de infância, como o Zezé, e rever as pessoas que gosto e que não vejo há alguns anos, mas a “ladainha” será a mesma de sempre: Quem está se destacando fora da cidade? Fulano ou beltrano merecem títulos que estão recebendo da comunidade? Este cara é protegido do prefeito e por isto ganhou homenagem.

Isto que espantou Zezé e tantos outros, o pré-conceito, que nada mais é do que uma simples rejeição, e o meu amigo, que um dia foi pobre e desconhecido por aqui, é rico e famoso na cidade que o adotou e velho navegante dos espaços aéreos da Europa, Ásia e África. Fique com Deus, meu amigo José Carlos Pereira dos Reis.

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