O ÁRBITRO PERFEITO

Fase decisiva do campeonato da zona rural e um empate bastava para o time do Tio Sam, da Fazenda Campo Belo, e o jogo era no campo do Primeiro de Maio, da Fazenda Piracicaba, que precisava vencer por dois gols de diferença já que perdera a primeira partida, no campo do adversário.

A liga mandou o melhor árbitro para o jogo, Agnelo Mercedes, um ítalo-brasileiro que andou apitando campeonatos importantes na zona da mata mineira e parecia ser o homem certo para este jogo decisivo e esquentado. A rivalidade era do tamanho de um Fla x Flu. O embate começou nas cores das camisas, o Tio Sam vestia o seu tradicional preto e branco, com listras verticais e o Primeiro de Maio foi prá campo com as mesmas cores, só que com listras horizontais.

Prá definir um sorteio para saber quem trocaria o uniforme. Agnelo Mercedes já mostrava autoridade e o pessoal da casa gostou quando ele não autorizou a subida da moeda e mandou o time visitante vestir outro uniforme. Como não tinha outro uniforme, time de zona rural não se dá o luxo de ter dois modelos, foi obrigado a jogar com camisas azuis, de treino, do time da casa.

Bola rolando e Agnelo Mercedes mandava na partida e o jogo, que ameaçava ser aguerrido, foi ficando nas mãos do árbitro e tudo normal. De vez em quando ele chegava ao treinador do Tio Sam e gesticulava mostrando o caminho da rua. A galera, encostada no muro e lá nas improvisadas arquibancadas, ia ao delírio com as “broncas” em cima do treinador.

No intervalo mais broncas. O jogo estava empatado (0x0) e o resultado dava a classificação para os visitantes. O time local nem foi até a casa, que servia de vestiário, preferiu ficar em campo, como fizera o Tio Sam, para continuar sentindo o clima do jogo.

Segundo tempo e, sem o sol quente, os dois times resolveram correr um pouco mais e o jogo ficou elétrico. Bola na trave do Tio Sam e no rebote o Primeiro de Maio marcou. Com 1x0 no placar o treinador local preferiu garantir o resultado e armou a retranca.

Daí em diante o pau cantou na defesa do Primeiro de Maio e Agnelo Mercedes foi à loucura, era tudo que ele queria. Falta na entrada da área. Gil Márcio cobrava e... Bola nas nuvens. Mais uma falta, do outro lado e... Lá estava Gil Márcio isolando a redondinha. Agnelo olhava o relógio e, mais uma vez, foi ao banco do Tio Sam gritar com o treinador.

Só que desta vez o repórter ouviu e caiu na gargalhada:
- Tira este camisa 10 ou mande outro bater as faltas, não dá prá segurar mais e nem inventar faltas, gritava Agnelo Mercedes com o cartão na mão.

O tempo chegava ao final e o centro avante Juca cai na área do Primeiro de Maio e Agnelo manda prá marca do pênalti. E que se apresenta para cobrar? Ele mesmo, Gil Márcio.
Agnelo foi andando e perguntou baixinho:
- E o senhor que irá cobrar?
- Sim, sou eu, por quê?
Sem pestanejar o experiente árbitro tirou o cartão vermelho do bolso e mostrou ao meia e capitão do time.
- Sem ofensas, o senhor está expulso.
Ninguém entendeu a expulsão, mas o zagueiro Pereira ajeitou a bola e cobrou com perfeição empatando a partida. Tio Sam classificado.

E enquanto isto o repórter da cidade caia na gargalhada e ninguém entendia o porquê de tanto riso. Até hoje o Primeiro de Maio aplaude Agnelo Mercedes, que fez uma exibição de alto nível e até saiu aplaudido pela torcida, coitada, que ainda não entendeu a conversa entre técnico e apitador na boca do túnel do Tio Sam.

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